Ouvindo...

Carne livre de desmatamento: Brasil lança 1ª certificação global antes da COP 30

Iniciativa visa responder à crescente exigência global por produtos sustentáveis

Consumidor final poderá identificar a carne certificada por um selo intuitivo aplicado diretamente nos cortes

Às vésperas da COP 30, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) lançou nesta terça-feira (21) o Beef on Track (BoT), o primeiro sistema de certificação do mundo a atestar carne bovina livre de desmatamento. A iniciativa visa responder à crescente exigência global por produtos sustentáveis em larga escala.

“Hoje parte da produção pecuária nacional já está isenta de desmatamento e atende a requisitos de conformidade legal e social, mas não há um instrumento que dê visibilidade a isso,” explicou Marina Piatto, diretora executiva do Imaflora. “O BoT vem preencher essa lacuna, identificando a carne livre de desmatamento com um selo que permitirá seu rápido reconhecimento pelo mercado”.

China na liderança da demanda

O novo selo BoT nasce impulsionado, principalmente, pelo interesse do mercado chinês, que em 2025 foi destino de mais de 50% da carne bovina exportada pelo Brasil. Não por acaso, a Tianjin Meat Association, da China, já aderiu ao programa, comprometendo-se a comprar pelo menos 50 mil toneladas de carne com o selo BoT até junho de 2026.

A certificação também funciona como facilitadora para frigoríficos que exportam para blocos exigentes, como a União Europeia (com a Lei Antidesmatamento, que entra em vigor em 2026) e o Reino Unido.

Níveis de garantia

O BoT apresenta quatro níveis de certificação, com exigências progressivas para comprovar o desmatamento zero. Os critérios iniciais exigem a inexistência de desmatamento ilegal, trabalho análogo à escravidão e produção em áreas sob embargo, terras indígenas, unidades de conservação e territórios quilombolas. Para os níveis mais altos (Ouro e Platinum), a exigência se estende a fornecedores diretos e indiretos e à comprovação de desmatamento legal ou ilegal zero.

O consumidor final poderá identificar a carne certificada por um selo intuitivo aplicado diretamente nos cortes, onde “quanto mais alta a barra verde, mais floresta está sendo monitorada”.

Níveis de certificação:

  • BoT Bronze: fornecedores diretos livres de desmatamento ilegal e trabalho escravo.
  • BoT Prata: fornecedores diretos livres de desmatamento legal ou ilegal e trabalho escravo.
  • BoT Ouro: fornecedores diretos e indiretos livres de desmatamento ilegal e trabalho escravo.
  • BoT Platinum: fornecedores diretos e indiretos livres de desmatamento legal ou ilegal e trabalho escravo.

Monitoramento integrado e custo reduzido

O sistema do Imaflora utiliza um monitoramento, relato e verificação (MRV), baseado em protocolos já consolidados e pactuados, como o Boi na Linha (do Ministério Público Federal) e o Protocolo do Cerrado.

Segundo Marina Piatto, a compatibilização com protocolos existentes é “muito positiva, por diminuir o custo da certificação”. Frigoríficos com 95% de conformidade com o Boi na Linha ou o Protocolo do Cerrado são automaticamente elegíveis. A implementação da certificação começará em 2026.

Embora o foco da auditoria seja a cadeia de compra (frigoríficos, varejo e importadores), a certificação confere maior segurança a operações de crédito e títulos no mercado financeiro. “Mostrar de modo transparente e acessível que a carne brasileira é livre de desmatamento será uma vantagem competitiva”, concluiu Piatto.

Leia também

Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde