O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da COP30, em Belém, nesta quinta-feira (6), reforçou o compromisso do Brasil com a transição energética e o fim da dependência dos combustíveis fósseis. O tom otimista, marcado por apelos à “coragem para transformar a realidade”, contrasta, no entanto, com uma das políticas mais controversas do próprio governo:
Enquanto Lula defende um modelo de desenvolvimento “mais justo, resiliente e de baixo carbono”, a Petrobras mantém uma sonda de perfuração na Margem Equatorial - projeto apoiado por setores do governo, como o Ministério de Minas e Energia, e por parlamentares da região Norte, especialmente do Amapá, que veem na exploração uma fonte estratégica de receita e de financiamento para a transição verde. O tema, porém, está longe de ser consenso dentro da própria gestão.
No Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a proposta é vista com resistência e já provocou impasses públicos entre o Ibama e a Petrobras. Em 2023, o órgão ambiental negou o licenciamento da perfuração, citando falhas nos estudos de impacto e riscos à biodiversidade marinha. Mesmo assim, a estatal reapresentou o pedido, alegando que a atividade pode ocorrer com segurança. Ambientalistas alertam para o risco de desastre em uma área próxima ao bioma amazônico e pouco estudada do ponto de vista ambiental.
Histórico
No mês passado, o Ibama concedeu licença para que a Petrobras realizasse pesquisa exploratória na região, com duração prevista de cinco meses. A empresa busca informações geológicas para avaliar se há petróleo e gás em escala econômica. Lula, em entrevista na última terça-feira (04), defendeu a decisão e afirmou que o processo é apenas uma etapa técnica.
“Se eu fosse um líder falso e mentiroso, eu esperaria passar a COP para anunciar”, disse o presidente, ao afirmar que uma eventual exploração comercial exigirá novo licenciamento.
A situação reforça o dilema central da política ambiental brasileira: liderar o debate global sobre clima enquanto ainda depende de fontes fósseis para sustentar sua economia. Em Belém, a “COP da verdade”, como definiu o próprio presidente, expõe justamente o desafio de transformar discurso em prática.