O ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil se filiou ao PDT nesta quarta-feira (15), na sede nacional do partido, em Brasília, em um evento esvaziado, que contou com a presença de poucos parlamentares. Estiveram presentes o presidente nacional do PDT e ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi; a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG); o deputado federal André Figueiredo (PDT-CE); e o líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (PDT-MG). A nomeação ocorre em um momento delicado para a sigla, que está no centro de um escândalo envolvendo um esquema bilionário de fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e considerado “padrinho político” de Kalil, foi ministro da Previdência no governo Lula e teve sua gestão marcada por denúncias de corrupção, fraudes e polêmicas.
Mesmo com o cenário negativo, Kalil tenta se viabilizar politicamente para enfrentar o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), que lidera a disputa ao governo de Minas Gerais em 2026, segundo pesquisa do instituto Real Time Big Data divulgada no dia 8 de outubro.
“O sonho de todo mineiro é ser governador de Minas, né? Então, se nós temos números competitivos, qualquer pré-candidato tem o direito de ser. Quem tem número competitivo em todas as pesquisas tem o direito de ser. Então, se eu tenho partido, se o partido quer e eu tenho número, eu sou pré-candidato”, declarou Kalil.
A Polícia Federal estima que até R$ 6,3 bilhões tenham sido desviados desde 2019 por meio de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas, via associações e sindicatos que cadastravam beneficiários sem autorização, utilizando assinaturas falsas.
Embora tenha negado envolvimento direto nas irregularidades, Lupi foi criticado pela demora em tomar providências diante dos alertas sobre as fraudes. Pressionado, deixou o cargo.
O episódio mancha a imagem da legenda, que agora busca se renovar com a chegada de Kalil como pré-candidato ao governo mineiro, após a derrota na última eleição. O ex-prefeito de Belo Horizonte ficou em segundo lugar, atrás do atual governador Romeu Zema (Novo).
“Não me afastei. Quando a gente perde a eleição, vai pra cama. Queria que eu tentasse fazer o impeachment do Zema? Ou pedalada? Eu perdi a eleição. E o lugar de quem perde eleição é em casa, esperar a outra, fazer o quê? Chorei um pouco e fiquei em casa, né?”, disse Kalil sobre o período em que ficou fora da política.
Durante o evento de filiação, Kalil confirmou ser pré-candidato, embora tenha deixado em aberto se será lançado oficialmente pela legenda. “Candidatura a governo é número”, afirmou, dizendo-se “competitivo” nas pesquisas.
Kalil também procurou afastar o rótulo de esquerda e classificou o PDT como “centro-esquerda”. “Quem quer ser de esquerda no Brasil? Parece que todos estão no governo de esquerda”, ironizou, em tentativa de se desvincular de uma aliança direta com o Palácio do Planalto, sem, contudo, romper com o grupo que o sustenta politicamente.
A articulação foi conduzida pelo deputado federal Mário Heringer, presidente do PDT em Minas, que elogiou a trajetória de Kalil e afirmou que o ex-prefeito “não foge de debate”. Segundo Heringer, o novo filiado é “um nome forte” para enfrentar o senador Cleitinho Azevedo, que lidera as principais pesquisas de intenção de voto.
“Tenho certeza absoluta de que essa posição do Kalil, de segundo lugar, é muito temporária. A partir de hoje, Minas Gerais inteira sabe que o Kalil tem partido, que o Kalil está na disputa e que vem sério para esse jogo. Nós vamos trabalhar muito para que Minas tenha um governador no nível que Belo Horizonte teve de prefeito”, disse o líder do PDT na Câmara.
Apesar do tom otimista, a presença de Lupi no evento e o momento em que o PDT volta às manchetes por causa de irregularidades no INSS levantaram questionamentos sobre as motivações da aliança. A reaproximação do ex-prefeito de Belo Horizonte com figuras históricas e desgastadas do PDT, como Lupi, contrasta com o discurso de independência que marcou suas campanhas anteriores.