Nesta quinta-feira (20), ocorreu a primeira apresentação técnica do Protocolo Carne Baixo Carbono durante um painel na AgriZone, a Casa da Agricultura Sustentável da COP30. A iniciativa, lançada também na AgriZone no dia 16, representa um modelo de negócios inédito que alia sustentabilidade, rastreabilidade e valorização econômica da propriedade rural.
De acordo com a calculadora de carbono desenvolvida recentemente pela Embrapa, o protocolo reduziu em 35% a intensidade de emissão de carbono das propriedades já adotantes, em relação à média da pecuária de corte brasileira.
Desenvolvido desde 2018 em parceria entre a Embrapa e a Marfrig (MBRF), a iniciativa envolve um processo de certificação voluntário com foco na redução de emissões e no incremento das remoções de carbono pelo solo.
Validação científica
Durante o painel, o pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo apresentou dados que comprovam a capacidade dos sistemas pecuários de remover carbono do solo em comparação com mata nativa. “Já sabíamos desde 2012, através de experimentos no Cerrado, que pastos bem manejados podem superar a mata nativa na remoção de carbono. Isso também acontece na Amazônia e na Mata Atlântica”, explicou.
A validação do Protocolo Carne Baixo Carbono, realizada entre 2020 e 2023 em fazendas comerciais, como a do Grupo Roncador, em Querência (MT), e a Trijunção, em Jaborandi (BA), gerou mais dados consistentes. Os resultados mostraram estoques de carbono no solo em áreas que adotaram os critérios do protocolo, maiores que os da vegetação nativa.
O protocolo conta com 67 critérios divididos em módulos de conformidades, solo, pasto, animal, terminação intensiva e planta frigorífica. Para iniciar a certificação, o produtor precisa atender apenas 20 critérios mínimos, numa perspectiva de melhoria contínua a cada dois anos.
“O protocolo não é nada complexo, bastante abrangente, e pode ser usado em todos os biomas, exceto nas áreas alagadas do Pantanal. As práticas não estão muito fora do que os produtores já fazem”, destacou Giolo. A ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, com a colaboração da Embrapa Gado de Corte, elaborou um
Expansão para outras culturas
Carina Rufino, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, afirmou que o Protocolo Carne Baixo Carbono é um projeto disruptivo que trouxe um legado muito maior, além do impacto na cadeia da pecuária de corte. Segundo a gestora, o modelo será adaptado para outras culturas. “Em 2026 vamos começar a operar o protocolo de baixo carbono no mercado da soja, com potencial de 30% de redução das emissões e 30% em remoção. Vêm por aí protocolos para sorgo, leite, trigo e milho, dentre outros”, revelou.
A iniciativa já conta com quatro certificadoras credenciadas pela Embrapa e utiliza a plataforma Agri Trace Animal da CNA para rastreabilidade. O protocolo se aplica a áreas consolidadas (não desmatadas após 2008), sistemas pastoris ou agropastoris, com animais de 10 a 30 meses, bem abaixo da média brasileira de 40 meses, em consonância com o padrão “Boi China”.
O protocolo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2, 12 e 13, às diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), à iniciativa internacional 4 pour 1000 (de combate às mudanças climáticas, com foco na importância dos solos para a agricultura e a segurança alimentar) e aos critérios ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês), posicionando-se como uma das principais ferramentas para tornar a agropecuária brasileira parte da solução climática global.