Números da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Estado apontam para 723 casos registrados oficialmente entre janeiro e março deste ano. O número se aproxima dos 761 casos oficializados entre janeiro e março de 2019. Naquele ano, foram 3.740 casos no estado. Desde o início da pandemia, os registros caíram para uma média de três mil casos anuais. Ou seja, redução de 20% em relação ao último ano antes da crise global.
Os números trazem um alento: mostram uma consciência maior. É o que Ludmila Ribeiro, especialista em violência contra a mulher e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, acredita. “O que aconteceu foi uma queda durante a pandemia ou porque teve dificuldade em fazer o registro ou porque as cuidadoras principais estavam mais presentes. Agora, com a volta à vida normal, a gente volta para os patamares bastante elevados que a gente tinha em 2019", disse.
Um dos grandes problemas é a subnotificação. “Especialmente porque é uma dinâmica de violência familiar. Muitas mulheres — estou dizendo mulheres porque são as principais cuidadoras — tem dificuldade em aceitar que isso está acontecendo porque, muitas das vezes, é uma pessoa muito próxima: o pai, o avô, o irmão”, disse.
A especialista diz sobre os diversos impactos do abuso até a vida adulta.” Hoje, a gente está falando de diversos impactos. São crianças que têm rendimento escolar menor, crianças que têm mais chances de desenvolvimento de agressividade, crianças que mais são mais suscetíveis a outros tipos de violência. Sobretudo, na fase adulta como, por exemplo, violência doméstica”, acrescentou.
Ela destaca que o Brasil é um país muito violento, sobretudo, para mulheres e isso inclui meninas e jovens. “O maio laranja é um mês muito importante porque a gente tem uma enorme dificuldade de falar sobre isso nas escolas. Parte do princípio de que ensinar a criança a identificar quando ela está sendo vítima de abuso ou exploração sexual é, na verdade, chamar a atenção para questões relacionadas à sexualidade. É dizer, por exemplo, o que significa alguém porra uma partes íntimas, o que é carinho, o que não é carinho, o que é violência”, finalizou.