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Imunoterapia, exercício físico e inteligência artificial moldam o futuro dos tratamentos contra o câncer

Em entrevista, oncologista destaca avanços na oncologia clínica e aponta caminhos promissores para melhorar a sobrevida e qualidade de vida dos pacientes

Inteligência artificial pode revolucionar os tratamentos contra o câncer, segundo médico

A cidade de Chicago, nos Estados Unidos, sediou entre 30 de maio e 3 de junho a Reunião Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), considerado o principal congresso mundial da especialidade. O evento reuniu médicos, pesquisadores, pacientes e representantes da indústria farmacêutica para discutir avanços no tratamento do câncer, incluindo o uso de inteligência artificial (IA), imunoterapia e a influência da atividade física na recuperação dos pacientes.

Em entrevista, ao site de notícias Infobae, Matías Chacón, chefe de Oncologia do Instituto Alexander Fleming (IAF) e diretor acadêmico do Instituto Missioneiro do Câncer, ambos da Argentina, explicou que a imunoterapia, por exemplo, ganhou destaque por demonstrar eficácia em diferentes tipos de câncer, ao reforçar o sistema imunológico para atacar células tumorais.

“Isso mudou a história do câncer”, disse o médico. “Antes, acreditava-se que cada órgão tinha um tumor específico que exigia um tratamento único. Agora sabemos que o sistema imunológico atua de maneira semelhante em vários órgãos, permitindo o uso dos mesmos medicamentos para diferentes tipos de câncer”.

Um exemplo prático está no uso de imunoterápicos. “Graças a isso, pacientes com melanoma metastático, antes considerados incuráveis, agora têm mais de 50% de chance de estarem livres da doença após dez anos”

Outro estudo apresentado no congresso envolveu 900 pacientes com câncer de cólon em estágios 2 e 3, operados previamente. Metade deles participou de um programa de exercícios físicos durante três anos.

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“O grupo que praticou atividade física teve 10% mais chance de cura”, destacou Chacón, mencionando resultados semelhantes em pesquisas sobre câncer de mama e útero. “Evitar o sedentarismo aumenta as chances de cura e ajuda a prevenir o sobrepeso, um fator de risco para o câncer”.

Também foram compartilhados avanços nos tratamentos de câncer de esôfago, estômago, cólon, melanoma e colo do útero. “Essas descobertas melhoram as estatísticas tanto para pacientes com chance de cura quanto para aqueles em busca de mais tempo e qualidade de vida”.

O câncer de mama, por sua alta incidência, tem sido objeto de mais de 500 estudos recentes, segundo o especialista. As pesquisas focam em tecnologias que identificam e atacam proteínas específicas das células tumorais, o que torna o tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais.

Sobre a inteligência artificial (IA), Chacón avalia que ela tem papel relevante no apoio ao diagnóstico e à análise de imagens, mas com limitações. “A IA é muito útil em diversos campos da medicina, mas não substitui o especialista nem fornece ao paciente as informações personalizadas de que precisa. A IA fala de médias, mas o paciente não é um número, é um indivíduo particular”.

Ele ressalta, ainda, que a falta de registros unificados de pacientes oncológicos na Argentina, e em muitos outros países, é um obstáculo à aplicação mais ampla da IA no sistema de saúde.

Ao final da entrevista, Chacón comentou a percepção de que o número de casos de câncer está crescendo.

“Não. Em 1950, a chance de desenvolver câncer era de uma em oito pessoas. Hoje, em regiões desenvolvidas, essa probabilidade é de uma em três ou quatro. Mas, globalmente, a média é de uma em sete. Essa diferença existe porque, em regiões como a África, as pessoas ainda morrem mais cedo por outras causas, como fome ou infecções”, explicou.

“Há mais câncer porque vivemos mais. As melhorias em saneamento, vacinação, antibióticos e outras intervenções prolongam a vida e, com mais tempo, aumenta também o risco de desenvolver a doença”.

Jornalista graduado com ênfase em multimídia pelo Centro Universitário Una. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Antes, trabalhou na Revista Encontro e nas agências de comunicação FBK e Viver