O Governo de Minas Gerais promete tirar do papel uma das maiores obras de mobilidade da história da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O projeto do Rodoanel Metropolitano, que quer retirar cerca de 5 mil caminhões por dia do Anel Rodoviário da capital, teve avanços tímidos neste e ainda enfrenta entraves relacionados ao licenciamento ambiental e ao diálogo com municípios impactados pelo traçado.
A promessa inicial do governo Zema era começar as obras ainda em 2024, mas elas não chegaram a sair do papel. A promessa do início da construção da nova rodovia foi renovada para 2025, mas neste ano também não houve máquinas nas pista.
O Secretário de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra), Pedro Bruno, disse à Itatiaia que a obra terá impacto direto na vida de cerca de seis milhões de pessoas, ao reduzir o tempo de deslocamento, melhorar a logística e aumentar a segurança viária.
“Quando a gente tirar mais de cinco mil caminhões por dia do Anel Rodoviário, das grandes avenidas de Belo Horizonte, Contagem e Betim, nós vamos estar salvando vidas”, disse o secretário.
Diálogo com municípios
Um dos principais entraves no projeto ao longo do ano foi a resistência de alguns municípios ao traçado proposto. Betim, que inicialmente manifestou preocupação com os impactos urbanos, afirma ter chegado a um entendimento com o governo estadual após ajustes técnicos. Já Contagem segue questionando o projeto, especialmente por possíveis impactos ambientais na região da Várzea das Flores e pelo corte de bairros densamente povoados.
Mesmo assim, Pedro Bruno diz que houve avanços por meio do diálogo. “A gente conseguiu a adesão do apoio do município de Betim ao Rodoanel e tivemos um diálogo muito proveitoso com a prefeitura de Contagem”, afirmou. Segundo ele, o governo aposta na negociação para fechar o apoio dos oito municípios atravessados pelos cerca de 70 quilômetros da primeira fase da obra.
A prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), reconheceu recentemente a importância do Rodoanel para a região metropolitana, mas reforçou que o município continuará lutando por mudanças no traçado. “Contagem reconhece a necessidade de que se tenha um Rodoanel para que a gente não conviva com o que acontece hoje no Anel Rodoviário, que são acidentes, mortes, um trânsito pesado”, afirmou. Ela defende que a nova via contorne o município, minimizando impactos ambientais e urbanos.
Licenciamento ambiental
Apesar dos avanços, o licenciamento ambiental segue como o principal obstáculo para o início das obras. A licença concedida à empresa responsável foi suspensa pela Justiça Federal, que apontou a ausência de consulta livre, prévia e informada a comunidades quilombolas afetadas pelo empreendimento.
Pedro Bruno explicou que o Estado ainda precisa cumprir etapas legais. “Nós temos agora o licenciamento ambiental, que a gente ainda precisa cumprir com alguns ritos, sobretudo a questão da consulta livre, prévia e informada às comunidades quilombolas”, disse. Atualmente, há uma mesa de conciliação no âmbito do Judiciário, com novas reuniões previstas para janeiro.
O secretário ressaltou ainda que o governo não tem controle total sobre os prazos, mas mantém o esforço para acelerar o processo. “Do lado do Estado vamos ser sempre propositivos, sempre abertos ao diálogo para poder avançar com essa obra que vai trazer tantos benefícios aí para todos os mineiros”, afirmou.
Previsão de início das obras
Mesmo com as pendências, o governo trabalha com o cronograma de começar as obras em 2026. “Uma perspectiva real de início de obra do rodoanel no primeiro semestre”, projetou o secretário. Segundo ele, os projetos de engenharia seguem avançando dentro do prazo, e a expectativa é de que, superadas as questões ambientais e judiciais, as máquinas finalmente cheguem à pista.
O projeto
A empresa itatliana INC S.P.A venceu a licitação em 2023 para assumir a obra e gestão da via. O Rodoanel Metropolitano será uma rodovia “classe 0”, o mais alto padrão técnico, com duas faixas por sentido, acostamento ao longo de todo o trecho e canteiro central expandido. A via terá total controle de acessos para evitar o adensamento populacional nas suas margens.
O projeto conta com o aporte de R$ 3,07 bilhões pelo Estado para a sua implementação e será a maior Parceria Público-Privada (PPP) da história de Minas Gerais. O montante é proveniente do Acordo Judicial assinado com a Vale em decorrência do rompimento da barragem de Brumadinho.