Sucesso em São Paulo, revitalização do Centro de BH visa recuperar moradores e empregos

Projeto se inspira na proposta adotada pela cidade de São Paulo, que visa atrair 220 mil novos moradores para o Centro até 2033

Prefeitura de Belo Horizonte, no Centro da capital mineira

A operação urbana proposta pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para revitalização do Centro e nove bairros vizinhos tem resultados positivos em cidades onde projetos semelhantes foram implantados no Brasil. Um dos grandes exemplos é São Paulo, que teve somente nos últimos quatro anos, a construção de 32 mil novos imóveis novos na Região Central e outros 5 mil foram revitalizados. A meta da prefeitura da capital paulista é atrair 220 mil novos moradores para o Centro até 2033.

Esse é, justamente, o objetivo de Belo Horizonte: transformar os imóveis em moradias populares no Centro, Lagoinha, Bonfim, Concórdia, Floresta, Colégio Batista, Santa Efigênia, Barro Preto e Carlos Prates e levar moradores para estes bairros.

Para se ter uma ideia da baixa ocupação populacional no Centro e entorno, são apenas 60 mil moradores, enquanto a Região Leste, por exemplo, tem 500 mil. Em São Paulo, apenas 3% da cidade está no Centro, atualmente. Outro dado importante é que nos últimos quatro anos, desde a intensificação do projeto Requalifica Centro, 64 mil empresas foram abertas nesse território.

Geração de empregos

O diretor-presidente da SP Urbanismo, Pedro Fernandes, destaca a geração de empregos que um projeto como esse proporciona.

“A gente tem a proporção de emprego por habitante em São Paulo, mais ou menos de 0.4, o que é normal, computando todos os habitantes. No centro é 1.8. O que isso significa? Há muita oportunidade de emprego para o número de moradores. Então, a gente quer reduzir essa proporção. Claro que não é reduzir abaixando o número de empresas, é aumentar o número de empresas, mas aumentar muito a densidade populacional. Isso reduz as distâncias, o tempo de deslocamento, as emissões de carbono. É entender o Centro como parte dessa ferramenta de resiliência climática e aumento de qualidade de vida da população”, explicou Fernandes.

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Pedro Fernandes apontou, ainda, que os Centros, como grandes espaços de compras, tiveram um aumento acelerado de concorrência pela expansão do e-commerce.

“Isso é uma tendência de todas as cidades. Os shoppings baratos estão no nosso celular, entregam em casa. Então, os Centros tiveram essa competição para aqueles setores. Então, a dinâmica econômica é outra. Uma nova forma de desenvolvimento econômico deve ser possível no Centro”, afirmou.

Segundo ele, essa forma de desenvolvimento econômico é resultado de pessoas que passam a permanecer no Centro.

“O Centro passa a não ser só um lugar de destino, mas também de permanência. Essa mudança de chave, de lugar de passagem, para lugar de permanência é importantíssimo. Porque, a partir das pessoas que moram, você tem um conjunto de padarias, restaurantes, farmácias, uma rede de empregos que está vinculada a outro tipo de ocupação, a ocupação de permanência, não só a ocupação de Centro de consumo”, argumentou o diretor-presidente da SP Urbanismo.

‘Projeto de Lei vem tarde’

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Raphael Lafetá, entende que a revitalização do Centro de Belo Horizonte e bairros vizinhos deveria ter ocorrido há mais tempo, porque são áreas com infraestrutura já pronta.

“Esse Projeto de Lei (PL) que foi enviado vem muito tarde. O nosso plano diretor travou muito a cidade, o desenvolvimento e criou esses problemas que a cidade tem hoje, de mobilidade, de cidade muito espalhada, pouco adensada e com o Centro abandonado. Então, esse PL traz novidades, soluções para a reocupação do Centro de Belo Horizonte. E aproveitando uma infraestrutura que já existe”, afirmou.

Segundo Lafetá, há ansiedade para a aprovação do projeto na Câmera de Vereadores de BH, apontando que ele trará força ao mercado imobiliário de Belo Horizonte, que, em sua visão, estava estagnado.

“Nós perdemos 80 mil habitantes no último censo. Nós temos que trazer essas pessoas de volta. Temos que povoar Belo Horizonte. Para onde foram esses habitantes?”, questionou.

Raphael Lafetá defende que o Projeto de Requalificação do Centro e vizinhos tenha uma alteração, acabando com a outorga onerosa para imóveis populares. Outorga onerosa é o que é pago a mais por empreendedores quando constroem com o tamanho acima do permitido em lei.

“A gente precisa de habitações de baixo valor. O cidadão brasileiro, não só o belo-horizontino, está com bolso apertado. Se você quer mesmo promover habitação de interesse social, trazer a população para perto do Centro em massa, é preciso ter uma regra que facilite a construção e que a torne mais acessível”, completou ele.

Eustáquio Ramos é repórter e apresentador da Itatiaia

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