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Pesquisadores do Norte de Minas exaltam a qualidade do Mel de Aroeira, que é antioxidante e antiinflamatório

Grupo de pós-graduandos, em parceria com outras universidades do estado e do país, trabalham na caracterização de outros méis mineiros

principais tipos de mel, produzidos no Norte de Minas - ainda estão sendo caracterizados

Foram os egípcios que, cansados de se exporem a ferroadas para extrair o mel de colmeias localizadas em topos de árvores e outros lugares de difícil acesso, começaram a criar abelhas em potes de barro ao lado de suas casas. Assim, de forma quase casual, começou a atividade da apicultura no mundo.

No Brasil, hoje, mesmo diante do potencial para se produzir mel de alta qualidade dada a variedade da flora nacional, a apicultura brasileira está longe de ser expressiva no mercado global. De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em 2019 o Brasil ocupava apenas a 12a posição no ranking global.

O professor e coordenador do programa de pós-graduação em Biotecnologia - Mestrado e Doutorado da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros) -Dario Alves de Oliveira explica que os principais tipos de mel, produzidos no Norte de Minas - ainda estão sendo caracterizados e muitos avanços têm sido feitos.

Um dos mais importantes diz respeito ao Mel de Aroeira que, recentemente, recebeu do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o reconhecimento da existência de compostos fenólicos e características medicinais, anti inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas em sua composição. “Além disso ele também recebeu um selo de Indicação Geográfica e de Origem, o que lhe agregou ainda mais valor”.

Curioso é que o professor conta que, até pouco tempo, o Mel de Aroeira era fortemente rejeitado pelo mercado em função de sua cor escura. “As pessoas tendem a querer o mel mais claro porque parece um indicativo de pureza, mas não é bem assim. “O Aroeira tem essa cor amarronzada em função da mistura de seus constituintes. Ele é feito do Néctar da flor e do melato, solução gerada pelos insetos que sugam a planta e depois expelem a substância em forma líquida, proporcionando uma coloração mais escura para o mel e que faz com que ele não se cristalize, como outros méis”, explicou.

Atualmente, a equipe coordenada pelo professor, estuda a caracterização do Mel da Flor de Pequi., o pólen de Aroeira e o pólen do Pau Preto. Já se sabe, por exemplo, que esse mel não tem o sabor forte do fruto. É suave, tem boa atividade antioxidante e bons teores de vitaminas A e C, que são de suma importância para o organismo humano, fortalecendo o sistema imunológico e a absorção de ferro de alimentos”.

Shampoo, condicionador e máscara capilar de mel

A Unimontes desenvolve as pesquisas relacionadas à meliponicultura em parceria com a Coopemapi (Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas), a Universidade Federal de Uberlândia, a UFMG e a USP de Ribeirão Preto. “São inúmeras as possibilidades de pesquisa e desenvolvimento nessa área, inclusive com aplicações cosméticas. Estamos, por exemplo, em processo de registro de patentes de três produtos para os cabelos: um shampoo, um condicionador e uma máscara capilar. “Quem usou, gostou muito. Vem muita coisa boa por aí”, avisou.

Outros méis que à espera de caracterização são: Mel do cipó de uva, mel do café, mel de velame, mel de betônica, mel de copaíba e mel da flor de abacate.


Você sabia?

  • De acordo com o chefe da unidade de Desenvolvimento Territorial da Codevasf, Alex Denier, há cerca de 1800 apicultores registrados, somente no Norte de Minas.

  • Juntos, eles produzem, aproximadamente, mil toneladas de mel por ano, formando um Polo de Apicultura que produz também própolis, cera e pólen.

  • A inclusão do Norte de Minas na Rota do Mel - programa do governo federal criado em 2017 - trouxe recursos e uma carteira de projetos dos quais fazem parte 16 associações e 16 entidades.

  • Outro fator que tem contribuído para o desenvolvimento dos apicultores no Norte de Minas, de acordo com o presidente da Coopemapi, Luciano Fernandes, é a existência de uma Câmara Técnica Regional que discute os gargalos e busca melhorias sistematicamente. “Fizemos uma revolução, aumentamos a produção enormemente e estamos muito mais tecnificados, profissionalizados e organizados”, complementou Denier.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.