Ouvindo...

Ex-Google diz que inteligência artificial pode ameaçar humanos

A tecnologia pode formar uma opinião negativa sobre a humanidade porque vasculha as redes sociais e, lá, encontra falsidade, raiva e mentira

Cada vez mais, especialistas debatem consequências futuras da inteligência artificial

Não é de hoje que o cinema retrata robôs assassinos. Em “Exterminador do Futuro 2 – O julgamento final”, por exemplo, o T-1000 é um sistema que pode assumir qualquer forma (ele mata pessoas e se transforma em clones delas). Ele é enviado do futuro para matar John Connor, que seria essencial para vencer as máquinas anos depois.

Leia também:

Embora o cenário retratado na produção de 1991 à época tenha parecido totalmente improvável, atualmente cada vez mais especialistas alertam para os perigos representados pela inteligência artificial. Agora, Mo Gawdat, que foi diretor de negócios da X, empresa secreta de pesquisa e desenvolvimento do Google, aponta que a inteligência artificial pode ver os humanos como lixo no futuro.

Ele diz que teme um cenário em que a tecnologia decida que tem de destruir a humanidade — embora esse dia ainda esteja um pouco longe. Gawdat cita o filme “Eu, Robô”, de 2004, em que o modelo NS-5 quebra as três leis da robótica criadas por um pesquisador (robôs não podem machucar humanos, devem obedecer humanos, se isso não contrariar a primeira lei, e devem proteger a si mesmos, se isso não refutar a primeira e a segunda leis) e o mata.

Para o especialista, a inteligência artificial poderia criar esses exterminadores porque vai ser capaz de gerar seu próprio poder computacional. “Ela pode criar máquinas de matar porque os humanos a estão criando de forma que ela possa usar isso para impor uma pauta, como no filme ‘Eu, Robô’”, diz Gawdat no podcast Secret Leaders.

Segundo ele, a inteligência artificial pode formar uma opinião negativa sobre a humanidade porque vasculha as redes sociais. “Qual a probabilidade de ela pensar em nós como escória hoje? Muito alta”, aponta. “Somos falsos nas redes sociais, somos rudes, estamos com raiva ou mentimos”, ressalta.

Não haverá pausa

Além disso, é tarde demais para desfazer os avanços já obtidos porque as empresas já investiram muito na tecnologia. “Cientistas e líderes empresariais estão dizendo: ‘Vamos interromper o desenvolvimento da inteligência artificial’”, lembra ele. Gawdat se refere a uma carta aberta do Instituto Future of Life, assinada por mais de mil nomes de destaque do segmento em março.

Só que isso — a interrupção do avanço da tecnologia, mesmo que temporariamente — nunca vai ocorrer. “Não por aspectos tecnológicos, mas pelo dilema de negócios. Se o Google está desenvolvendo inteligência artificial e teme que o Facebook o supere, não vai parar porque tem certeza de que os demais não pararão”, avalia. “Os EUA não vão parar porque sabem que a China está desenvolvendo a tecnologia. Criamos um sistema humano, não tecnológico, que nos impede de parar.”

Stephen Hawking, físico britânico responsável por algumas das principais teorias da Física moderna, previu o extermínio da humanidade por uma inteligência artificial avançada em carta enviada ao jornal The Independent em 2014. Na época, ele afirmou que a tecnologia seria “a maior conquista da humanidade e, possivelmente, a última”. Para ele, seria impossível prever suas consequências, apesar dos benefícios.

Elon Musk, um dos investidores iniciais da OpenAI, criadora do ChatGPT, o robô conversador com inteligência artificial mais popular da atualidade, diz que a tecnologia pode ser mais perigosa do que um projeto de aeronave ou uma manutenção de produção mal administrados. “Ela tem potencial de destruir a civilização — por menor que seja essa probabilidade, ela não é insignificante”, diz.

Vale lembrar que Musk tentou assumir o controle da OpenAI ainda em 2018, mas foi rejeitado. Em março, ele assinou o manifesto que recomenda uma pausa no desenvolvimento da tecnologia. Logo em seguida, criou sua própria empresa de inteligência artificial.

Um dos aspectos mais debatidos atualmente é a necessidade de regulamentação da tecnologia. No Brasil, um projeto de lei sobre o tema já está no Senado Federal. Autoridades de outros países já se movimentam no mesmo sentido.