Atropelamento de moradora no local onde será feita Linha 2 do Metrô de BH é tema de audiência na ALMG

Moradora vizinha aos trilhos diz que entulhos de casas demolidas causou acidente no mês passado

Dona de casa que perdeu a perna após ser atropelada participa de audiência na ALMG

Uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) recebeu na manhã desta terça-feira (8) famílias que ainda não foram retiradas da área onde será construída a Linha 2 do Metrô de Belo Horizonte, trecho que vai ligar a região do Barreiro.

O tema principal da audiência foi o atropelamento de Natalice Gomes da Silva, de 49 anos, que teve a perna amputada e uma fratura na coluna ao ser atropelada na linha férrea no último dia 20 de junho. Ela afirma ter escorregado em entulhos de demolição ao tentar atravessar os trilhos, na altura do Bairro Nova Cintra, na Região Oeste da capital mineira.

Jéssica Gomes da Silva, filha de Natalice, denuncia que as empresas que operam as composições que trafegam na linha naquela região tentaram pagar para que Natalice assumisse a culpa pelo atropelamento.

“Eles falaram que iam dar assistência e até hoje não deram. A população que doou uma cadeira de banho para minha mãe, doou uma cama hospitalar, porque ela tem reclamado de dor, está sentindo muita dor nas pernas. Então, eu tive que sair do meu serviço, a minha outra irmã também teve que sair do serviço dela, porque a gente precisa cuidar dela, dar um banho, um remédio. A minha vida virou de cabeça para baixo. Na semana passada, eles estiveram lá, me fazendo uma oferta de R$ 15 mil para assinar o papel, achando que eu não ia ler o papel. Eu li o papel, estava tirando o direito da minha mãe, porque ela tem direito sim, porque a perna dela não vale R$ 15 mil. Isso não está chegando nem um terço do que a gente está gastando com ela”, afirmou Jéssica.

Ela contou que precisou deixar a casa em que morava com a família, pois a demolição de casas no entorno acabou causando danos estruturais em sua residência, o que impossibilitou a permanência no local.

Desapropriação de moradores

A audiência foi solicitada pela deputada Bella Gonçalves (PSOL), que afirmou que o entulho da demolição de casa tem provocado riscos aos moradores que permanecem na região.

“Observamos a ocorrência de demolições de residências e a presença de entulho em vias públicas, decorrentes das obras de expansão do metrô, com sérios riscos para moradores e trabalhadores. Em particular, a situação de Dona Natalícia, que sofreu a amputação de uma perna após um acidente na área da linha férrea, evidencia a urgência da questão”, afirmou a deputada.

A deputada ainda disse que busca a inclusão das famílias restantes no plano de reassentamento, e que o caso de Dona Natalícia deve ser judicializado na busca de indenização.

Em maio, a concessionária Metrô BH e os moradores que vivem às margens dos trilhos assinaram um acordo envolvendo a desapropriação de casas para construção da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte. Pelo acordo, as indenizações terão valor mínimo de R$105.900 mil, podendo chegar a R$ 346.900 mil, com diversas faixas que variam conforme as características de cada imóvel.

Serão impactadas 341 famílias que estão na área de desocupação da Linha 2. Elas receberão indenização, aluguel social e custeio da mudança para o local temporário e, posteriormente, para o imóvel definitivo.

Problema resolvido após acidente

Segundo Poliane Cristina Furtado, liderança comunitária do Vista Alegre III, que representa moradores da região afetada pelas obras do metrô, após o acidente com Dona Natalícia, a retirada dos entulhos aconteceu.

“Iniciaram a demolição das casas, com moradores ainda residindo nas proximidades. As demolições prosseguiam, derrubando uma casa após a outra. Houve casos em que o telhado de uma casa demolida caiu sobre os moradores. Atualmente, os moradores estão sem acesso a água e luz. O acidente com a Natali decorreu do acúmulo de entulho, que obstruía a passagem dos moradores. Após o incidente com a Natalice, que resultou na perda de uma perna, tomaram providências. Hoje, o local está limpo, cercado, irreconhecível, mas isso só ocorreu após a tragédia”, afirmou Poliana.

O que diz a empresa responsável?

Nenhum representante da VLI, MRS ou Metrô BH, que representam a operação de trens no local ou a realização das obras e demolições, compareceu na audiência.

Em nota enviada à Itatiaia, a VLI afirmou que acompanha a ocorrência, e que o valor oferecido à família foi uma ajuda humanitária.

“A VLI acompanha, desde o primeiro momento, os impactos da ocorrência envolvendo a composição de outra operadora que trafegava pelo trecho controlado pela companhia, em Belo Horizonte. A empresa esclarece que o valor ofertado à pessoa envolvida nesta ocorrência tem natureza de ajuda humanitária, e não se relaciona com a responsabilização de nenhuma das partes pelo caso. A empresa reitera o seu respeito com as comunidades onde atua e seguirá tomando todas as medidas cabíveis e colaborando com as autoridades competentes”, diz a nota.

O que diz o Metrô de BH?

O Metrô BH informa que os resíduos sólidos decorrentes das demolições das edificações para implantação da Linha 2 estão sendo gerenciados e contidos na área de projeção das edificações, onde é proibido o tráfego de pessoas. Este resíduo está acomodado em local que não interfere na operação das linhas férreas que circulam na região.

Estamos trabalhando na implantação de sinalização em todos os locais onde há demolição. Cerquites e diversos recursos de comunicação visual estão sendo instalados para informar sobre o risco de transitar nos locais.

O Metrô BH lamenta profundamente o ocorrido e se solidariza com a família da senhora envolvida no acidente. Entendemos a gravidade da situação e o impacto que eventos como esse causam.

Contudo, esclarecemos que o acidente ocorreu na ferrovia de cargas, com uma locomotiva de cargas, fora da área de atuação da nossa empresa. As remoções de famílias realizadas em função do projeto metroferroviário não têm relação com as circunstâncias do acidente mencionado.

Ainda assim, acompanhamos com atenção o desenrolar dos fatos e reafirmamos nosso compromisso com a segurança e o respeito às comunidades do entorno.

Jornalista graduado pela PUC Minas; atua como apresentador, repórter e produtor na Rádio Itatiaia em Belo Horizonte desde 2019; repórter setorista da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

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