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‘Tô com o demônio, a fim de matar’: bandidos extorquiram familiar de jovem morto após baile

Membros da facção TCP viram uma foto em que Andrey Kayky Santos de Almeida fazia um gesto associado ao Comando Vermelho (CV); família alega que jovem não tinha vínculo com o crime

Apesar de um familiar pagar o que o bandido pediu, a vida de Andrey não foi poupada

Os criminosos que torturaram e assassinaram Andrey Kayky Santos de Almeida, de 20 anos, sequestrado após participar de um baile funk no Cabana do Pai Tomás, na Região Oeste de Belo Horizonte, nesse sábado (11), utilizaram o celular da vítima para extorquir um familiar.

Após sequestrarem Andrey, os bandidos enviaram mensagens para um contato da vítima alegando que o jovem teria uma dívida com eles.

“Era 180, eu falei que ele ia me passar 100, entendeu? Só que ele só tinha 85. Eu falei: ‘Vou segurar seu telefone, você me manda mais 70 reais aí e morreu a dívida’. Ele tá aqui do meu lado, se você quiser eu mando ele te falar qualquer coisa aí. Só que eu só vou devolver o telefone quando mandar o restante. Eu falei 70 reais morre. Vai sair por 140 pra ele. Ele me devia 180. Eu sou o certo. Ele está aqui na favela”, afirmou um dos criminosos.

Em outro áudio, o bandido segue com as extorsões.

“Ele falou que era o que tinha na conta, entendeu? Ele queria me pagar depois. Mas eu falei que não tem como, o telefone já tá na minha ‘responsa’. Eu só vou devolver quando quitar, que é o certo. Nem ir embora daqui ele vai’”, continuou.

Na terceira gravação, as ameaças pioram e o criminoso chega a dizer que “está com o demônio, a fim de matar alguém”.

“Eu já tô com o demônio mesmo, a fim de matar alguém, ele vai e me dá esse mole. Tá preso o telefone até pagar. Quando pagar eu dou ele na hora e ele te liga”, ameaçou.

A pessoa ameaçada fez um pix de R$ 70 para o celular do Andrey, que estava sob posse dos sequestradores. Ainda assim, não foi o suficiente.

Apesar das ameaças, familiares negam a possibilidade da dívida existir, pelo fato do jovem não ter nenhuma relação prévia com a Cabana do Pai Tomás. Além disso, alegam que Andrey não tinha envolvimento com o crime.

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Criminosos pararam de responder mensagens

Os bandidos também trocaram mensagens com o familiar de Andrey Kayky Santos de Almeida, para além dos áudios.

Em um primeiro momento, o criminoso afirma que sairá no prejuízo, dizendo que era “tiração” e que estava “só o ódio” e que “devia matar” o jovem.

O familiar do jovem pergunta se morreu o assunto e pede “perdão” por Andrey, dizendo que sabe que ele vacilou.

Ainda assim, o criminoso afirma que “vai ficar no preju mesmo” e que o jovem iria tomar “pelo menos um coro”.

Tais mensagens foram enviadas entre 6h37 e 6h41 da manhã.

Posteriormente, o bandido para de responder e a pessoa próxima a Andrey liga várias vezes, até que o celular do jovem pare de receber as mensagens, por volta das 07h06. Não houve mais contato entre as partes.

Ouça os áudios e veja os prints da conversa (a partir do minuto 27:04):

Tortura e assassinato

Andrey Kayky Santos de Almeida saiu com amigos para uma região do bairro Cabana do Pai Tomás conhecida como “Sala Vip”. A área é dominada por traficante do Terceiro Comando Puro (TCP).

No local, eles foram impedidos de ir embora de uma adega pelo dono do estabelecimento. Um grupo de cerca de sete homens chegou e começou a agredi-los.

Os desafetos pegaram os celulares dos amigos e viram que Andrey tinha uma foto em que fazia o gesto de número dois, associado à facção criminosa Comando Vermelho (CV). Questionado pelos criminosos, o jovem disse ser da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, localidade dominada pelo CV.

Os homens ordenaram que os amigos saíssem do local e sequestraram a vítima. Ele foi levado para um barracão desocupado na altura do km 541 do Anel Rodoviário. Lá ele foi torturado, teve os braços, pernas e crânio quebrados. Após as agressões, levou 40 tiros. O corpo foi abandonado no local.

A polícia procura pelos autores do homicídio.

Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.
Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.
Repórter policial e investigativo, apresentador do Itatiaia Patrulha.
Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.