Brasil lidera ranking global com gasto de R$ 20 bilhões em supersalários

Dados fazem parte de um estudo inédito conduzido pelo pesquisador Sergio Guedes-Reis, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD)

Estudo apontou que 53,5 mil servidores ativos e inativos recebem valores superiores ao limite constitucional no país

O Brasil é o país que mais gasta com supersalários no serviço público entre 11 nações das Américas e da Europa. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, essas remunerações acima do teto constitucional somaram R$ 20 bilhões. O valor é mais de 20 vezes maior do que o da Argentina, segunda colocada no ranking.

Os dados fazem parte de um estudo inédito conduzido pelo pesquisador Sergio Guedes-Reis, da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), encomendado pelo Movimento Pessoas à Frente e pela República.org e divulgado nesta quarta-feira (26).

Segundo o levantamento, 53,5 mil servidores ativos e inativos recebem valores superiores ao limite constitucional, atualmente fixado em R$ 46.366,19. O contingente brasileiro é quase o dobro do registrado na Argentina (27 mil) e mais de 13 vezes maior que o dos Estados Unidos.

Os supersalários representam 1,34% dos 4 milhões de servidores analisados. A amostra contempla funcionários ativos e aposentados do Executivo federal (incluindo Advocacia-Geral da União — AGU, Banco Central e Forças Armadas), dos Judiciários federal e estaduais, de 24 Ministérios Públicos estaduais, do Legislativo (Câmara e Senado), do Tribunal de Contas da União (TCU), da Defensoria Pública da União e dos governos de São Paulo e Minas Gerais.

Magistratura concentra maior volume

A magistratura é a que mais pesa nas contas: 21 mil juízes e desembargadores receberam R$ 11,5 bilhões acima do teto no período analisado. Nos Ministérios Públicos, o gasto foi de R$ 3,2 bilhões, distribuídos entre 10,3 mil integrantes.

No âmbito federal, 12,2 mil servidores receberam remunerações superiores ao limite constitucional, somando R$ 4,33 bilhões. Mais de 80% pertencem a carreiras como advogados da União e procuradores federais. Na Câmara dos Deputados, mil servidores constam na lista de supersalários.

Sete dos países analisados (Chile, Colômbia, França, Itália, México, Portugal e Reino Unido) não ultrapassam a marca de 2 mil servidores com supersalários. A Alemanha não registrou nenhum caso de pagamento acima do teto.

Desigualdade e impacto no orçamento

O estudo também relacionou o gasto com supersalários à renda dos trabalhadores brasileiros. A mediana da renda anual no país é de cerca de R$ 28 mil. Em contraste, quase 40 mil servidores tiveram renda acima de R$ 685 mil no período, ingressando no grupo do 1% mais rico da população. Entre eles, 49,8% são magistrados e 21,1% pertencem ao Ministério Público.

Para Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, os supersalários ampliam desigualdades e prejudicam a credibilidade das instituições. “O gasto bilionário impacta negativamente o orçamento público, amplia a desigualdade remuneratória e desmoraliza a legitimidade do Estado”, afirmou. Ela defende reformas administrativas e ajustes legais para eliminar a prática.

Ana Pessanha, especialista da República.org, reforça que a situação brasileira é destoante até mesmo em comparação com países desenvolvidos. “É necessário garantir remunerações justas e sustentáveis, mas não é aceitável que a sociedade banque o enriquecimento de uma elite que compromete a imagem de todo o serviço público”, avaliou.

* Informações com CNN

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