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Cresce interesse e incentivos ao cultivo de arroz no estado; entenda

Entre os motivos estão a alta no preço da saca que saltou de R$ 90 para R$ 180, do ano passado pra cá; mudança na legislação que favorece a tecnologia de produção adotada no estado e programas de incentivo do governo do estado

Produtores de arroz do sul de Minas que têm ajudado a testar novas cultivares

No Sul de Minas, em municípios como Guaranésia, Monte Santo de Minas, Arceburgo e São Sebastião do Paraíso, 38 agricultores familiares estão participando de uma espécie de pesquisa com 18 diferentes tipos de cultivares de arroz de sequeiro em consórcio com as lavouras de café. A iniciativa, que envolve Emater-MG, Epamig, Ufla e Embrapa Arroz e Feijão, teve a primeira safra colhida no mês de março e foi um sucesso.

O projeto é anterior às enchentes extremas no Rio Grande do Sul - maior produtor nacional - que devem comprometer cerca de 20% da colheita ainda por ser feita. A informação foi passada, com exclusividade, à Itatiaia pelo presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira.

A pesquisadora da Epamig, Janine Guedes, que trabalha com o cereal há mais de 20 anos, conta que os produtores separaram uma parte dos grãos para consumo próprio, outra para vender para o programas de aquisição de alimentos do governo, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e uma terceira parte foi reservada para o plantio da próxima safra.

Ao todo foram produzidas 760 sacas de 50 kg de arroz, o que representa uma produtividade média de 5 mil quilos por hectare. “É um resultado excelente que superou nossas expectativas e nos informa que o projeto está sendo bem sucedido”, diz a pesquisadora.

Cultivar A502 lançada pela Embrapa e que resulta num arroz Agulhinha tipo 1

O próximo passo é selecionar os produtores que melhor cuidaram de seus experimentos para participarem mais ativamente da pesquisa. Eles próprios farão as avaliações de desempenho junto com Janine e os professores da UFLA com o objetivo de selecionar cultivares de arroz específicos para cada propriedade, visando um desempenho ainda melhor das plantas. Outra boa nova é a que experiência, em breve, será expandida para o Vale do Jequitinhonha e, posteriormente, para o Campo das Vertentes.

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Porque o arroz está em alta?

“Tenho mais de 40 produtores na fila de espera, interessados em participar do projeto. Não sei como vou dar conta dessa demanda, junto com a Emater e a Ufla”, preocupa-se Janine. De acordo com ela, a procura por sementes de arroz aumentou consideravelmente nos últimos dois anos e também por cursos e informações a respeito do segmento.

Um dos motivos é a alta dos preços do produto. Atualmente, a saca do cereal (50 Kg) está valendo cerca de R$180, sendo que em 2023 a cotação era de R$ 90.

Outro ponto favorável ao resgate dessa cultura é a mudança na legislação, que se tornou mais rigorosa, favorecendo o arroz de sequeiro, em detrimento das áreas de arroz inundado, que emite muitos gases causadores do efeito estufa e pode poluir os rios. Atualmente, 80% do arroz brasileiro vem do Sul do país, onde o cultivo é 100% irrigado.

Cereal perdeu espaço para outras lavouras

Muitas lavouras do cereal foram substituídas pela soja

Minas Gerais já foi um grande produtor de arroz, mas nas últimas décadas a cultura perdeu espaço para outras lavouras, como soja, milho e café. “Já fomos o 3º maior estado produtor do Brasil e, hoje, ocupamos a 18ª posição. Muitas lavouras do cereal foram substituídas pela soja”, explica a pesquisadora.

Segundo ela, hoje em dia, tem crescido bastante o número de grandes propriedades que se dedicam ao cultivo do arroz de terras altas, irrigado com pivô, na região de Patos de Minas, Patrocínio e Unaí. “Eles fazem rotação de culturas, utilizando a palhada do arroz que tem bastante nitrogênio e é benéfica para o solo. A maioria utiliza a cultivar A502 lançada pela Embrapa e que resulta num arroz Agulhinha tipo 1, da melhor qualidade”, contou.

Entenda o que é um ‘arroz de terras altas’

Engenheira agrônoma, mestre pela Embrapa Arroz e Feijão, de Goiás, e doutora pela UFLA, Janine explica que o “arroz de terras altas” nada tem a ver com a topografia da região e sim com a forma de cultivar. É que antes só existiam cultivos de ‘terras baixas’, ou seja, plantadas dentro d’água, como é a produção do Rio Grande do Sul que, hoje, abastece 80% do país. Mas, nos últimos anos, foram feitos melhoramentos genéticos e lançadas novas cultivares que suportam bem a plantação sem irrigação. E é aí que entra o projeto em parceria com a Emater e UFLA.

Saiba mais

  • O arroz plantado entre as linhas do café serve como proteção contra pragas e doenças
  • A implantação de Unidades Demonstrativas no sul de Minas faz parte do Programa de Melhoramento Genético de Arroz de Terras Altas de Minas Gerais, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)
  • Em Minas, são produzidas, em média, 10,3 mil toneladas de arroz numa área de 3,2 mil hectares.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.