O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, retirou nesta sexta-feira (15), o sigilo de 27 depoimentos colhidos no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe que estaria sendo coordenado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.
Um dos depoentes, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica, disse que o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, ameaçou prender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) caso ele atentasse contra o regime democrático. Bolsonaro teria sido advertido durante reunião dos chefes das Forças Armadas após o segundo turno das eleições presidenciais em 2022.
Segundo Freire Gomes, Bolsonaro apresentou uma minuta que previa a aplicação da Garantia da Lei e da Ordem. Os depoimentos podem desmontar a argumentação da defesa do ex-presidente, que tem afirmado que ele desconhecia a existência de minutas à época.
Mês do Golpe
Apoiadores de Lula afirmam que os depoimentos colocam Bolsonaro no centro da trama golpista. A divulgação dos documentos se dá justamente no mês de março, que marca o início da ditadura militar e do Golpe de 64 no Brasil, que foi decretado no dia 30. Coincidência ou não, as provas testemunhais podem comprometer Bolsonaro. A ação de Moraes pode ser lida como uma tentativa “contragolpe”.
Apesar das buscas e apreensões do mês de fevereiro, no âmbito da Operação Veritati, terem alcançado aliados de Bolsonaro e ele mesmo, que teve o passaporte apreendido, a príncipio, a Polícia Federal não teria elementos para prender o ex-presidente. No entanto, com a divulgação dos depoimentos, o Supremo Tribunal Federal, vai pavimentando um caminho que implica Bolsonaro. Não significa que ele vá ser preso de imediato, mas difunde a informação de que ele teria responsabilidade na trama.
Timing político
Vale lembrar que, mesmo que haja provas, uma possível prisão do ex-presidente tem um timing político. Se for preso muito cedo, além de provocar uma reação em massa de apoiadores, ele pode reverter a prisão e a condenação, a ponto de ser um possível candidato em 2026.
Popularidade
A divulgação dos depoimentos pode minar esse apoio popular de Bolsonaro, pois mostra militares citando uma suposta intenção de golpe. Com isso, vale o raciocínio de que ficam ao lado de Bolsonaro os que não se importam em ser associados à ideia de golpe, mas aqueles que temem repercussões negativas se afastariam. Aos poucos, a imagem do ex-presidente vai sendo desgastada.