Apesar do silêncio institucional da presidência da República diante dos 60 anos do golpe militar no Brasil, aliados do PT têm destinado cobranças e pressionado o Governo Lula pela recriação imediata da Comissão de Mortos e Desaparecidos — extinta por Jair Bolsonaro (PL) 15 dias antes do fim de seu governo. Em sessão com a presença da viúva do presidente deposto João Goulart, Maria Thereza Goulart, o senador petista Humberto Costa cobrou uma resposta para os 210 brasileiros que permanecem desaparecidos desde os anos de chumbo.
“É importante que o Ministério dos Direitos Humanos recrie a comissão para darmos continuidade às investigações”, afirmou. “O fato de que isto possa melindrar alguns setores é mínimo. Precisamos encarar os fatos e buscar a verdade. É algo essencial para dar robustez à democracia”, acrescentou o senador. O petista ainda cobrou que não haja anistia para os presos no 8 de Janeiro. “Não podemos permitir anistia para esses que tentaram um golpe de Estado no Brasil”, pontuou.
A sessão nesta terça-feira (2) marca o retorno histórico de José Dirceu ao Congresso Nacional. Cassado há 19 anos pela Câmara dos Deputados em meio ao escândalo do mensalão, Dirceu alfinetou o aliado Lula pelo silêncio do Palácio do Planalto frente os 60 anos do início da ditadura militar e se somou à cobrança do senador Humberto Costa. “É um compromisso irrenunciável o esclarecimento sobre os mortos e os desaparecidos na ditadura. A luta pela verdade do que aconteceu”, disse.
O ex-ministro da Casa Civil também afirmou que relutou em aceitar o convite do líder do governo, senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), para vir à sessão. “Desde a madrugada de 1º de dezembro [de 2005], quando a Câmara dos Deputados cassou meu mandato, nunca mais voltei ao Congresso Nacional. Mas, acredito que João Goulart merecia e merece minha presença aqui hoje”, pontuou.
Mortos e desaparecidos. A Comissão Nacional da Verdade listou 191 mortos e 210 desaparecidos em seu relatório final publicado em 2014. A investigação sobre os desaparecimentos e os assassinatos praticados pelo regime militar entre 1961 e 1979 cabia à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada em 1995 e extinta por decreto de Jair Bolsonaro (PL) no apagar das luzes de sua gestão. O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Governo Lula a recriação imediata do colegiado para garantir resposta aos casos ainda não solucionados — entre eles, os desaparecimentos na Guerrilha do Araguaia e os corpos encontrados na Vala de Perus. O petista ainda não cumpriu a recomendação do MPF.