Ouvindo...

Vendedora que comprou casa própria trabalhando no Centro de BH se declara à Praça 7: ‘Ar que respiro’

As histórias de gente trabalhadora que construiu a vida no Centro de BH são parte da série ‘BH como eu te vejo’, especial da Itatiaia nos 127 anos da capital

Símbolos de uma metrópole que completa 127 anos nesta quinta-feira, 12 de dezembro, a Praça Sete e a avenida Afonso Pena ajudam a contar a história de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais que abriga mais de 2,3 milhões de pessoas. Gente simples e batalhadora que construiu e constrói a cidade que está entre as quatro melhores capitais do Brasil para se viver. É o caso da vendedora ambulante Maria Aparecida Ferreira, 52 anos.

A relação histórica entre a Praça Sete, a Afonso Pena, moradores e BH é terceira reportagem da série especial “BH Como eu Te Vejo”, na semana do 127° aniversário da capital mineira.

Natural de Teófilo Otoni, Maria veio para Belo Horizonte aos 15 anos e, desde então, frequenta a Praça Sete, onde conheceu o marido e sempre trabalhou. Ela fala com emoção e orgulho da Praça Sete e também da Afonso Pena.

“Comecei a frequentar aqui e também o Parque Municipal, mas aqui (Praça Sete) era a minha única felicidade. E vinha pensando: ‘vou trazer minha família para esse lugar’. Conheci meu esposo aqui. Ele trabalha com arte, mas sempre aqui na Praça Sete”, diz Maria, com emoção e olhos brilhando. “E se fosse para mudar qualquer coisa aqui, mudo não, meu filho. Isso aqui é o ar que respiro”, ressalta a trabalhadora, que se orgulha de conseguido comprar um apartamento vendendo pipoca na Praça Sete. “Chique”, diz.

Em 1897, quando Belo Horizonte foi inaugurada, a avenida Afonso Pena já se destacava no projeto de uma capital planejada. Há 127 anos, a avenida ia do Mercado Central (que ficava onde atualmente fica a rodoviária e se chamava Feira Permanente de Amostras) até a avenida do Contorno. A cidade cresceu e a Afonso Pena acompanhou esse processo, sendo estendida e modificada. As alterações, no entanto, nunca tiraram o protagonismo da avenida, que atualmente vai até o bairro Mangabeiras.

Outros nomes

A Praça Sete está no cruzamento com a Amazonas, outra importante avenida do Centro de BH. Projetada pelo urbanista Aarão Reis no final do século XIX, chamou, inicialmente, Doze de Outubro. Em 1922, o nome mudou para Praça Sete de Setembro. Desde então, os belo-horizontinos chamam o símbolo histórico apenas de Praça Sete.

O aposentado Vicente Dinarti Carvalho, 82 anos, é testemunha viva dessa história. Ele nasceu em Ouro Fino, no Sul de Minas, e se mudou para a capital em 1962. Vicente lembra com nostalgia de como era a praça, dos bondes e dos encontros de estudantes. Após décadas, ele continua frequentando o local. “A Afonso Pena era uma das avenidas em que eu mais transitava, fazia muitas amizades. Nessa época, não tinha esse calçadão aqui”, diz, apontando para a calçada que fica ao lado prédio que abrigou a sede do Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais e atualmente é uma Unidade de Atendimento Integrado (UAI). “Os bondinhos que passavam por aqui, atravessavam e seguiam pela avenida Brasil até o bairro Santa Efigênia. E na Floresta também tinha, na avenida do Contorno”, recorda

Leia também

Diretas Já

Aos 75 anos, Waldir Gonçalves Neves é nascido e criado em BH e tem na Praça Sete uma extensão de casa, já que mora no bairro Floresta e, há cinco décadas, vai a pé todos os dias ao Centro para jogar damas na Praça. Nesse período, testemunhou a passeata pelas “Diretas Já", movimento político da população pela volta das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil. Waldir lembra também de quando o Pirulito foi transferido para Praça Diogo de Vasconcelos, na Savassi, em 1963. O monumento retornou ao local original 17 anos depois e permanece lá até hoje. “Colocaram ele na Savassi”, recorda.

Ele reconhece que nem tudo são flores no local, mas ressalta que tem ‘muita gente trabalhadora’ na Praça Sete e fala, com convicção, que a vida dele não seria a mesma se a praça não existisse. “É o lugar onde começa Belo Horizonte. Aqui é a minha área de lazer, meu lugar para vir descansar”, diz

Arranha-céu

A Praça Sete possui, ao seu redor, imóveis que contam a história da capital mineira, como o Cine Theatro Brasil, inaugurado em julho de 1932 e que marcou de uma nova era da cultura e da arquitetura da capital mineira. Com seis andares, o prédio, projetado pelo arquiteto Alberto Murgel, foi considerado um arranha-céu para os padrões da época. Após a restauração de 2013, o edifício ganhou mais um andar.

Cleidisson Dornelas, responsável pelo espaço atualmente, destaca pontos históricos importantes relacionados ao Cine Brasil.

“O Cine Theatro Brasil já teve o status de ser o edifício mais alto de Belo Horizonte e também o maior cinema da América Latina. Demarcou, de forma muita positiva, o processo de metropolização de Belo Horizonte. Outro ponto importante é que, no mesmo prédio, você encontrava cinema, restaurante, advogados, barbeiros e bares. Hoje, isso é característica de um shopping. Claro que o Cine Theatro Brasil na década de 30, mas ele foi construído já trazendo essa marca da modernidade”, diz Dornelas, que completa:

“O fato de o Cine Brasil ficar na Praça Sete, no coração da cidade, revela a sua importância e sua principal missão, que é promover arte e cultura no coração da cidade. O Cine Brasil puxa, a partir da Praça Sete, esse processo de modernização da capital.

Comércio e Feira Hippie

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo Souza Silva, destaca que a Avenida Afonso Pena e a Praça Sete são vitais para o comércio do centro da capital. “A avenida Afonso Pena é o coração pulsante da nossa cidade. É onde tudo acontece de modo acelerado. Segundo estimativas da Polícia Militar, mais de 1 milhão de pessoas passam por sua extensão em um dia útil. A avenida é uma referência para o comércio e consumidores que circulam por ela todos os dias. Para o comerciante, é fundamental estar onde o público também está. Por isso, é uma das ruas mais requisitadas da cidade para abertura de lojas”, disse, ressaltando a Feira Hippie, que leva 60 mil pessoas à avenida Afonso Pena aos domingos.

“A avenida Afonso Pena também é onde a Feira Hippie, um dos nossos maiores atrativos turísticos, está localizada. Isso faz com que a avenida tenha ainda mais importância”.

Confira outros episódios da série BH Como eu Te Vejo:


Participe dos canais da Itatiaia:

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.
Leia mais