A exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto que foi utilizado, do tempo de exposição e quantidade de produto absorvido pelo organismo. Estudos apontam que o câncer pode ser desenvolvido pelos produtos tóxicos.
De acordo com a Embrapa, o Brasil consome anualmente mais de 300 mil toneladas de produtos que têm agrotóxicos em suas composições. As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste usam 70% desse montante. As culturas que mais usam agrotóxicos são a soja, o milho, frutas cítricas e cana de açúcar.
Os agricultores e trabalhadores rurais estão suscetíveis devido ao contato direto, porém toda a população pode ser impactada — por meio de consumo de alimentos e água contaminados.
Segundo o INCA, a associação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de câncer ainda gera polêmicas, principalmente porque os indivíduos estão expostos a diversas substâncias, sem contar outros fatores genéticos. Porém, é importante ressaltar que estudos vêm mostrando o potencial de desenvolvimento de câncer relacionado a diversos agrotóxicos, justificando a recomendação de precaução para com o uso e contato.
Formas de exposição
No trabalho:
- Através da inalação, contato dérmico ou oral durante a manipulação, aplicação e preparo do aditivo químico.
- Destacam-se os trabalhadores da agricultura e pecuária, de empresas desinsetizadoras, de transporte e comércio de agrotóxicos e de indústrias de formulação destes produtos.
No ambiente:
- Através da pulverizações aéreas que ocasionam a dispersão dessas substâncias pelo meio ambiente contaminando as áreas e atingindo a população.
- Consumo de alimentos e água contaminados.
- Outra forma é o contato com roupas dos trabalhadores com o agrotóxico.
Riscos e efeitos à saúde
Entre os efeitos crônicos — aqueles aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado — alguns tipos de tumores podem estar relacionados.
Estudos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos. Alguns ingredientes ativos de grande consumo no Brasil, com autorização da Anvisa, considerados carcinogênicos ainda estão ativos. Confira alguns:
Alguns ingredientes ativos de agrotóxicos — possíveis carcinogênicos — com autorização banida pela Anvisa:
- DDT - Inseticida de alta persistência ambiental e/ou periculosidade, carcinogenicidade, distúrbios hormonais.
- ENDOSULFAN - Fungicida e inseticida de alta persistência ambiental e/ou periculosidade; distúrbios hormonais; câncer
- PARATION - Inseticida apresenta neurotoxicidade, câncer, causa danos ao sistema reprodutor
Câncer de mama em agricultoras do Paraná
Um estudo publicado em junho do ano passado na ‘Environmental Science & Technology’, uma das três revistas mais importantes do mundo na área de Ciências Ambientais, apontou que mulheres do campo que vivem no sudoeste do Paraná têm cerca de 60% de chances de desenvolverem câncer de mama e risco de metástase aumentado em 220%.
A região, caracterizada pela agricultura familiar e o uso intensivo de agrotóxicos, possui uma incidência de diagnósticos da doença 41% superior à taxa média do Brasil; o índice de mortalidade é 14% maior.
A pesquisa ‘Exposure to Pesticides and Breast Cancer in an Agricultural Region in Brazil’ foi a primeira realizada com perfil feminino no país. O estudo foi realizado com 758 mulheres, divididas entre expostas e não expostas a pesticidas.
Além das mulheres que trabalhavam no campo, outras que realizavam descontaminação de equipamentos e lavagem de roupas de homens que trabalhavam nos campos, tiveram amostras de urina positivas para glifosato, atrazina e/ou 2,4-D — ativos de agrotóxicos considerados carcinogênicos que ainda são usados no Brasil.
Leia mais:
- Produtores se unem para recolher embalagens de agrotóxicos; entenda a ação
- Apicultor fala sobre o dia a dia da profissão e manifesta preocupação com uso indiscriminado de agrotóxicos
- Minas está entre os estados com água contaminada que representa ‘risco à saúde’
Tem solução ou alternativas?
Como um país grande consumidor de agrotóxicos é difícil minimizar os riscos e impactos à saúde. No entanto, o INCA reforça e incentiva a agroecologia.
A adoção de métodos agroecológicos tem ganhado força no Brasil, principalmente no âmbito da agricultura familiar, na qual produtores buscam maneiras de garantir a soberania alimentar sem comprometer os ecossistemas locais. O uso de insumos naturais e o fortalecimento da biodiversidade são pilares desse modelo, que tem impactos positivos tanto na saúde dos consumidores quanto na redução de emissões de carbono e na proteção dos recursos naturais.
Na prática, a agroecologia proporciona alimentos mais saudáveis e variados à mesa dos brasileiros, contribuindo para o combate à fome e desnutrição, ao mesmo tempo em que impulsiona a economia local. Agricultores familiares encontram na agroecologia uma alternativa viável, reduzindo sua dependência de insumos externos e aumentando a resiliência de suas culturas diante das mudanças climáticas.