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Queda do preço do café tem dias contados por estoques baixos e tarifa de Trump

Setor cafeeiro vive momentos de incertezas e já busca novos compradores

Preço do café caiu pela primeira vez após 18 meses de alta no mercado brasileiro

O preço do café caiu pela primeira vez após 18 meses de alta no mercado brasileiro. No entanto, o setor vive um cenário de incertezas com a tarifa de adicional de 50% dos Estados Unidos, imposta pelo presidente Donald Trump.

A principal preocupação do setor é a desaceleração de um mercado com construção de mais de 200 anos. “Café não é um produto que se constrói do dia para noite e o mercado norte-americano como principal e maior consumidor do mundo é o maior comprador dos cafés brasileiros”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), Pavel Cardoso à Itatiaia.

Alívio no bolso dura pouco

Infelizmente, a baixa do “cafézinho” tão amado pelo brasileiros pode estar com dos dias contados, segundo Cardoso. Além do tarifaço, os estoques baixos do produto devido às condições climáticas dos últimos anos influenciam nas cotações.

O presidente da ABIC destaca que haverá, com a manutenção dessas tarifas, um “desarranjo mundial na cadeia de suprimentos do café". Os Estados Unidos compram 16% das plantações brasileiras que representam quase 34% do consumo norte-americano. Consomem, ao todo, 24 milhões e compram do Brasil 8.1 milhões de sacas.

“Com a tarifa mantida, os EUA buscarão outras fontes de fornecimento. Como essas outras fontes de fornecimento que já tem destino certo, os americanos deverão pagar mais para desarranjar essa estrutura comercial já montada e ficar com aquele volume pretendido por eles, que por sua vez o Brasil poderá suprir. Essa disputa por novos contratos aumentará as cotações. Esse é o sentimento do seu pelo menos no curto e médio prazo”

Somado ao tarifaço, o momento atual é de históricos estoques baixos nos países produtores e nos países consumidores.

A cadeia do café é uma cadeia de longo prazo. A geada de 2021 impactou em 2022, 2023 veio La Niña e 2024 tempestades com La Niña absolutamente controverso. Isso fez de 2021 para cá um descasamento em toda cadeia entre a demanda ofertada pelos produtores e o consumo que seguiu crescente não sendo atendido pela demanda. Por isso os estoques estão absolutamente historicamente baixos.
Pavel Cardoso, presidente da ABIC à Itatiaia

A safra atual, com a colheita quase chegando ao fim, é ligeiramente maior do que a de 2024, que indica que deve ser entre 0,5% e 1% acima. No entanto, ainda não é suficiente para suprir esses estoques baixos. Segundo Cardoso, a safra de 2026 tende a ser uma uma safra recorde se todos os efeitos climáticos colaborarem.

“Mas o sentimento de todo o setor é que a oferta muito curta e com a tensão adicional da questão das tarifas, esses preços que embora não tenha se arrefecido em bolsa nesses últimos 60 dias, possam eventualmente aumentar, em razão de uma safra nesse ano curta, ainda sem suprir e, os estoques dos países produtores e consumidores”, explica Cardoso.

Brasil busca novos compradores

Cardoso afirma que o Brasil já busca novos importadores, novos mercados. O mercado chinês já consome muito café brasileiro, mas ainda está muito longe do consumo de mercado maduro como são os Estados Unidos.

A China que consumiu 300 mil sacas de café em 2009, em 2023 consumiu 6 milhões de sacas. O Brasil exportou em 2023 1,5 milhão de sacas e em 2024 cerca de 1 milhão.

“Consumindo 6 milhões de sacas, a China tem uma média per capita de 200 g por habitante ano. Já os Estados Unidos, com 24 milhões de sacas tem uma média per capita de quase 5 kg, são 4.9 kg por habitante ano. Então, o desenvolvimento de novos mercados já acontece, mas ele demora, é uma construção que leva-se anos. Está acontecendo e independentemente dessa questão da tarifa, o Brasil já faz esse papel”, conclui o presidente.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde