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‘Não aprendemos nada com Mariana e Brumadinho’, diz Marina Silva ao criticar flexibilização ambiental

Declaração sela tom crítico da ministra em relação ao projeto de Lei Geral de Licenciamento Ambiental, aprovado pelo Senado na semana passada

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva

Após participar da abertura do 33º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, em Brasília, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse em conversa com jornalistas que “se não aprendemos nada com o que aconteceu em Mariana e Brumadinho, não faz sentido flexibilizar o licenciamento”.

A declaração sela o tom crítico da ministra em relação ao projeto de Lei Geral de Licenciamento Ambiental, aprovado pelo Senado na semana passada sob forte crítica de ambietalistas.

O texto unifica as regras de licenciamento em todo o país, extingue o rito tradicional em três fases (prévia, instalação e operação) e institui a Licença Ambiental Especial (LAE) para empreendimentos declarados “estratégicos” pelo Executivo – com prazo máximo de 12 meses para emissão e dispensa de etapas de análise técnica detalhada.

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“Eu espero que, na Câmara dos Deputados, a gente possa ter o tempo necessário para debater esse novo relatório. Porque fazer licenciamento de forma expedita, dizer que não existem impactos diretos ou indiretos que devam ser considerados em determinados empreendimentos, é agir como se a gente não tivesse aprendido nada com o que aconteceu em Mariana e Brumadinho”, disse a ministra.

Marina Silva também foi enfática o expor o ponto do projeto que tira do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) o poder de deliberar sobre projetos de Licenciamento Ambiental, dizendo que transferir a decisão para os estados pode ser ainda mais prejudicial para o meio ambiente.

“E você dizer que não é o Conama que vai definir quais são os regramentos necessários e o que constitui alto, médio ou baixo impacto é criar uma espécie de guerra fiscal entre estados e municípios — onde o nivelamento será por baixo, todo mundo querendo atrair investimentos diminuindo os regramentos ambientais”, avaliou.

Entre os pontos mais contestados estão:

  • Renovação automática de licenças sem nova avaliação de impacto;
  • Ampliação da licença por adesão e compromisso, restrita hoje a atividades de baixo potencial poluidor;
  • Possibilidade de o presidente da República definir, por decreto, atividades isentas de licenciamento;
  • Enfraquecimento de conselhos consultivos, como o Conama, reduzindo o papel de audiências públicas e especialistas.

Para Marina, a unificação de pareceres dos senadores Confúcio Moura (MDB-RO) e Tereza Cristina (PP-MS), costurada às vésperas da votação, resultou em “perdas muito grandes” para a qualidade do processo.

O projeto segue agora para a Câmara dos Deputados, onde deverá passar por comissão especial antes de ser votado em plenário.

“Agilidade não pode significar perda de qualidade ou abrir mão de regras que protegem o meio ambiente”, reforçou Marina.

Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio