Prestou depoimento no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DHPP), na noite desta terça-feira (25), o motoboy Lauro César Gonçalves Pereira, de 32 anos,
Dois funcionários do bar “Rei do Pastel”, também na Savassi, são os principais suspeitos de terem cometido o crime brutal. Eles já foram identificados, mas ainda não foram presos.
Em entrevista concedida antes do depoimento, Lauro, que trabalhava quando encontrou Alice, relatou o que aconteceu na noite do crime.
“Eu tava voltando de uma corrida, passando pela Avenida Getúlio Vargas, e ela estava caída no chão, com os dois rapazes do lado dela, gritando. Na hora eu nem pensei duas vezes, parei para poder ajudar ela da minha forma. Infelizmente, depois eu fiquei sabendo da notícia que ela faleceu. Infelizmente foi isso”, começou ele. Assista:
Pereira contou que ao intervir nas agressões, os homens chegaram a ameaçá-lo, porém, ele não se deixou intimidar.
“Tentaram me oprimir lá, mas ‘nós é motoboy, nós não corre do couro’, não. (...) Podia apanhar, mas não ‘dava nada não’”, afirmou.
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Motoboy se ofereceu para pagar a conta
Lauro César contou que chegou a dizer que pagaria a conta a qual os agressores diziam que Alice não tinha pago, porém, nem isso aplacou a fúria dos autores, que perguntaram se ele estaria defendendo ladrão.
“Eu falei assim: ‘Qual é o motivo de vocês terem feito isso com ela?’ ‘É que roubou, agora você vai ficar coitando safada?’ Eu falei: ‘Não, quanto que é?’ Aí ele falou: ‘R$ 22, não sei o que. Você vai pagar então?’ Aí no primeiro momento eu falei que ia pagar, só que eles continuaram gritando, xingando.
Aí acabou que eu apelei com eles também e falei: ‘Oh, velho, o que vocês quiserem aí, é isso mesmo. Só não encosta mais a mão nela, olha que vocês fizeram com a moça aí, não tem nada a ver, só porque que ela fez uma parada. Por que vocês não chamam a polícia?’”, relatou ele.
Alice estava muito machucada
Lauro contou que viu quando uma viatura da polícia passava do outro lado da avenida e acenou para os policiais, para que Alice fosse socorrida. Segundo o homem, ela estava muito machucada quando ele chegou.
“Tava bastante machucada, o rosto bastante machucado. Ela estava desorientada, não conseguia falar muita coisa”, apontou ele.
Quando os policiais chegaram na cena do crime, os agressores já haviam deixado o local.
O homem contou que não procurou a polícia de imediato por não saber que as lesões dela tinham sido tão graves a ponto dela morrer semanas depois.
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“Quando eu ajudei ela, eu fiquei tranquilo. Eu sempre paro para ajudar as pessoas na rua, sou motoboy e tal. Só que eu não sabia que tinha ocorrido dela estar internada. Eu não sabia. Para mim ela tinha ido ‘no’ hospital, mas eu não sabia que eram tão graves as lesões dela”, explicou.
Ele afirmou que só foi se dar conta dos desdobramentos do caso ao ver uma postagem nas redes sociais.
“Depois que fui ver uma postagem, eu fui e comentei com a minha esposa, falei assim: ‘Olha, eu ajudei essa moça aí’. Eu fui, comentei lá no post. Aí estava esperando alguém chamar. Eu sabia que a Polícia Civil iria chamar para EU depor ou alguma coisa assim, eu estava esperando”, completou Pereira.
Justiça
Lauro Pereira afirmou esperar justiça por Alice e demonstrou indignação pelo que fizeram com a vítima. Ele explicou, ainda, porque decidiu parar para ajudá-la.
“O que os caras fizeram é sem noção, não tem nem o que falar. Eu sempre fui dessa forma. Minha mãe sempre ensinou eu ajudar as pessoas, não teve motivo específico (para ajudá-la), eu pararia para qualquer pessoa. Primeiro eu assustei, achei que era um atropelamento, alguma coisa assim”, apontou ele.
O motoboy disse não temer os agressores, que continuam à solta. Segundo ele, pelo horário das agressões, seria difícil descrever os agressores, porém, acredita que conseguiria reconhecê-los frente a frente.