Ouvindo...

Apicultor fala sobre o dia a dia da profissão e manifesta preocupação com uso indiscriminado de agrotóxicos

Acelmo contou que muitos produtores desconhecem a quantidade ideal e o momento certo de usar os defensivos o que pode contaminar o mel e seus derivados, tem dizimado floradas e causado a mortandade em massa das abelhas

Dia do Apicultor traz reflexões sobre o preparo do profissional

No Dia do Apicultor, a Itatiaia conversou com um profissional da apicultura - atividade tão antiga quanto a própria humanidade - para saber há quantas anda a profissão e quais são os principais desafios e tecnologias disponíveis. Somente no Norte de Minas, de acordo com a Cooperativa de Apicultores de Bocaiúva (Coopemapi), há cerca de 2500 apicultores.

Acelmo Freire Almeida, apicultor há oito anos, é um deles. Produz, além de mel, cera e própolis e é técnico de campo do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), vinculado ao Sistema Faemg.

Diz que o que mais o gratifica é ver a evolução dos produtores atendidos que passam a ter mais domínio das técnicas de manejo e da gestão do negócio. Por outro lado, Acelmo demonstra preocupação com o uso indiscriminado dos agroquímicos que têm dizimado apiários e causado a mortandade em massa das abelhas.

Como você ingressou na atividade?

Estudei num internato, quando criança, onde havia uma apicultura extrativista. Guardo um encanto pela profissão desde essa época. A apicultura era uma das disciplinas e tínhamos aulas teóricas e práticas. Mais tarde, fiz um curso técnico e voltei ao Norte de Minas para montar meu próprio apiário.

Como é ser instrutor/técnico de apicultura?

É muito gratificante. Ensinamos os alunos a abrirem as colmeias para fazermos uma avaliação de cada uma e das rainhas, suas idades, potencial genético e necessidade de substituições por baixa produtividade. É muito recompensador ver a evolução dos alunos; tirá-los de uma situação de vulnerabilidade para uma de maior domínio da gestão do negócio e com boas perspectivas.

Como ter sucesso como apicultor?

É preciso se profissionalizar e explorar também a produção de cera, própolis, pólen e geleia real. Não dá pra ficar só na produção de mel é um dos produtos mais modestamente remunerados dessa cadeia produtiva.

Quanto ganha um apicultor?

As remunerações podem variar de R$ 3 a R$ 8 mil, dependendo da dedicação e dos produtos explorados.

O apicultor, hoje, tem mais tecnologias do que há dez ou vinte anos? Como evoluímos nesse sentido?

As tecnologias se resumem a soluções simples, mas funcionais. Como, por exemplo, uma régua que a gente adapta para a coleta do própolis, sem expô-lo à sujeira e poeira. Não há muitas novidades, a não ser com relação aos equipamentos de segurança, que tornaram-se muito mais seguros. A malha usada nas roupas estão mais seguras e confortáveis.

Qual é o maior desafio da profissão?

Conseguir terra (espaço) para produzir. Há muito bons apicultores, mas poucos têm propriedade para montar um apiário e desenvolver a profissão. Dependem de doações ou concessões.

E o que é mais preocupante?

O uso dos agroquímicos de forma desenfreada, indiscriminada e irresponsável. Muitos desconhecem a dosagem e o momento correto para a aplicação, afetando as floradas, podendo levar resíduos nocivos ao mel e seus derivados o que é pior, dizimando apiários e causando a mortandade em massa das abelhas.

Leia mais:

Norte de Minas se firma como polo de produção de mel

Pesquisadores do Norte de Minas exaltam a qualidade do Mel de Aroeira, que é antioxidante e antiinflamatório

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.