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Elefantes na Rodoviária de BH? Evento em 1953 marcou a história da Afonso Pena e da Itatiaia

Programa Rádio Vivo exibe a série especial ‘BH como eu te vejo’, que celebra os 127 anos de BH e relembra coberturas marcantes da Rádio de Minas na avenida Afonso Pena

“A minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta”. A famosa frase do escritor Rômulo Paes não fala - até porque nem é preciso lembrar - que no meio desse trajeto há uma Avenida: a Afonso Pena. E essa avenida larga e arborizada marca não só o Centro de Belo Horizonte, mas a história da Capital que está completando 127 anos agora em dezembro.

Desde o nascimento da cidade ela já tinha esse nome, Afonso Pena, em homenagem ao então o governador de Minas Gerais - ou melhor presidente de Minas Gerais - como era chamado na época. Afonso Pena ainda foi eleito presidente do Brasil e morreu no cargo em 1909.

A inspiração para a criação da Avenida Afonso Pena é a Avenida Champs Elysées, em Paris, onde ficavam as lojas e as instituições mais importantes da cidade.

Nesta semana do aniversário de BH o programa Rádio Vivo, com Eduardo Costa e Fernanda Viegas, exibe a série “BH como eu te vejo”, que celebra os 127 anos da Capital e relembra coberturas marcantes da Rádio de Minas na avenida Afonso Pena. Vamos percorrer os principais pontos da avenida e falar de momentos em que a Itatiaia fez e ainda faz história, sempre com a ajuda de moradores e frequentadores da avenida.

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Praça Rio Branco e Rodoviária de BH

Vamos começar do começo, é claro: a Rodoviária de Belo Horizonte e a Praça Rio Branco, que ocupam o início da Avenida, são a primeira visão da Capital Mineira para quem chega de ônibus.

É o caso do Daniel Bregunce, que há mais de 20 anos veio fazer uma entrevista de emprego e desde então trabalha na rodoviária de Belo Horizonte. Atualmente, ele é supervisor de tráfego do terminal, por onde passam milhares de pessoas diariamente.

Olhando de fora, o terminal pode não ter mudado tanto desde 1971, quando foi inaugurado. Mas por dentro, Daniel garante que as mudanças foram muitas. "É visível a mudança, salta aos olhos, né? Os equipamentos têm sofrido melhorias contínuas, né, proporcionam aos passageiros mais conforto, mais segurança. Mudou também o comportamento das passageiros, que antes vinham presencialmente às bilheterias par emissão dos bilhetes e hoje nós temos a internet, né? Outras alterações que a gente observa são as melhorias no prédio, que depois de 50 anos começou a sofrer essas melhorias para dar um conforto melhor aos passageiros, àqueles que estão chegando à capital mineira e aqueles que estão partindo também”.

Uma dessas passageiras é Helena Mitraud, de 26 anos. Ela mora em Betim, mas frequenta a rodoviária de BH há muitos anos. Helena conta que os destinos e os motivos mudaram ao longo do tempo. “Acho que é desde criança quando eu viajava com a com a minha família, né? Quando eu era criança e depois quando eu tinha uns 15 anos eu comecei a competir no taekwondo. Então eu usava a rodoviária para viajar para esses locais onde era a competição. Então eu vinha para cá para viajar. São Paulo, Rio de Janeiro. A rodoviária eu utilizo ela para estar viajando também pra cidade de Moeda, que é onde meus avós moram e eu tenho uma conexão muito forte com eles, então eu uso a rodoviária para isso”.

Ouça a reportagem na íntegra clicando abaixo:

Feira Permanente de Amostras

Mas esse ponto inicial da Afonso Pena nem sempre foi um local de encontros e despedidas. Daniel conta que antes da Rodoviária existia aqui a Feira Permanente de Amostras, que foi inaugurada na década de 30 e foi um dos prédios mais altos de BH. Além da bela torre com um relógio no topo, o prédio contava com uma amostra permanente de produtos mineiros. O grande terreno da feira passou a obrigar um terminal rodoviário em 1941, além de eventos variados.

Elefantes na Afonso Pena?

Aliás, você sabia que um desses eventos acabou dando prejuízo grande pra rádio Itatiaia por causa de um elefante? O caso é curioso e aconteceu em 1953, o ano seguinte à fundação da rádio de Minas.

Na época a Itatiaia ainda lutava para ganhar a audiência dos belo-horizontinos. O então repórter Aristóteles Atheniense, que se tornariam um jurista muito respeitado nos anos seguintes, teve uma ideia bastante inusitada: a Rádio de Minas deveria transmitir pelo rádio a apresentação de um circo, que estava montado no terreno da atual rodoviária.

Porém havia um problema: a rádio não tinha um microfone específico para esse tipo de cobertura e nem dinheiro para comprar. A solução foi pegar emprestado um modelo. O dono de uma loja de materiais elétricos só aceitou emprestar o aparelho após receber a promessa de que sua loja seria citada na transmissão, no que talvez seria um dos primeiros ‘merchans’ da história.

No dia da apresentação, o repórter se posicionou na lateral do picadeiro, esperando a cortina se abrir e os palhaços entrarem. Imagine a surpresa quando ele viu vários elefantes entrando no palco! E pior de tudo: um deles acabou pisando e esmigalhando o microfone. Por fim, a transmissão foi cancelada e a rádio teve um prejuízo duplo: teve que pagar o microfone e devolver o dinheiro recebido dos patrocinadores.

Mais de 70 anos depois, esse ponto da Avenida Afonso Pena não recebe mais elefantes, apenas os ônibus - esses sim, gigantes que levam e trazem passageiros.

* Esta reportagem especial teve produção e direção de Fernanda Rodrigues e Marina Borges, com apoio de Fernanda K. Rodrigues e Naice Dias.
* A série especial “BH como eu te vejo” é um oferecimento da Araújo.


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Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
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