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Menopausa e gordura no fígado: entenda por que mulheres devem redobrar atenção a partir dos 40

Queda do estrogênio favorece acúmulo de gordura visceral e hepática, aumentando risco de doenças silenciosas como a esteatose hepática

Menopausa e gordura no fígado: entenda por que mulheres devem redobrar atenção a partir dos 40

Com a chegada da menopausa, as mulheres enfrentam diversas mudanças hormonais e metabólicas que vão além dos sintomas clássicos como calorões e alterações de humor. Uma delas, ainda pouco discutida, é o aumento do risco de desenvolver esteatose hepática — a popular “gordura no fígado”. Segundo médicos, a condição é silenciosa e muitas vezes subestimada, podendo evoluir para quadros mais graves como fibrose, cirrose e até câncer hepático.

A explicação está na queda do estrogênio, hormônio que atua como um protetor metabólico durante a vida reprodutiva. “Quando o estrogênio começa a diminuir, geralmente por volta dos 45 anos, o metabolismo da glicose e do colesterol sofre alterações significativas”, explica a ginecologista e nutróloga Alessandra Bedin Pochini, do Hospital Israelita Albert Einstein. Essa mudança favorece o acúmulo de gordura visceral — mais inflamatória e associada ao surgimento de doenças como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares e a própria esteatose hepática, afirma ela.

Segundo a especialista, o período de maior risco para o desenvolvimento da ‘gordura no fígado’ ocorre durante a transição para a menopausa — cerca de três anos antes da última menstruação e até dois ou três anos depois. Nessa fase, é comum a perda de massa muscular e o ganho de gordura abdominal. “É nesse momento que a esteatose aparece com mais frequência e tende a evoluir com maior gravidade”, alerta Bedin.

Estudos internacionais indicam também que mulheres pós-menopausa apresentam uma prevalência 20% maior da doença em comparação às ainda em fase reprodutiva. Estima-se que cerca de 30% das mulheres no mundo tenham algum grau de ‘gordura no fígado’, com pico de incidência entre os 60 e 69 anos.

Sintomas discretos dificultam diagnóstico

Um dos principais desafios é o caráter silencioso da doença. Segundo a médica, sintomas como cansaço, desconforto abdominal leve ou alterações discretas em exames laboratoriais podem passar despercebidos. “Muitas mulheres só recebem o diagnóstico por acaso, durante um check-up de rotina. E frequentemente escutam ser ‘somente uma gordurinha no fígado’, atrasando o tratamento”, comenta a médica.

A especialista destaca que o aumento nos diagnósticos está ligado ao avanço nas discussões sobre menopausa e obesidade. Novos medicamentos para perda de peso, como a semaglutida, vêm mostrando efeitos positivos no controle da esteatose hepática ao melhorar o metabolismo como um todo.

Reposição hormonal pode ser aliada

A terapia de reposição hormonal (TRH) também pode ajudar, especialmente se iniciada na chamada “janela de oportunidade” — nos primeiros dez anos após a última menstruação. “Depois desse período, o estrogênio pode deixar de ter efeito protetor e até aumentar o risco de doenças cardiovasculares”, explica Bedin.

Segundo estudos, quando bem indicada, a TRH ajuda a reduzir a gordura hepática, melhora a sensibilidade à insulina e regula os níveis de colesterol e glicemia. No entanto, ela sozinha não resolve o problema. O tratamento mais eficaz combina mudanças no estilo de vida, controle do peso e, quando necessário, medicamentos.

Monitoramento deve começar aos 40 anos

Por ser uma doença que se desenvolve lentamente, a esteatose hepática pode estar presente por anos antes que os primeiros sintomas apareçam. “A condição geralmente começa cinco a dez anos antes de qualquer sinal clínico”, ressalta a médica, que defende um olhar mais amplo para a saúde da mulher a partir dos 40 anos.

“Não basta apenas fazer o papanicolau ou a mamografia. É essencial monitorar o fígado, o colesterol, a glicemia e outros marcadores metabólicos”, afirma. A boa notícia é que, nos estágios iniciais, a gordura no fígado é reversível. “Quanto antes for identificada, maior a chance de evitar complicações. Deixar evoluir é sempre o pior cenário”, finaliza Bedin.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), já trabalhou na Record TV e na Rede Minas. Atualmente é repórter multimídia e apresenta o ‘Tá Sabendo’ no Instagram da Itatiaia.