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Análise: expansão dos Brics fortalece posição da China dentro e fora do bloco

Pequim vai usar os ressentimentos dos países membros contra o mundo desenvolvido para projetar seu poder e tentar rivalizar o G7

A expansão dos Brics foi uma vitória da China, que passa a ter uma posição ainda mais forte dentro do bloco e em sua projeção de poder global.

Segunda maior economia do planeta e às voltas com sérias disputas geopolíticas com os Estados Unidos, a China pretende utilizar os vários ressentimentos do bloco ampliado contra o mundo desenvolvido para rivalizar iniciativas do G7, o grupo das grandes e ricas democracias.

Os Brics passam a ser, com a entrada de Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, um grupo com 36% do PIB mundial, ultrapassando o G7.

Pouco interessa aos chineses que os países da lista estejam quebrados ou sejam ditaduras – como ela própria. Respeito aos direitos humanos nunca foi um pré-requisito para o bloco.

A maior parte desse número econômico impressionante vem direto da forte economia chinesa. Num grupo ampliado, o seu poder interno passa a ser ainda maior, já que a posição dos outros membros fica bem mais pulverizada.

Antagonizando os americanos

Cercada de países rivais na Ásia, a China não tinha, antes dos Brics ampliados, um grupo para chamar de seu.

Vai certamente usar todas as oportunidades possíveis para antagonizar os americanos em disputas globais e regionais, onde agora se alinhou formalmente com vários players importantes – especialmente no Oriente Médio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a declarar, em Joanesburgo, onde os líderes se reuniram para decidir pela expansão, que os Brics não pretendem entrar em disputas com o G7, o G20 ou os Estados Unidos.

Mas o governo brasileiro sabe que o grupo ampliado inevitavelmente será usado pelos chineses.

Um diplomata chegou a brincar com o aumento do poder interno da China no grupo, lembrando que se trata de um país que “faz parte do G2, e com pretensões de ser o G1”. Uma observação para lá de pragmática.

O interesse em fortalecer sua posição dentro e fora dos Brics foi a razão que levou o governo comunista de Pequim a pressionar os outros membros originários a aceitar a expansão.

Em determinado momento, os chineses defenderam a entrada de todos os 22 países que se candidataram ao bloco –o que deixaria a lista ainda mais bizarra, com nomes como Belarus, Venezuela e Cuba.

Apoio de Rússia e África

A Rússia, cada vez mais dependente da própria China e em busca desesperada por amigos desde o início da guerra na Ucrânia, foi a primeira a votar pela ampliação.

Mais fraco dos países originários e com uma economia combalida, a África do Sul apostou também no ticket chinês, grande parceiro comercial, e votou a favor. Conseguiu levar para o grupo a Etiópia, outro representante da África subsaariana e o mais pobre membro do bloco ampliado.

Resistência de Brasil e Índia

Índia e Brasil, as duas maiores democracias do bloco, resistiram mais e conseguiram, ao menos, que a expansão fosse mais moderada e seguindo “alguns critérios” –que nunca ficaram claros.

Grande rival regional da China e com várias disputas diretas na fronteira, a Índia talvez seja o país em posição mais estranha dentro dos Brics.

No formação do grupo, na primeira década do século, Nova Délhi acreditava que, dentro dos Brics, a Rússia poderia ajudá-la a conter os chineses de alguma forma.

Desde então, a Rússia se enfraqueceu e a Índia ficou cada vez mais forte economicamente. Hoje, tenta se colocar como beneficiária da disputa entre Pequim e Washington – atraindo, por exemplo, investimentos de fábricas americanas que estão deixando a China.

Com enorme população (que ultrapassou a China este ano) e uma economia em crescimento, a Índia vai apostar cada vez numa diplomacia multidimensional e não alinhada.

Diálogos e influência

Em posição mais fraca, o Brasil vai tentar seguir a mesma linha de independência, buscando fortalecer também o diálogo com Estados Unidos e União Europeia, ao mesmo tempo em que procura ampliar sua influência na América Latina e África.

Para deixar isso claro, o presidente Lula usou o seu discurso inicial na Cúpula de Líderes dos Brics para levantar o tema da guerra da Ucrânia, lembrando que o Brasil tem uma longa tradição de condenar violações da integridade territorial de qualquer país.

A menção à guerra não agradou chineses e, obviamente, russos. Mas foi cuidadosa o suficiente para evitar criticar Moscou diretamente.

Esse malabarismo é um exemplo do caminho pedregoso nessa estratégia pela independência —mas que, de fato, parecer ser a melhor saída.

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