No Sul de Minas, em municípios como Guaranésia, Monte Santo de Minas, Arceburgo e São Sebastião do Paraíso, 38 agricultores familiares estão participando de uma espécie de pesquisa com 18 diferentes tipos de cultivares de
O projeto é anterior às enchentes extremas no Rio Grande do Sul - maior produtor nacional - que devem comprometer cerca de 20% da colheita ainda por ser feita. A informação foi passada, com exclusividade, à Itatiaia pelo
A pesquisadora da Epamig, Janine Guedes, que trabalha com o cereal há mais de 20 anos, conta que os produtores separaram uma parte dos grãos para consumo próprio, outra para vender para o programas de aquisição de alimentos do governo, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e uma terceira parte foi reservada para o plantio da próxima safra.
Ao todo foram produzidas 760 sacas de 50 kg de arroz, o que representa uma produtividade média de 5 mil quilos por hectare. “É um resultado excelente que superou nossas expectativas e nos informa que o projeto está sendo bem sucedido”, diz a pesquisadora.
Cultivar A502 lançada pela Embrapa e que resulta num arroz Agulhinha tipo 1
O próximo passo é selecionar os produtores que melhor cuidaram de seus experimentos para participarem mais ativamente da pesquisa. Eles próprios farão as avaliações de desempenho junto com Janine e os professores da UFLA com o objetivo de selecionar cultivares de arroz específicos para cada propriedade, visando um desempenho ainda melhor das plantas. Outra boa nova é a que experiência, em breve, será expandida para o Vale do Jequitinhonha e, posteriormente, para o Campo das Vertentes.
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Porque o arroz está em alta?
“Tenho mais de 40 produtores na fila de espera, interessados em participar do projeto. Não sei como vou dar conta dessa demanda, junto com a Emater e a Ufla”, preocupa-se Janine. De acordo com ela, a procura por sementes de arroz
Um dos motivos é a alta dos preços do produto. Atualmente, a saca do cereal (50 Kg) está valendo cerca de R$180, sendo que em 2023 a cotação era de R$ 90.
Outro ponto favorável ao resgate dessa cultura é a mudança na legislação, que se tornou mais rigorosa, favorecendo o arroz de sequeiro, em detrimento das áreas de arroz inundado, que emite muitos gases causadores do efeito estufa e pode poluir os rios. Atualmente, 80% do arroz brasileiro vem do Sul do país, onde o cultivo é 100% irrigado.
Cereal perdeu espaço para outras lavouras
Muitas lavouras do cereal foram substituídas pela soja
Minas Gerais já foi um grande produtor de arroz, mas nas últimas décadas a cultura perdeu espaço para outras lavouras, como soja, milho e café. “Já fomos o 3º maior estado produtor do Brasil e, hoje, ocupamos a 18ª posição. Muitas lavouras do cereal foram substituídas pela soja”, explica a pesquisadora.
Segundo ela, hoje em dia, tem crescido bastante o número de grandes propriedades que se dedicam ao cultivo do arroz de terras altas, irrigado com pivô, na região de Patos de Minas, Patrocínio e Unaí. “Eles fazem rotação de culturas, utilizando a palhada do arroz que tem bastante nitrogênio e é benéfica para o solo. A maioria utiliza a cultivar A502 lançada pela Embrapa e que resulta num arroz Agulhinha tipo 1, da melhor qualidade”, contou.
Entenda o que é um ‘arroz de terras altas’
Engenheira agrônoma, mestre pela Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, e doutora pela UFLA, Janine explica que o “arroz de terras altas” nada tem a ver com a topografia da região e sim com a forma de cultivar. É que antes só existiam cultivos de ‘terras baixas’, ou seja, plantadas dentro d’água, como é a produção do Rio Grande do Sul que, hoje, abastece 80% do país. Mas, nos últimos anos, foram feitos melhoramentos genéticos e lançadas novas cultivares que suportam bem a plantação sem irrigação. E é aí que entra o projeto em parceria com a Emater e UFLA.
Saiba mais
- O arroz plantado entre as linhas do café serve como proteção contra pragas e doenças
- A implantação de Unidades Demonstrativas no sul de Minas faz parte do Programa de Melhoramento Genético de Arroz de Terras Altas de Minas Gerais, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)
- Em Minas, são produzidas, em média, 10,3 mil toneladas de arroz numa área de 3,2 mil hectares.