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Regiões do Brasil ganharão novos inventários de ciclo de vida para pecuária de Leite

Parceria entre Embrapa e IBICT considerará informações específicas em 11 estados

Documento de cooperação para a criação dos inventários foi assinado durante o III Workshop Pecuária de leite regenerativa

As 11 bacias leiteiras mais representativas do país ganharão um inventário de Análise de Ciclo de Vida (ACV) de leite bovino in natura. Realizado pela Embrapa Gado de Leite e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), o documento visa promover maior assertividade à estimativa de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) pela produção de leite no Brasil.

Segundo o pesquisador Tomich, da Embrapa Thierry, atualmente, os inventários disponíveis para o setor, lançados em 2023 abordam dois sistemas semi confinados e um sistema confinado de produção em apenas duas regiões produtoras. “Isso dificulta o direcionamento das ações de mitigação, além de divulgar informações que, em alguns casos, podem penalizar o produtor de leite que se preocupa com a sustentabilidade do seu negócio”, diz Tomich.

A analista Vanessa Romário de Paula, da Embrapa Gado de Leite, participou da equipe de construção dos primeiros Inventário do Ciclo de Vida (ICV) da pecuária de leite brasileira e explica que atualmente as emissões da atividade nos estados são baseadas em estudos que quantificam as emissões associadas ao rebanho total do país. “São dados médios que não consideram as especificidades dos sistemas de produção, a estrutura dos rebanhos, as raças dos bovinos, a genética e a composição da dieta nas diferentes regiões”, continua a analista.

A parceria com o IBICT possui a perspectiva de avançar para todos os estados, mas se iniciará considerando informações específicas em somente 11 (MG, PR, RS, GO, SC, SP, PE, AL, RO, RJ, MS). Segundo explicou a analista, a coleta dos dados será feita in loco com apoio dos laticínios que atuam nos estados. A modelagem dos dados e a construção dos inventários será realizada pela Embrapa Gado de Leite. Já o checklist de qualidade e a validação dos inventários será realizada pelo IBICT.

Os primeiros inventários já estão sendo construídos e, quando concluídos, servirão de referência quanto às intensidades e emissões de gases de efeito estufa em relação à unidade de leite produzido em cada local e tipo de sistema de produção. Além disso, possibilitarão a identificação da contribuição relativa dos itens que compõem as pegadas de carbono do leite que vão embasar e priorizar as estratégias mais assertivas para redução da intensidade dessas emissões.

O documento de cooperação entre as duas entidades para a criação dos inventários foi assinado este mês durante o III Workshop Pecuária de leite regenerativa: Integrando a ciência ao campo, um dos eventos da Jornada pelo Clima da Embrapa.

Metodologia

Para quantificar e compreender os impactos ambientais gerados pela pecuária de leite no Brasil, são realizados inventários que buscam analisar o ciclo de vida completo da produção leiteira, desde a fazenda até o produto final.

Para a ACV do produto, metodologia aplicada para cálculo de pegada de carbono, por exemplo, é necessário a construção do ICV, técnica padronizada internacionalmente. O ICV identifica e quantifica todas as entradas (recursos naturais, energia, água, matérias-primas, etc.) e saídas (emissões para o ar, água e solo, resíduos sólidos, coprodutos etc.) de cada etapa do ciclo de vida do produto. A ACV é a metodologia de referência para avaliação de impacto ambiental no setor de laticínios no mundo.

No caso da pecuária de leite, a ACV permite entender de onde vêm as maiores emissões de GEE, onde há maior consumo de água e quais etapas da cadeia produtiva podem ser aprimoradas para uma produção mais sustentável.

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Jornada pelo Clima

O III Workshop Pecuária de leite regenerativa: Integrando a ciência ao campo fez parte da Jornada pelo Clima, iniciativa da Embrapa para discutir desafios e soluções para uma agropecuária de baixo carbono. Também no workshop foi apresentado o documento de “Orientações para coleta de dados para cálculo de pegada de carbono” disponível no site da Embrapa.

A jornada foi lançada neste ano e está relacionada aos preparativos da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém/PA em novembro de 2025. A ideia é mostrar que a agricultura brasileira, impulsionada pela ciência, não é apenas parte do problema, mas também pode ser parte da solução.

*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.