Estudo técnico e diálogo: o que pode melhorar na revitalização do Centro de BH

Envolvidos apontam o que falta para que o projeto de revitalização de imóveis do Centro de Belo Horizonte se aproximar do ideal

Praça Sete, no Centro de BH

Especialistas e movimentos sociais avaliam com cautela o projeto da Prefeitura de Belo Horizonte enviado à Câmara Municipal que prevê a revitalização de imóveis no Centro e nove bairros vizinhos, além da construção de novas unidades habitacionais para destinar para a moradia popular.

A série especial já ouviu representantes da própria Prefeitura, do comércio e do setor de construção civil, além de apresentar exemplos de iniciativa semelhante em São Paulo, cidade mais populosa do Brasil.

O doutor em Arquitetura e Urbanismo, coordenador dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil do IBMEC, André Prado, considera o projeto da Capital Mineira importante, mas tem ponderações sobre a infraestrutura para atender as pessoas que se mudarem para os novos imóveis.

“A proposta tem premissas corretas. Ela parte de um princípio que seria atrair a iniciativa privada para adensar aquelas áreas e, de alguma maneira, ter ali uma valorização imobiliária, uma melhoria das condições de moradia, comércio, infraestrutura.

Achamos que talvez precise aprofundar os estudos para termos mais certeza de que isso não vai impactar negativamente aquelas áreas, já que são bairros antigos de Belo Horizonte, que tem ruas estreitas e uma infraestrutura bastante delicada”, ponderou ele.

Segundo Prado, é importante realizar estudo dos pontos de vista de trânsito, mobilidade, impactos urbanos, para avaliação de como ficaria esse adensamento.

“Assim, não iríamos incorrer nos erros que já aconteceram em outros bairros de Belo Horizonte, que tinham uma infraestrutura adequada para uma densidade baixa e que, de repente, foram adensados e aí vemos hoje uma situação caótica em termos de trânsito”, explica.

Leia também

Para o doutor, o Bairro Buritis é um exemplo claro de adensamento que acabou sobrecarregando a infraestrutura local.

“É um bairro com uma topografia muito acidentada, ruas estreitas, acesso e saída do bairro muito estrangulados e aí o que a gente vê hoje é uma situação complicada em termos de trânsito. Então, temos que evitar os erros do passado. A gente imagina que com o devido estudo, aprofundamento técnico, a gente possa avançar no projeto. É uma ótima iniciativa da Prefeitura. A gente só precisa evoluir tecnicamente a proposta para garantir que, querendo fazer o bem, ela acaba fazendo mal”, reforçou André Prado.

Desconfiança

Já o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas cobra diálogo para que o projeto de moradia popular no Centro e entorno atinja os objetivos. É o que destaca o integrante da coordenação nacional do movimento, Manoel Vieira.

“A princípio eu estou com o pé atrás. Até pela falta de informação da Prefeitura. Não tem nenhum tipo de informação pública falando exatamente dos números, como vai se construir moradia popular, é uma frustração grande. A PBH faz um projeto desse tamanho, diz que vai resolver a moradia popular no Centro, mas em momento nenhum ela se sentou para poder conversar e questionar, perguntar qualquer coisa sobre isso com os movimentos populares que já produzem moradia popular no Centro da cidade”, apontou ele.

Segundo Manoel, as ocupações, já realizadas no Centro de BH, são um caminho para redução do déficit habitacional.

“Sim, enxergamos as ocupações como uma tática, uma política central. Todo mês tem aquelas plataformas de aluguel que lançam estudos falando sobre o preço do aluguel na cidade. Temos tido um déficit habitacional que tem crescido. Belo Horizonte diminuiu de tamanho de população no último censo.

E um dos fatores que a gente enxerga é pelo alto preço dos aluguéis, porque as pessoas não dão conta de pagar aluguel na cidade. Se você pegar a média, passa do valor do salário mínimo. Então, as pessoas acabam se mudando para cidades da região metropolitana”, argumentou Vieira.

Questionado sobre possíveis preocupações com os preços dos imóveis, aos quais a Prefeitura de Belo Horizonte prometeu impor limitação, para poderem ser acessados por pessoas de renda mais baixa, Manoel Vieira também se mostrou reticente.

“Eu tenho uma séria desconfiança. O que a gente vê ao redor do mundo é uma política que favorece a construção de unidades para turismo. Principalmente essas plataformas de aluguel, que as pessoas passam por ali, alugam, fazem a diária. Então, muitas empresas tem se especializado nisso. Inclusive, alguns desses imóveis do Centro de Belo Horizonte tem virado isso”, concluiu ele.

Eustáquio Ramos é repórter e apresentador da Itatiaia

Ouvindo...