O vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), disse, nesta terça-feira (5), não descartar a possibilidade de reuniões com o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo (sem partido), e o secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro (PP).
Gabriel é alvo de um processo que pode culminar em sua cassação e acusou Aro de tentar interferir no Poder Legislativo Municipal. No domingo (3), Gabriel enviou, ao gabinete de Simões, ofício com queixas contra Aro. O vereador pediu uma audiência com o vice-governador para tratar do assunto. À Itatiaia, o secretário descartou ter pedido uma reunião para tratar do assunto e diz que as ações de Gabriel Azevedo são uma “cortina de fumaça” já que ele é o “primeiro presidente da Câmara de BH a responder a um processo por quebra de decoro parlamentar”.
Em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, durante um evento sobre projeto para transformar uma antiga área industrial da cidade em um complexo turístico e cultural, Mateus Simões falou sobre a crise na Câmara de BH.
“Não houve, ainda, pedido de marcação de reunião (por parte de Gabriel). No final do ofício, ele fala sobre a proposta de uma reunião. Podemos até fazer uma reunião. Há, também, parece, um ofício do secretário Marcelo Aro pedindo a mesma coisa. Mas é um tema interna corporis da Câmara Municipal. Para além da questão de eventual processo de apuração de irregularidade praticada por Secretário de Estado e de atuação da polícia, não vejo muito como o Executivo estadual possa querer interferir em uma questão que é do Legislativo municipal. São dois poderes diferentes, mas, nesse caso, mais grave: de duas esferas diferentes. O ponto de contato é pequeno”, afirmou Simões.
No ofício, Gabriel ainda pediu a atuação da Ouvidoria-Geral do Estado no caso.
“Estava fora, em Washington (nos Estados Unidos da América), acompanhando reuniões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) no final da semana. Vi pela imprensa que ele tinha citado o meu nome e recebi, no domingo, dois dias atrás, um ofício da Câmara Municipal, assinado por ele, do gabinete da presidência, pedindo a abertura de procedimentos em relação ao Secretário da Casa Civil. Esse ofício foi encaminhado à ouvidoria, que encaminhou ao Conset, que é responsável por apurar qualquer denúncia contra o primeiro escalão do estado”, pontuou o vice-governador.
Ainda segundo Simões, o pedido do presidente da Câmara por escolta a 14 aliados foi encaminhado à Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).
“Se for concluída a necessidade de proteção, vai ser concedida, como foi o caso recente da concessão de proteção às deputadas estaduais que estavam sofrendo ameaças. A Polícia está sempre muito atenta a isso. A gente atua para garantir que as pessoas sejam atendidas como têm de ser, efetivamente”, assinalou.
Marcelo Aro disse à reportagem que as denúncias feitas por Gabriel Azevedo contra ele são “cortina de fumaça” em meio ao processo que pode levá-lo à cassação.
“O problema do Gabriel não é comigo, ele tenta antagonizar comigo para criar uma cortina de fumaça. Eu não sou vereador. Fui vereador em 2012, quando ganhei a eleição e em 2014 virei deputado federal e hoje sou secretário de Estado da Casa Civil. Então, o problema do Gabriel não é comigo. Ele perdeu a confiança dos colegas dele, porque ele grava as pessoas. Ele tem esse costume. Isso é crime, gravação clandestina é ilegal. Então, ele tem que responder sobre as acusações que estão sendo feitas contra ele”, afirmou.
Embate
O pedido de cassação contra Gabriel foi apresentado pela deputada federal Nely Aquino (Podemos-MG). Na denúncia, ela lista ocasiões em que o vereador teria quebrado o decoro parlamentar, como suposta intervenção na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa da Pampulha e ataques aos colegas Flávia Borja (PP) e Wagner Ferreira (PDT).
Nely, vale lembrar, é componente da chamada “Família Aro”. O nome faz menção ao grupo político sobre o qual o secretário de Casa Civil detém influência.
No domingo, ao enviar o ofício para Simões, Gabriel fez acusações a Aro.
“Diversos vereadores relataram à esta presidência ações para pressioná-los a votar pela abertura do processo de cassação por parte de Marcelo Aro e/ou pessoas ligadas a ele e ao seu grupo”, afirmou.
“Os vereadores relataram intensidade em ligações telefônicas e reuniões para que tais ameaças e constrangimentos fossem feitos, e que também durante a reunião plenária, por diversas vezes, Vereadores da chamada “Família Aro” procederam a ameaças dentro do Plenário, na tentativa de coagir vereadores a mudar seu voto”, emendou.
Posição do Novo
Na reunião plenária dessa segunda-feira, que determinou a abertura do processo que pode culminar na perda do mandato por parte de Gabriel, os três vereadores do Novo — Braulio Lara, Fernanda Pereira Altoé e Marcela Trópia — optaram pela abstenção. Embora seja filiado à legenda, o vice-governador evitou comentar a posição institucional a ser tomada pelo Novo no caso. A agremiação também abriga o governador Romeu Zema.
“É uma decisão do partido. O partido preconiza a separação da administração pública da vida dos mandatários. Então, se existir qualquer conversa nesse sentido, é entre os vereadores e a direção municipal. Eu não participaria disso”, garantiu.