Renê Júnior surpreende, muda versão e diz que gari Laudemir teria sido morto por facção

A Polícia Civil e o Ministério Público, porém, afirmam que Renê desceu armado do veículo, ameaçou a equipe de coleta e efetuou um disparo direcionado

Renê Júnior durante audiência de instrução realizada no dia 26 de novembro

Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, preso pelo assassinato do gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, no dia 11 de agosto, voltou a mudar de versão sobre o crime e, em novo trecho da entrevista ao Domingo Espetacular, da Record, que teve a divulgação solicitada pela defesa do réu, ele sugere que a vítima teria sido assassinada por traficantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP), que atua no aglomerado Cabana do Pai Tomás, local vizinho ao Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de BH, onde os fatos aconteceram.

Primeiro, Renê contextualiza afirmando que, na primeira vez que esteve na Cabana do Pai Tomás, teria sido abordado por traficantes portando armas de grosso calibre. Ele ressalta que se trata da comunidade mais perigosa de Minas Gerais e um dos maiores índices criminais do Brasil, ainda que faça a ressalva de que “nem todo mundo na comunidade tem envolvimento” com o crime.

“Ela (a comunidade) é dominada por uma facção (TCP) e ali dentro é realmente muito perigoso. Quando, a primeira vista, eu vi isso (notícia da morte de Laudemir) pensei ‘isso foi uma guerra de facção’”, alegou Renê.

Segundo Renê, "é preciso fazer uma investigação na Cabana do Pai Tomás” para encontrar, em sua nova versão, o verdadeiro autor do crime.

O homem afirma, ainda, que ele e mais “outras 300 pessoas” estavam armadas no local e que os testemunhas o apontaram como autor por interesses financeiros e por medo de denunciarem pessoas da comunidade e serem mortas.

Balística apontou que tiro saiu de arma que estava com Renê

O exame de balística realizado pela Polícia Civil (PC), após o crime, apontou que arma usada no assassinato de Laudemir era da delegada Ana Paula Balbino Nogueira, esposa de Renê Júnior. A corporação emitiu nota confirmando o resultado no dia 15 de agosto, quatro dias após o crime. Leia:

“De acordo com os exames periciais realizados, a arma de fogo utilizada no homicídio, ocorrido na última segunda-feira (11), no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte, que vitimou um homem, de 44 anos, está registrada em nome da servidora da instituição. Trata-se de uma arma de fogo particular”, disse o comunicado.

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Renê alegou ‘tiro acidental’

Durante depoimento colhido dias após o crime, Renê Júnior chegou a assumir ter sido o autor do tiro que matou Laudemir, porém, alegou ter sido um disparo acidental.

O homem, que inicialmente negou ter matado o gari, decidiu assumir a autoria após a divulgação de novas provas, como, por exemplo, um vídeo dele manuseando a arma utilizada no crime poucas horas depois do ocorrido.

Na ocasião, Renê afirmou que decidiu atirar para o alto após discutir com os garis, visando intimidá-los, porém, teria disparado acidentalmente, acertando Laudemir, que não estava envolvido na discussão.

Ele alegou não ter percebido que havia atingido alguém, já que os garis correram, e que, por isso, seguiu sua vida normalmente, indo trabalhar, passear com cachorros e à academia, onde foi preso.

Por fim, disse não ter ficado sabendo da morte de Laudemir até o momento em que foi conduzido pela polícia e que, na manhã do crime, havia se esquecido de tomar um remédio psiquiátrico do qual faz uso.

Posteriormente, Renê desacreditou o próprio depoimento

Recentemente, em audiência de instrução realizada no dia 26 de novembro, Renê mudou seu depoimento inicial alegando ter assumido o crime por supostas ameaças de policiais civis.

Segundo Renê, que está preso no Presídio de Caeté, na Grande BH, policiais o coagiram afirmando que iriam acabar com a carreira de sua esposa, a delegada da Polícia Civil, Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, de 43 anos, dona da arma utilizada no crime.

“O advogado que está cuidando do caso da Ana Paula ouviu o Lázaro (Lázaro Samuel Gonçalves, antigo advogado de Renê) falando para eu não confessar, mas eu confessei. Sabe por quê? Porque escutei no corredor ‘Nós já temos o exame da balística, já foi feita a perícia do projétil, foi a arma da Ana Paula’ e se eu não confessar, ‘a gente vai acabar com a carreira dela’”, alegou Renê.

O acusado afirmou, em seguida, que por isso, iria “falar o que quiserem que eu fale”.

“O delegado ia ditando o que a escrivã ia falando e ele falava: ‘Concorda?’ e eu vou falar o quê?”, afirmou. Segundo ele, o advogado Lázaro Samuel Gonçalves é sua testemunha.

Renê alegou, ainda, não saber o nome de quem fez as ameaças. Ele apenas citou características físicas dos delegados que colheram seu depoimento.

Maic Costa é jornalista, formado pela UFOP em 2019 e um filho do interior de Minas Gerais. Atuou em diversos veículos, especialmente nas editorias de cidades e esportes, mas com trabalhos também em política, alimentação, cultura e entretenimento. Agraciado com o Prêmio Amagis de Jornalismo, em 2022. Atualmente é repórter de cidades na Itatiaia.

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