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Deputados se retiram de audiência com presidente da Funed; entenda motivo do protesto

Sala destinada a reunião deixou parlamentares de oposição a Zema descontentes; segundo eles, não houve espaço para a participação de servidores da entidade

Deputados estaduais de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) abandonaram uma audiência pública convocada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para debater a atual gestão da Fundação Ezequiel Dias (Funed), famosa pela produção de soros hospitalares. O caso aconteceu nesta quarta-feira (9). Descontentes com o espaço destinado aos servidores da instituição, que precisaram se aglomerar e se sentar no chão para assistir à reunião, os parlamentares deixaram as dependências de um dos plenários da sede da Assembleia, em Belo Horizonte.

O grupo, composto pelos deputados Lucas Lasmar (Rede), Doutor Jean Freire (PT), Lohanna França, (PV), Beatriz Cerqueira (PT), Bella Gonçalves (Psol) e Leleco Pimentel (PT), optou por conversar informalmente com trabalhadores da Funed que, sem conseguir acessar o espaço destinado à audiência, assistia ao debate em uma televisão instalada em uma área comum do Parlamento. O local é popularmente chamado de “cafezinho” e, além de servir a bebida, conta com mesas e cadeiras destinadas a interlocutores que desejam conversar.

Os deputados abandonaram a audiência antes do início da exposição de Felipe Attiê, presidente da Funed. Lucas Lasmar, responsável por pedir à Comissão de Saúde da Assembleia que convidasse o dirigente da fundação para a reunião, defendeu que o encontro fosse transferido para o Auditório José Alencar, o mais amplo espaço da sede do Legislativo.

“A Comissão de Saúde desnutriu a audiência pública, tirando a oportunidade de o público participar. Então, não é uma audiência pública. Vimos servidores da Funed fora do plenário. Utilizaram o menor plenário da Assembleia, sendo que o maior estava disponível. Houve uma manobra para que essas pessoas não pudessem participar”, disse.

O encontro foi organizado para tratar de possíveis dificuldades operacionais da Funed. Antes de começar a discursar, Felipe Attiê pediu aos parlamentares da coalizão antagônica a Zema que não deixassem o plenário.

“Preparei um trabalho para informar os deputados com todo o respeito e atenção. Vocês são os mandatários de Minas Gerais. Faço um apelo, democraticamente, para vocês ficarem, ouvirem as explicações e poderem fazer o debate democrático aqui”, falou.

Um dos líderes da oposição, Doutor Jean Freire também protestou contra a sala escolhida para abrigar a conversa.

“É um absurdo o que está acontecendo. Isso nunca aconteceu nesta Casa. O auditório José Alencar está vazio - e caberia todo mundo. Qual é o receio dos trabalhadores estarem no mesmo lugar (que deputados e dirigentes da Funed)? O cafezinho está cheio. Há pessoas sentadas no chão”, reclamou.

Governista vê ‘politização’

Ao se pronunciar durante o encontro com Attiê, o deputado Enes Cândido (PP) afirmou que a audiência pública acabou “politizada”. O presidente da Comissão de Saúde, Arlen Santiago (Avante), se pronunciou brevemente sobre o tema.

“A audiência está sendo transmitida no telão da sala do café às pessoas que quiserem ouvir lá”,

Agora, a oposição se articula para uma nova audiência pública sobre a Funed ainda neste mês. A ideia é promover o bate-papo no âmbito da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia. Ao contrário do colegiado de Saúde, o comitê sobre assuntos educacionais é liderado por deputados à esquerda.

A Itatiaia acionou a equipe de Arlen Santiago para obter comentários a respeito das queixas sobre o espaço reservado pela Comissão de Saúde para viabilizar a audiência, mas o parlamentar informou que não vai comentar o caso.

A audiência desta quarta-feira contou, inclusive, com a presença de um representante do governo federal. Rodrigo Leite, ex-vice-presidente da Funed e, atualmente, coordenador-Geral de Serviços, Informação e Conectividade do Ministério da Saúde, também foi ouvido.

“Foi constrangedor para a gente, na qualidade de convidado, saber que os trabalhadores que precisavam ser ouvidos, já que era uma audiência pública, não tiveram acesso àquele local”, pontuou. “Nunca participei de uma audiência pública dessa maneira, em que o público foi impedido de ter acesso”, emendou.

Sem teletrabalho e em busca de soros

A gestão de Felipe Attiê na Funed começou no fim de fevereiro. Dois meses depois, ele decidiu encerrar o teletrabalho, regime de atuação seguido por parte dos técnicos da fundação.

À época, Attiê, que foi deputado estadual, remeteu memorando aos funcionários da instituição e alegou “baixos índices de produtividade”. Segundo ele, ao assumir, se deparou com um cenário de “queda de receita institucional” da Funed.

A fábrica de soros da entidade está fechada desde 2017. A produção de antídotos é considerada a marca da instituição — foi esse o pontapé inicial dado por Ezequiel Dias em 1907, quando o cientista saiu do Rio de Janeiro rumo a Belo Horizonte a fim de encontrar “ar puro” para tratar uma tuberculose.

Apesar do hiato, o governo estadual acredita na possibilidade de retomar a fabricação de soros ainda neste ano.

Neste momento, a Funed se dedica a produzir a Talidomida, utilizada por portadores de hanseníase. As caixas do medicamento são enviadas ao Ministério da Saúde.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.
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