Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou que o custo dos alimentos afeta diretamente o consumo de dietas saudáveis para a população mais vulnerável. O estudo mostra que os alimentos mais saudáveis são mais caros que os menos saudáveis e os preços vêm subindo ao longo dos anos.
O preço é um dos fatores cruciais na hora de fazer o supermercado do mês. De acordo com a Doutora em Saúde Pública pela UFMG, Thaís Caldeira, uma alimentação saudável é rica em alimentos de origem vegetal, com uma maior participação de grãos integrais, do arroz e feijão, que seriam grupos de cereais e leguminosas. No entanto, esses
“Muitas pessoas até querem consumir de forma mais saudável, mas hoje a gente esbarra na questão de preços de alimentos. A cada semana que a gente vai no sacolão, é mais difícil de comprar frutas e hortaliças, porque elas têm aumentado o preço, então fica nesse cenário que a gente indica o consumo dessa alimentação saudável, mas ao mesmo tempo existe essa barreira financeira para acessar essa dieta, que é mais saudável e mais sustentável”, afirma a pesquisadora.
Aumento do custo
Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que os preços globais dos alimentos aumentaram 11% em 2022, o que tornou uma
De acordo com a pesquisadora, além dos preços altos, a falta de tempo, resultado de uma escala de trabalho longa e de muito tempo gasto no transporte público, também influencia na escolha da alimentação. Thaís Caldeira explica que os alimentos ultraprocessados, por exemplo, são mais fáceis de serem consumidos, estão em lanchonetes e podem ser consumidos em qualquer lugar.
“Além de não ter o acesso financeiro para comprar um alimento saudável, tem a questão também de que o trabalhador chega em casa muito cansado e acaba optando por um alimento mais fácil de ser produzido, mais rápido, ou que tá pronto, como o biscoito, bolacha, um bolo pronto, um salgadinho, um refrigerante, acaba sendo mais acessível também nesse sentido”, afirma a doutora em Saúde Pública.
O estudo da UFMG baseou no consumo atual da população, em dietas baseadas nas recomendações do EAT-Lancet e em dietas baseadas nas recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira. Com isso, os pesquisadores notaram que grãos e vegetais ricos em amido (25,4%), alimentos ultraprocessados (22,5%), alimentos proteicos – como aves, frutos do mar, ovos, leguminosas e oleaginosas – (13,8%) e carne vermelha (10,5%) representaram aproximadamente 70% das calorias na dieta atual.
“O que a gente observa de preços dos alimentos é que pra se ter uma dieta mais saudável se gasta mais. A gente fez os estudos mostrando que uma dieta de alto custo, por exemplo, ela teria mais alimentos saudáveis, como frutas, hortaliças, peixes, nozes, que são recomendados. No entanto, elas estavam presentes nas dietas de alto custo. Embora essas dietas também tinham outros alimentos que hoje não são tão recomendados, como as carnes vermelhas, açúcar, muitos produtos lácteos, produtos derivados de origem animal, quando a gente olha as dietas de baixo custo, a gente vê uma grande participação de óleos vegetais e uma pequena participação de carnes vermelhas, desses produtos de origem animal, mas principalmente também de frutas e hortaliças”, explica Thaís Caldeira.
Mudanças climáticas
Muitos fatores contribuem para o aumento dos preços dos alimentos mais sustentáveis, Thaís Caldeira ressalta a
“O meio ambiente altera completamente o preço dos alimentos hoje também. A gente tem exemplos clássicos, como, por exemplo, o aumento do preço do azeite. Foi causado por um aumento de temperatura que afetou as Oliveiras no Mediterrâneo. O nosso café foi impactado por uma redução de produção de café, por exemplo, no Vietnã, e aqui no Brasil também, que impactou a produção, reduziu a produção, reduziu o acesso e aumentou o preço. Fora isso, a gente tem outros também, a questão de laranjas, por exemplo, vai afetar arroz, como a gente teve, as enchentes no Rio Grande do Sul.”