Um estudo publicado na revista científica Alzheimer’s & Dementia apontou que, no futuro, exames oftalmológicos de rotina poderão revelar sinais precoces de Alzheimer.
Segundo a geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, o estudo foi realizado em camundongos com predisposição genética à doença. Ele revelou que as alterações incluem estreitamento de artérias, dilatação de veias, tortuosidade vascular e redução da densidade dos vasos retinianos.
“Essas mesmas alterações foram identificadas no cérebro desses animais, indicando que a retina pode refletir, de forma mais acessível, processos patológicos semelhantes aos do sistema circulatório do sistema nervoso central. Com o avanço da tecnologia, esses sinais poderão ser detectados por meio de exames de rotina, como a tomografia de coerência óptica (OCT) e a angiografia por OCT (OCTA), sem necessidade de procedimentos invasivos”, explicou.
Caso seja comprovada a mesma eficácia em humanos, essa nova abordagem poderá beneficiar os pacientes, principalmente por possibilitar o diagnóstico precoce do Alzheimer.
“A detecção antecipada da doença abre a oportunidade para intervenções em estágios iniciais, quando ainda é possível adotar estratégias para retardar a progressão do quadro e preservar a autonomia funcional do indivíduo”, explicou a especialista.
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“Além disso, seria uma metodologia não invasiva, mais acessível e de baixo custo, o que facilitaria a sua incorporação na rotina de atendimento oftalmológico. Isso significa que, com a comprovação dos dados em humanos no futuro, exames de vista feitos regularmente poderiam funcionar como ferramenta de triagem populacional, direcionando os pacientes com sinais de risco para avaliação neurológica especializada”, apontou.
Vale lembrar que, atualmente, o diagnóstico do Alzheimer é principalmente clínico, baseado em avaliação médica detalhada e testes neuropsicológicos. Exames complementares também podem ser solicitados para afastar outras doenças que também causam perda de memória.
“Inicialmente, o médico realiza entrevistas com o paciente e familiares para entender a história dos sintomas de esquecimento, seguido por testes cognitivos padronizados que avaliam memória, atenção, linguagem e outras funções. Em casos de dúvida diagnóstica ou para confirmação, podem ser solicitados exames de imagem, como a ressonância magnética cerebral e a tomografia por emissão de pósitrons (PET), além de exames laboratoriais específicos, incluindo punção lombar para análise do líquido cefalorraquidiano. Embora esses métodos sejam eficazes, eles são muitas vezes caros, invasivos e de acesso limitado. Por isso, a busca por alternativas diagnósticas mais acessíveis, como os exames de retina, representariam um avanço relevante”, disse a médica.
Outro fato que precisa ser lembrado é que há, sim, relação entre alterações oculares e a doença de Alzheimer: pesquisas mostram que pessoas com Alzheimer apresentam afinamento da camada de fibras nervosas da retina e alterações nos vasos sanguíneos retinianos, como calibre irregular e fluxo sanguíneo reduzido, apontou a geriatra.
“Além disso, estudos observacionais já indicaram que algumas doenças oftalmológicas, como a degeneração macular relacionada à idade, o glaucoma e a retinopatia diabética, podem estar associadas a um maior risco de declínio cognitivo. Isso não significa que tais doenças causam Alzheimer, mas que compartilham mecanismos fisiopatológicos comuns, como alterações vasculares e neurodegenerativas, que tornam o olho uma janela para o cérebro”, finalizou a médica.