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Juliana Marins: o que a psicologia diz sobre quem segue pessoas após a morte nas redes sociais?

Perfil de Juliana Marins no Instagram ganhou número considerável de seguidores; especialista explica processo do luto, cura e comportamento nas redes sociais

Juliana Marins foi encontrada sem vida ontem

A morte de Juliana Marins, de 26 anos, brasileira encontrada após quatro dias na região do vulcão Rinjani, na Indonésia, gerou grande comoção nas redes sociais. E, de ontem para hoje, o perfil da publicitária no Instagram ganhou um número considerável de seguidores.

Do fim de semana para cá, uma corrente de apoio e esperança se formou para que Juliana fosse resgatada com vida. No entanto, na tarde de ontem, a família de Juliana informou que ela havia sido localizada, porém não resistiu.

Foram quatro dias sem alimento, água e de exposição a temperaturas negativas. Após o corpo ser encontrado, o perfil de Juliana Marins ganhou mais de 300 mil seguidores, e o número não para de crescer.

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Alexander Bez, psicólogo especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM) e em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA), explica por que tal comportamento ocorre.

Confira entrevista:

  1. O período de luto pode ser sentido por quem não conhece a pessoa que faleceu? Como passar por este processo?

    “Sim, pode. O luto não está restrito apenas a laços diretos ou familiares. Ele também pode surgir quando uma história desperta identificação emocional, como foi o caso da Juliana. A angústia coletiva, a comoção, o suspense diante da espera por notícias... Tudo isso gera um envolvimento emocional que, por mais indireto que seja, ativa em nós sensações reais de perda. A sensação da ausência, mesmo sem convivência, pode ser estarrecedora dentro do ponto de vista emocional. Lidar com o luto, mesmo nesses casos, é um processo complexo que exige tempo, paciência e um ambiente emocional seguro. É fundamental reconhecer as emoções, se permitir sentir, sem se culpar por isso. Ajudar-se emocionalmente passa também por respeitar o impacto que determinada situação teve em você.”

  2. Depois da morte de Juliana, ela não para de ganhar seguidores. O que a psicologia explica sobre esse comportamento?

    “Esse tipo de comportamento tem se tornado comum diante de perdas públicas. É uma forma simbólica de ‘se manter próximo’, de criar uma conexão com a pessoa que se foi. É como se aquele ato de seguir o perfil fosse um gesto de afeto, de despedida ou até mesmo de homenagem. Em alguns casos, também representa uma forma de negação da perda — um desejo inconsciente de manter viva a presença da pessoa no nosso cotidiano digital. Do ponto de vista psicológico, é também uma tentativa de elaborar o luto em meio ao caos emocional que ele gera.”

  3. O ocorrido com Juliana Marins também gerou sentimentos de revolta e impotência. Como lidar com esses sentimentos e evitar a sensação de “culpa” por não conseguir fazer nada diante da situação?

    "É uma questão muito dolorosa, e ao mesmo tempo muito cruel para quem sente. Quando lidamos com situações que fogem do nosso controle, é natural que apareçam sentimentos de frustração, revolta e até culpa. A mente tenta encontrar respostas — e quando não encontra, cria mecanismos compensatórios, como a culpa. Esses sentimentos, quando não acolhidos, podem evoluir para manifestações psicossomáticas: transtornos ansiosos, depressivos, alimentares. Por isso, é importante reconhecer que nem sempre temos controle sobre os acontecimentos. E isso não diminui nossa empatia ou humanidade. O que podemos fazer, sim, é cuidar da nossa saúde emocional, falar sobre o que sentimos e, se necessário, procurar ajuda.”

  4. Quando se torna recomendável buscar auxílio psicológico?

    “Sempre que a dor da perda — direta ou indireta — começa a afetar sua rotina, seu sono, sua alimentação, suas relações, é o momento de procurar auxílio. Há uma letargia psicológica que pode se instalar, paralisando a pessoa emocionalmente. Ter consciência de que a ajuda profissional é não só útil, como necessária, é um passo importantíssimo. A terapia oferece um espaço de acolhimento, onde a dor pode ser elaborada com segurança e orientação. Lembrando que a reinvenção e a readaptação fazem parte do processo emocional de cura. Não significa esquecer, e sim transformar essa dor em algo que nos mova, e não que nos paralise.”

  5. Algo que gostaria de esclarecer ou acrescentar?

    “Sim. A jornada do luto é única para cada um. Não existe certo ou errado na forma de sentir, desde que não haja autodestruição. A melhor forma de se preparar para os momentos de saudade é viver intensamente o presente, criar lembranças boas e significativas. E se você está sentindo demais — mesmo sem conhecer pessoalmente quem partiu — não minimize isso. Seu sentimento é legítimo. Em um mundo tão acelerado e digital, permitir-se sentir com profundidade é um ato de coragem. E, às vezes, de cura.”

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.