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‘Pizza’ na CPI da Pampulha gera ‘climão’ entre vereadores em grupo de WhatsApp

Flávia Borja (PP), alvo de críticas do presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (sem partido), apontou ‘violência política’ em entrevista dada por ele

Fim confuso da CPI da Pampulha gerou divergências entre vereadores de BH

O término em ‘pizza’ da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa da Pampulha, aberta pela Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), gerou atritos entre vereadores da capital mineira. Falas do presidente do Legislativo, Gabriel Azevedo (sem partido), incomodaram colegas e geraram um bate-boca no grupo de WhatsApp que reúne os integrantes do Parlamento. O caso aconteceu nessa quarta-feira (12).

Alvo de críticas de Gabriel por ter desistido de apresentar o relatório final da CPI da Pampulha, a vereadora Flávia Borja (PP) enviou, ao grupo, mensagem em que aponta “violência política” e “falta de equilíbrio” no discurso adotado pelo presidente. Juliano Lopes (Agir), vice-presidente da Casa, também se manifestou.

“Isso não pode ficar assim! Não adianta pedir desculpas sem se retratar publicamente. Só tinha visto até então o restante da reunião da CPI, quando regimentalmente você perdeu. Isso é um absurdo! Está mesmo questionando a minha fé, meu caráter e minha conduta?? Está questionando os meus atos, sendo que agimos regimentalmente? Que todos aqui possam ver o que você fez!”, digitou a parlamentar. A veracidade da mensagem foi confirmada pela Itatiaia.

As reclamações de Flávia foram feitas após Gabriel dizer, em uma entrevista, que a parlamentar do PP “tem preço na testa”. “Fala de Deus, mas obedece o demônio e serve a quem não tem caráter”, disparou o parlamentar.

O embate gira em torno do término, sem conclusões formais, da CPI que investiga contratos firmados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e empresas chamadas para limpar a Lagoa da Pampulha.

Durante a conversa no grupo, Juliano Lopes chegou a sugerir a convocação de uma entrevista coletiva como forma de retratação pública ante Flávia.

“Como você (Gabriel) disse, todos nós erramos, mas (tenha) consideração às pessoas que te colocaram na presidência. Faça isso. Te peço encarecidamente”, escreveu, declarando ter “respeito e admiração” por Flávia Borja.

Entenda o caso

No início da semana, o relator do colegiado, Braulio Lara (Novo), apresentou parecer solicitando ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pedido de indiciamento de servidores públicos municipais e do secretário municipal de Governo, Josué Valadão.

O relatório de Braulio, contudo, acabou rejeitado pela maioria dos componentes da CPI na terça-feira (11). O presidente da comissão, Juliano Lopes, então, encarregou Flávia Borja de escrever um novo relatório. O texto dela não pedia punições a Valadão. A vereadora chegou a protocolar sua versão do dossiê, mas recuou e pediu que o texto não fosse votado na sessão dessa quarta-

A situação gerou um impasse. Como o prazo de funcionamento da CPI se encerraria às 12h dessa quarta, não houve tempo hábil para que um terceiro vereador fosse designado para escrever mais um relatório. Gabriel Azevedo foi um dos parlamentares a protestar contra a forma como a comissão encerrou os trabalhos.

A reportagem procurou o presidente da Câmara para comentar a discussão no grupo de WhatsApp.

“Uma CPI não poderia terminar sem relatório da maneira que se deu. Isso fez com que outra CPI fosse criada para que o trabalho siga em frente. Quanto à intensidade da declaração, conversei com a vereadora e manifestei-me sobre isso em plenário também”, afirmou.

Gabriel, de fato, se desculpou com Flávia Borja em plenário. Segundo ele, os vereadores formam um “time” que não deve se dividir. Durante o discurso, ele se referiu ao prefeito Fuad Noman (PSD) como “prefeitinho”.

A nova CPI citada pelo chefe do Legislativo já tem o número suficiente de assinaturas para ser criada. O plano é utilizar a segunda comissão para aprovar o relatório de Braulio Lara.

Lucas Ragazzi é jornalista investigativo com foco em política. É colunista da Rádio Itatiaia. Integrou o Núcleo de Jornalismo Investigativo da TV Globo e tem passagem pelo jornal O Tempo, onde cobriu o Congresso Nacional e comandou a coluna Minas na Esplanada, direto de Brasília. É autor do livro-reportagem “Brumadinho: a engenharia de um crime”.
Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.