O líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), minimizou o clima de indisposição entre o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após uma longa reunião entre os articuladores políticos do Executivo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta sexta-feira (19). O petista recebeu, além de Guimarães, o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), o líder no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e os ministros Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e Rui Costa, da Casa Civil.
Em relação a Lira, Guimarães afirmou que o governo e a Câmara dos Deputados precisam estar alinhados. “Tem que ter sempre sintonia com ele [Lira]. Só fazer um ‘consertinho’ aqui, um ‘consertinho’ ali. Mas, nada que atrapalhe a nossa vontade... E o presidente Lira tem tido essa vontade também...”, declarou após o encontro. Guimarães ainda negou a existência de qualquer crise entre Lira e o Planalto. “O que aconteceu foi a pauta. Desde a votação do Brazão... Mas, tudo dentro da normalidade, nada que signifique crise com o governo”, acrescentou.
A intenção do presidente ao marcar essa reunião para interferir na indisposição entre Lira e o Palácio do Planalto é arrefecer o clima de disputas que pode prejudicar votações importantes para o Governo Federal na Câmara dos Deputados. Uma delas é a PEC do Quinquênio, recém-aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal — aliás, com relação a ela, o presidente também escalou o ministro Fernando Haddad (PT) para tentar frear a votação da PEC, prestes a ser pautada em plenário pelo presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Indisposição com Arthur Lira e ameaças na Câmara dos Deputados
A relação entre o presidente da Câmara dos Deputados e o Palácio do Planalto azedou ao nível mais crítico quando, em 11 de abril, Arthur Lira atacou a atuação do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação entre o Executivo e os parlamentares do Congresso Nacional. “Essa notícia foi vazada do governo. Basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, um incompetente”, afirmou em resposta a repórteres que o questionavam sobre um enfraquecimento de sua atuação diante da decisão majoritária dos deputados de manter a prisão de Chiquinho Brazão — o deputado acusado de mandar matar a vereadora carioca Marielle Franco.
Após o ocorrido, Padilha amenizou a declaração do adversário. O ministro disse que seguiria sem rancor. O presidente Lula, entretanto, dobrou a aposta e, durante uma cerimônia pública, disparou: “só de teimosia, Padilha vai ficar muito tempo [no ministério]”.
Nos bastidores, Lira o respondeu. Em reunião com os líderes das bancadas partidárias da Câmara, deu o recado: iria priorizar as pautas da oposição e o avanço de um pacote contra invasões de terra. E mais: Lira também ameaçou tirar do papel Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que podem desgastar o governo — entre elas, a CPI do Abuso de Autoridade, que mira decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), e, principalmente, o ministro Alexandre de Moraes.