Após um ano de 2025 marcado pelo ritmo intenso de abates e recordes de exportação, a pecuária de corte brasileira se prepara para uma nova fase do ciclo econômico. Especialistas preveem que a redução na oferta de animais, motivada pelo abate recorde de fêmeas observado este ano, será o principal combustível para a valorização do preço da arroba e do bezerro em 2026.
De acordo com dados do IBGE e análises da Emater-MG, 2025 registrou um fenômeno raro: pela primeira vez desde 1997, o abate de fêmeas (vacas e novilhas) superou o de machos. No segundo trimestre, o aumento foi de 16% em relação ao ano anterior, totalizando 19,35 milhões de cabeças.
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Ciclo pecuário e a virada de chave
A decisão do produtor de enviar matrizes ao frigorífico em 2025 foi estratégica: era necessário gerar caixa para custear as operações das fazendas em um cenário de custos elevados. No entanto, essa redução drástica no plantel de fêmeas gera um efeito cascata para os próximos meses.
“Com menos fêmeas disponíveis, a projeção para 2026 é uma oferta menor de bezerros. A tendência agora é de retenção de fêmeas para reprodução, o que resulta em menos carne disponível para comercialização e, consequentemente, subida de preços”, explicou Manoel Lúcio Pontes Morais, coordenador técnico de Bovinocultura da Emater-MG.
Mesmo no primeiro semestre de 2026 — período que historicamente registra maior oferta de animais e preços mais baixos — a expectativa é de que as cotações se mantenham firmes e em trajetória de valorização.
Eficiência e confinamento
Para atenuar a menor disponibilidade de animais, o setor aposta na produtividade. Devido ao melhoramento genético e à nutrição avançada, as fêmeas estão parindo mais cedo e com intervalos menores entre partos.
- Confinamento em alta: a engorda intensiva cresceu em 2025 e deve seguir favorável em 2026, beneficiada pela previsão de estabilidade nos preços dos grãos (milho e soja), principais insumos da ração.
- Redução da idade de abate: animais mais precoces ajudam a manter o fluxo de oferta mesmo com um rebanho numericamente menor.
Exportações batem recorde apesar de desafios
No mercado externo, o Brasil consolidou sua competitividade global. Mesmo enfrentando embargos pontuais, o país buscou novos mercados e registrou números impressionantes em novembro de 2025:
- Volume: 356 mil toneladas embarcadas (alta de 36,5%).
- Receita: US$ 1,87 bilhão (salto de 51,9%).
A China segue como o destino de metade do faturamento das exportações, seguida por União Europeia e Rússia. Segundo a Emater-MG, o “preço atrativo” e a eficiência sanitária brasileira garantiram que o país nunca exportasse tanto volume quanto no ciclo atual.
Para 2026, o equilíbrio entre um mercado interno mais cauteloso e uma demanda externa aquecida, somado à baixa oferta de reposição (bezerros), aponta para um ano de rentabilidade recuperada para o pecuarista brasileiro.