Ouvindo...

Dez anos após tragédia de Mariana, homenagens e pedidos de justiça marcam o dia

Famílias afirmam que reassentamentos seguem inacabados e pedem mais transparência no uso dos recursos; tragédia matou 19 pessoas e despejou mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério

Dez anos após tragédia de Mariana, homenagens e pedidos de justiça marcam o dia

Dez anos após a avalanche de rejeitos da barragem de Fundão, da Samarco Mineração S.A., em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, que matou 19 pessoas e devastou diversas comunidades, esta quarta-feira (5) foi marcada por homenagens, emoção e pedidos de Justiça. Durante o dia, parentes das vítimas e moradores da região se reuniram em uma celebração na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, onde cruzes com os nomes das vítimas foram colocadas.

Durante o ato, participantes carregaram uma grande cruz de madeira erguida em homenagem às 19 vítimas da tragédia.

A reportagem conversou com Mauro Marcos da Silva, de 56 anos, morador de Bento Rodrigues, que falou sobre o andamento dos processos de reparação ao longo da última década.

“Há um desacordo no que é proposto pelas empresas. Ao longo desses dez anos, dizem que os reassentamentos estão 100% concluídos, mas basta ir lá para ver que é um canteiro de obras. Cerca de 90% das casas estão passando ou já passaram por reformas, e muitas ainda precisam ser construídas. Há pessoas que não foram arrastadas pela lama, mas que seguem sem o devido reconhecimento e reparação, sendo excluídas da comunidade”, afirmou Mauro.

Durante as homenagens, balões com sementes de girassol foram soltos no ar em memória das vítimas. Em entrevista à Itatiaia, o promotor de Justiça Leonardo Castro Maia destacou os desafios na aplicação dos recursos destinados à reparação.

“Estamos muito preocupados com o fato de o dinheiro chegar até a ponta, ou seja, à vida dessas pessoas. O novo acordo sai de uma sistemática que não funcionou, o cumprimento pela Fundação Renova, e passa agora a ser executado, em grande parte, por entes públicos. É fundamental que as pessoas acompanhem, etapa por etapa, como os recursos estão sendo divididos e aplicados”, explicou o promotor.

Tragédia em Mariana

Considerada a maior catástrofe ambiental da história do país, a mistura de rejeitos de minério, areia, água e substâncias químicas desceu desenfreada por cerca de 600 quilômetros, pela Bacia do Rio Doce, até encontrar o mar, no Espírito Santo. O volume era suficiente para encher aproximadamente 22 mil piscinas olímpicas.

Ao todo, 19 pessoas morreram, e 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério foram despejados. Um relatório do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH), publicado em 2017, aponta que o número de pessoas desalojadas, desabrigadas e afetadas econômica e ambientalmente somente em Minas Gerais chegou a 311 mil.

No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão liberou uma enxurrada de lama que atingiu primeiro a barragem de Santarém, localizada logo abaixo. Com a força do impacto, Santarém transbordou e a onda de rejeitos ganhou ainda mais volume e velocidade.

Tragédia de Mariana, em 2019, deixou 19 mortes

A lama percorreu cerca de 55 quilômetros pelo Rio Gualaxo do Norte até desaguar no Rio do Carmo. Nesse trajeto, devastou o distrito de Bento Rodrigues, situado a cerca de 5 quilômetros abaixo da barragem, onde viviam aproximadamente 600 pessoas. Depois de destruir o povoado e seguir pelo Rio do Carmo, os rejeitos entraram no Rio Doce, o principal curso d’água da região, com quase 900 quilômetros de extensão.

Alguém foi condenado?

Em 14 de novembro de 2024, nove anos e 9 dias depois do rompimento da barragem, a Justiça Federal absolveu todos os réus. A juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho absolveu a Samarco e suas controladoras, a Vale e a anglo-australiana BHP Billington e também a consultoria VOGBR, além de executivos e empregados dessas empresas.

O Ministério Público Federal (MPF) acusou os réus de crimes como homicídios qualificados e lesão corporal, o que foi afastado pelo Tribunal Regional Federal da Primeira Região, em 2019. A juíza, ao proferir a sentença que absolveu a Samarco, concluiu que “não ficou comprovado o nexo de causalidade entre as condutas resultado”.

Segundo o advogado criminalista Paulo Crosara, as defesas deram “uma rasteira na tese acusatória”. Além disso, um elemento crucial que fortaleceu a argumentação foi a desqualificação de uma testemunha chave, ligada ao projetista da barragem.

Leia também

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.
Mineiro de Urucânia, na Zona da Mata. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto (2024), mesma instituição onde diplomou-se jornalista (2013). Na Itatiaia desde 2016, faz reportagens diversas, com destaque para Política e Cidades.
Estudante de jornalismo pela PUC Minas. Trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre Cidades, Brasil e Mundo.
Allãn Passos é jornalista, nascido em Mariana, formado pela UFOP em 2012. Atuou como assessor de comunicação na Prefeitura de Mariana e na Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Entre 2015 e 2018 foi repórter aéreo de trânsito. Desde abril de 2018 é editor e apresentador do Jornal da Itatiaia Noite. Integrante do PodTudo, atua como repórter e apresenta os programas Chamada Geral e Plantão da Cidade nas férias e folgas dos titulares.