Durante o ato, participantes carregaram uma grande cruz de madeira erguida em homenagem às 19 vítimas da tragédia.
A reportagem conversou com Mauro Marcos da Silva, de 56 anos, morador de Bento Rodrigues, que falou sobre o andamento dos
“Há um desacordo no que é proposto pelas empresas. Ao longo desses dez anos, dizem que os reassentamentos estão 100% concluídos, mas basta ir lá para ver que é um canteiro de obras. Cerca de 90% das casas estão passando ou já passaram por reformas, e muitas ainda precisam ser construídas. Há pessoas que não foram arrastadas pela lama, mas que seguem sem o devido reconhecimento e reparação, sendo excluídas da comunidade”, afirmou Mauro.
Durante as homenagens, balões com sementes de girassol foram soltos no ar em memória das vítimas. Em entrevista à Itatiaia, o promotor de Justiça Leonardo Castro Maia destacou os desafios na aplicação dos recursos destinados à reparação.
“Estamos muito preocupados com o fato de o dinheiro chegar até a ponta, ou seja, à vida dessas pessoas. O novo acordo sai de uma sistemática que não funcionou, o cumprimento pela Fundação Renova, e passa agora a ser executado, em grande parte, por entes públicos. É fundamental que as pessoas acompanhem, etapa por etapa, como os recursos estão sendo divididos e aplicados”, explicou o promotor.
Tragédia em Mariana
Considerada a maior catástrofe ambiental da história do país, a mistura de rejeitos de minério, areia, água e substâncias químicas desceu desenfreada por cerca de 600 quilômetros, pela Bacia do Rio Doce, até encontrar o mar, no Espírito Santo. O volume era suficiente para encher aproximadamente 22 mil piscinas olímpicas.
Ao todo, 19 pessoas morreram, e 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério foram despejados. Um relatório do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), publicado em 2017, aponta que o número de pessoas desalojadas, desabrigadas e afetadas econômica e ambientalmente somente em Minas Gerais chegou a 311 mil.
No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão liberou uma enxurrada de lama que atingiu primeiro a barragem de Santarém, localizada logo abaixo. Com a força do impacto, Santarém transbordou e a onda de rejeitos ganhou ainda mais volume e velocidade.
Tragédia de Mariana, em 2019, deixou 19 mortes
A lama percorreu cerca de 55 quilômetros pelo Rio Gualaxo do Norte até desaguar no Rio do Carmo. Nesse trajeto, devastou o distrito de Bento Rodrigues, situado a cerca de 5 quilômetros abaixo da barragem, onde viviam aproximadamente 600 pessoas. Depois de destruir o povoado e seguir pelo Rio do Carmo, os rejeitos entraram no Rio Doce, o principal curso d’água da região, com quase 900 quilômetros de extensão.
Alguém foi condenado?
Em 14 de novembro de 2024, nove anos e 9 dias depois do rompimento da barragem, a Justiça Federal absolveu todos os réus. A juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho absolveu a Samarco e suas controladoras, a Vale e a anglo-australiana BHP Billington e também a consultoria VOGBR, além de executivos e empregados dessas empresas.
O Ministério Público Federal (MPF) acusou os réus de crimes como homicídios qualificados e lesão corporal, o que foi afastado pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região, em 2019. A juíza, ao proferir a sentença que absolveu a Samarco, concluiu que “não ficou comprovado o nexo de causalidade entre as condutas resultado”.
Segundo o advogado criminalista Paulo Crosara, as defesas deram “uma rasteira na tese acusatória”. Além disso, um elemento crucial que fortaleceu a argumentação foi a desqualificação de uma testemunha chave, ligada ao projetista da barragem.