Ouvindo...

Tragédia em Brumadinho: atingidos começam a definir uso de R$ 3 bilhões do acordo

A cerimônia marca o lançamento do projeto Piloto do Anexo 1.1, que trata dos projetos e demandas dos atingidos pela tragédia de Brumadinho em 2019

272 pessoas morreram em decorrência do rompimento da barragem em Brumadinho.

Uma cerimônia simbólica no prédio da Procuradoria-Geral de Justiça, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira (5), marcou o início da execução do Anexo 1.1 do Acordo de Brumadinho, firmado em 2021 entre a Vale, o governo de Minas Gerais e as instituições de Justiça (Defensoria Pública e Ministérios Públicos).

O Anexo integra o Programa de Reparação Socioeconômica previsto no Acordo Judicial e prevê a destinação de R$ 3 bilhões para projetos que serão definidos pelas próprias comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão, em 2019.

De acordo com o promotor de Justiça e coordenador-geral do Núcleo de Acompanhamento de Reparações por Desastres do MPMG, Leonardo Castro Maia, o próximo passo é a estruturação dos projetos. “Foi feito um diagnóstico de danos e os atingidos poderão deliberar, a qualquer momento, por modificações e aperfeiçoamentos na implementação do Anexo. Existe uma entidade gestora escolhida e validada por eles, que irá fazer o trabalho de mobilizar as pessoas junto com as Assessorias Técnicas Independentes”, explicou.

Ele detalhou que, no início, serão desenvolvidos os projetos menores e mais simples, para que, posteriormente, os projetos mais complexos sejam executados. A primeira governança será composta por atingidos da chamada “zona quente”, que estão mais próximos do rio e que perderam familiares na tragédia. “As decisões irão partir delas, mas poderemos, sim, apoiá-las, se assim decidirem. O MP irá fiscalizar o cumprimento, de modo que essa mecânica, inclusive de participação, funcione”, disse.

‘Sonhado’ Anexo 1.1

Atingidos dos vinte e seis municípios também acompanharam a cerimônia. A produtora rural Lindaura Prates Pereira, de São Joaquim de Bicas, disse à Itatiaia que, desde que o rompimento da barragem aconteceu, em 2019, grande parte da comunidade dela não conseguiu mais retomar as plantações por conta da lama e dos rejeitos deixados no terreno. “Minha subsistência ficou comprometida — todas as plantações de milho, feijão, amendoim, inhame e banana”, contou.

Lindaura explicou que o Anexo 1.1 é parte de uma história de muitos anos de luta, e que espera que a data fique marcada como uma celebração da batalha “pela sobrevivência”. “No momento do rompimento, tivemos várias famílias doentes, muitos distúrbios mentais, porque usávamos o rio para tudo. Os pescadores, por exemplo, não podem mais pescar, então várias pessoas tiveram depressão, crianças também. É uma devastação muito grande”, afirmou.

Leia também

Em coletiva de imprensa, o procurador-geral de Minas Gerais, Paulo de Tarso, detalhou que o dinheiro destinado à operacionalização das iniciativas, cuja responsabilidade é da Vale, já está previsto em um cronograma próprio de desembolso do Acordo, que já foi celebrado. Ele explicou que o que falta é tornar os projetos propostos efetivos. "É um momento simbólico para celebrarmos, enfim, que esse dinheiro aportado pelas empresas como reparação pelas tragédias de Minas — todas, mas especialmente a de Brumadinho — irá chegar, finalmente, a seu destino final”, disse.

*** Matéria em atualização.

Jornalista pela UFMG com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia desde 2022, atuou na produção de programas, na reportagem na Central de Trânsito e, atualmente, faz parte da editoria de Política.