O trecho final da Avenida Afonso Pena, que vai até a Praça da Bandeira, não estava no planejamento original da cidade.
A Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC), comandada pelo engenheiro Aarão Reis, planejou a avenida para terminar na antiga praça do Cruzeiro, atualmente chamada de praça Milton Campos.
As obras de expansão que deixaram a avenida como ela está hoje em dia foram concluídas apenas em 1972.
A ideia original era que a avenida acabasse na atual praça Milton Campos e fosse construída uma igreja no local, que seria chamada de “nova Catedral da Boa Viagem”.
Malu mora há muitos anos na região Centro-Sul e anda bastante pela Avenida Afonso Pena. Ela comenta sobre o plano de construção da igreja no local.
“Seria tudo de bom… Eu queria que construísse. Por que não construíram? A gente precisa de uma igreja aqui. Tá faltando. Frequento mais no Santo Antônio, ali na Avenida Contorno. Mas eu queria que tivesse uma igreja Católica aqui”, conta a aposentada.
O ‘ganha-pão’
O trecho final da Avenida Afonso Pena é o local de trabalho de muita gente.
Bárbara Gomes dos Santos, de 35 anos, trabalha em uma das lanchonetes mais tradicionais de Belo Horizonte, o Breik Breik Sanduíches.
Ela fica aqui no encontro da Afonso Pena com a Contorno, exatamente onde ficaria a catedral e acabaria a avenida. “No momento tem sido meu ganha-pão”, afirma Bárbara.
A atendente conta que a lanchonete é ponto de encontro de diversas tribos: “os que trabalham, os que vem passear, os que moram perto… Todo tipo de pessoa passa por aqui”, relata.
Subindo a avenida em direção à Serra do Curral, a gente chega na Praça da Bandeira, local de trabalho do taxista Sandro Vieira, de 62 anos. Ele é natural de Santa Margarida, no Leste de Minas Gerais, e trabalha no ponto há quase 30 anos.
Ao ser perguntado sobre o que a Afonso Pena significa para ele, o taxista responde: “Meu Ir e vir. Passo aí muitas vezes por dia”.
Das mudanças que ele presenciou, ele destaca negativamente a ciclovia na avenida.
“Essa pista atrapalhou muito trânsito. Congestionamento toda hora, pessoas subindo no meio-fio, porque não cabem dois carros. É a pior mudança que teve para nós nesses últimos tempos”, desabafa Sandro.
A Praça do Papa
Depois da Praça da Bandeira, a Avenida Afonso Pena acaba e começa a Avenida Agulhas Negras. Não confunda — a Praça do Papa não fica na Avenida Afonso Pena.
Neste aniversário de 127 anos de Belo Horizonte, a Praça está em reforma. Mas segue ponto de encontro e local de trabalho para muita gente.
A reportagem conversou com Renata Priscila de Souza, de 36 anos. Ela trabalha com venda de água de coco na praça há mais de dez anos.
“Eu gosto muito da região. Um ponto turístico de BH. É um ponto que me atrai também pelo questão financeira, que é que me mantém aqui. Eu acho bacana que a gente recebe gente do mundo inteiro aqui em Belo Horizonte”, conta Renata.
O office boy Flávio Marcos Cardoso, de 48 anos, é morador de Belo Horizonte e aproveita os dias livres para visitar a Praça do Papa, mesmo durante a reforma. Ele conta que aguarda ansiosamente a reabertura da praça.
“A obra afastou bastante movimento aqui. Mas eu acredito que, quando ela for reinaugurada, lá para abril ou maio do ano que vem, segundo a previsão, acho que vai voltar a bombar de novo”, afirma Flávio.
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A Afonso Pena e a Justiça de Minas Gerais
Voltando alguns quarteirões, estamos em frente ao prédio do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. E ele tem tudo a ver com a Avenida Afonso Pena.
O mineiro que dá nome à avenida foi um grande jurista. Afonso Augusto Moreira Pena, que nasceu em 1847 em Santa Bárbara, foi presidente de Minas Gerais e presidente do Brasil — sim, presidente de Minas Gerais, pois esse era o termo utilizado até os anos 1930.
A Avenida Afonso Pena é a sede da Justiça mineira desde 1912. De 1912 a 2016, foi no Palácio da Justiça, no número 1.420 da avenida, perto do Parque Municipal. Desde 2016, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais funciona no prédio do número 4001, que era a antiga sede da Telemig.
O desembargador Osvaldo Oliveira Araújo Firmo, do TJMG, com assento na 7ª Câmara Cível, destaca a ligação da Justiça de Minas Gerais com o endereço. Ele conta que “a história do Judiciário confunde-se com a Avenida Afonso Pena”.
“A história do Judiciário esteve vinculada a Avenida Afonso Pena durante muitos e muitos anos. O poder judiciário estadual não sai da Avenida Afonso Pena. Ele sobe a Avenida Afonso Pena”.