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Nasa alerta para aumento de uma anomalia magnética no Brasil que pode parar seu telefone celular

Descubra o que é a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS), seu crescimento e como ela pode afetar serviços essenciais no Brasil, de satélites a redes elétricas

Arte do Observatório Nacional mostra área de abrangência da anomalia magnética

A Agência Espacial Americana (NASA) e especialistas internacionais têm alertado sobre o crescimento e deslocamento da Anomalia Magnética do Atlântico Sul (AMAS), um fenômeno natural que abrange uma ampla região do território sul-americano, incluindo o Brasil.

Embora o termo “anomalia” possa soar alarmante, ele se refere a uma diminuição da intensidade do campo geomagnético terrestre em comparação com outras áreas do planeta, um processo lento e gradual, monitorado há séculos.

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O que é a AMAS e onde ela atua?

A AMAS é caracterizada por uma “abolladura” geomagnética, ou seja, uma zona onde o campo magnético é mais fraco e menos estável. Essa condição reduz a proteção natural da Terra contra partículas solares e radiação cósmica. Atualmente, o centro da AMAS está posicionado sobre a América do Sul, afetando diretamente Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai. Observações indicam que a anomalia se intensificou e deslocou-se cerca de 20 quilômetros para o oeste.

Anomalia magnética no Brasil segue crescendo, diz relatório do governo americano | CNN Brasil

Principais serviços afectados e riscos potenciais

Embora o Dr. André Wiermann, Tecnologista Sênior do Observatório Nacional, reitere que a AMAS não representa riscos diretos para as pessoas na Terra e que seu crescimento é esperado e normal, seus efeitos são significativos para a tecnologia e a infraestrutura:

Satélites e Sistemas de Navegação: São os mais impactados. A menor intensidade do campo magnético na região da AMAS expõe satélites e sistemas de navegação a altos níveis de radiação cósmica. Essa radiação pode:

◦ Derrubar computadores de bordo.

◦ Interferir na coleta de dados.

◦ Causar anomalias em equipamentos sensíveis, como osciladores de relógios de satélites, que podem levar a tendências lineares anômalas nas coordenadas geodésicas se ignorados.

◦ A Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) monitoram essa irregularidade, e os satélites são projetados para lidar com isso, podendo até entrar em “stand-by” (modo de espera) ao passar pela AMAS para evitar danos.

• Conectividade Global e Infraestruturas Estratégicas: A persistência e o crescimento da AMAS poderiam levar a interrupções na conectividade global e afetar o funcionamento de infraestruturas estratégicas nos países abrangidos.

• Correntes Geomagneticamente Induzidas (GICs): A região da AMAS, apesar de tropical, torna o Brasil e parte da América do Sul suscetíveis a GICs. Essas correntes de alta altitude, geradas pela interação do vento solar com o campo magnético, podem induzir “correntes-imagem” na Terra e em caminhos artificiais paralelos, como:

◦ Sistemas de transmissão elétrica: Causando excitação em transformadores (levando à saturação e aquecimento), colapso de tensão, sinais distorcidos para reguladores automáticos de tensão, e introdução de harmônicos que podem sobrecarregar sistemas interligados.

◦ Sistemas telefônicos.

◦ Linhas de dutos e estradas de ferro.

◦ Essas correntes são quase contínuas e afetam a comunicação e operações de satélites.

Seu celular pode parar!

O Monitoramento e as Soluções Atuais:

Atualmente, não existem soluções para eliminar a AMAS, pois ela é resultado de processos geodinâmicos naturais no interior da Terra. A única ferramenta disponível é a observação científica contínua e a adaptação tecnológica. Agências como a NASA, os Centros Nacionais de Informação Ambiental (NCEI) e o Serviço Geológico Britânico (BGS) monitoram constantemente a anomalia para entender sua evolução e mitigar seus efeitos. Isso inclui o desenvolvimento de equipamentos com blindagem adicional e a programação de operações críticas de satélites fora das zonas de maior radiação.

O Observatório Nacional (ON) do Brasil desempenha um papel fundamental nesse monitoramento, contribuindo com dados valiosos da região da AMAS, onde há poucos dados magnéticos disponíveis. O ON opera dois observatórios modernos que fazem parte da rede internacional INTERMAGNET:

• O centenário Observatório de Vassouras (RJ), em funcionamento contínuo desde 1915.

• O Observatório de Tatuoca (PA), em Belém, que opera desde 1957.

A análise do fenômeno da AMAS não só ajuda a proteger a infraestrutura tecnológica, mas também aprofunda a compreensão dos mecanismos complexos que produzem o campo magnético da Terra e suas mudanças

Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é repórter multimídia no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Antes passou pela TV Alterosa. Escreve, em colaboração com a Itatiaia, nas editorias de entretenimento e variedades.