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Após Gabriel dizer que Flávia Borja tem ‘preço na testa’, vereadora rebate: ‘ataques de ira precisam acabar’

Pano de fundo para o ‘clima quente’ no Plenário da Câmara de BH é retirada de um relatório na CPI da Lagoa da Pampulha

Flávia Borja rebateu declaração do presidente da Câmara de BH no plenário

Vereadores de Belo Horizonte protestaram, nesta quinta-feira (13), contra o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (sem partido). Vestindo camisas pretas, um grupo de parlamentares prestou solidariedade a Flávia Borja (PP). Nessa quarta-feira (12), ela foi alvo de críticas de Gabriel, que a acusou de ter “preço na testa” depois de ter desistido de apresentar um relatório com conclusões a respeito das investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lagoa da Pampulha.

Ladeada por colegas de preto, Flávia Borja foi ao microfone do plenário da Câmara para pedir uma retratação a Gabriel.

“Queria perguntar, vossa excelência, já que o senhor falou que tenho preço na testa: quanto o senhor pagou para que o senhor se sentasse nessa cadeira (de presidente)? Se eu sou a vereadora que tem preço na testa, diga, quanto o senhor me pagou para eu abrir mão das minhas convicções e lhe dar meu voto de confiança para o senhor se tornar presidente?”, falou a parlamentar.

O imbróglio em torno da CPI da Pampulha acontece desde o início da semana, após a comissão rejeitar a primeira versão do relatório final, escrito por Braulio Lara (Novo). Flávia foi designada a escrever uma segunda versão do relatório e chegou a protocolar o documento, mas recuou e pediu que seu texto não fosse votado.

No plenário, nesta quinta-feira, ela revelou ter chorado por causa das falas de Gabriel.

“Esse comportamento de desequilíbrio emocional de rompantes e de ataques de ira precisa acabar nesta Casa. Somos um Parlamento que prima pela boa convivência pacífica na resolução de conflitos. Chega da disseminação do medo, do ódio, da usurpação de poderes delegados e de autoritarismo absolutista”, pediu.

Além de Flávia Borja, Irlan Melo (Patriota), Rubão (PP) e Juliano Lopes (Agir) também opinaram pela rejeição ao relatório de Braulio.

“Quatro pessoas deram seu voto contra. Por que só eu fui atacada? Será que é por que eu sou mulher? Eu não gosto desse papel de achar que eu tenho um papel menor. Nunca usei e não acho nem um pouco que sou inferior. Eu tenho um papel importante, tenho uma cadeira neste Parlamento, mas a única pessoa que foi atacada, fui eu, mulher”, apontou.

Depois de Flávia Borja se pronunciar, Gabriel Azevedo foi ao microfone para se desculpar.

“Errar é realmente humano. Acredito na capacidade das pessoas de reconhecerem seus erros. Quando ontem me reuni com os vereadores ali dentro, pedi desculpas em relação à minha fala. Não só pedi desculpas ali dentro, como vim até este microfone em plenário para dizer, à vereadora Flávia Borja, que o tom que utilizei em relação a ela não deveria ser utilizado”, falou.

Depois, o presidente da Câmara disse ter se “decepcionado” com a colega por causa da CPI da Pampulha.

“Não poderia, de jeito nenhum, ter misturado as questões políticas e locais com uma questão pessoal. Nunca eu poderia ter ofendido minha colega. Infelizmente, aquilo que se passa — e conheço o Regimento Interno — cabe apenas uma retratação. Não tenho como desfazer o que fiz. Tenho como, desse microfone, pedir desculpas”, falou.

Entenda o caso

No início da semana, Braulio Lara (Novo), na condição de primeiro relator da CPI, apresentou parecer solicitando ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pedido de indiciamento de servidores públicos municipais e do secretário municipal de Governo, Josué Valadão.

Com a rejeição, houve a necessidade de um segundo relatório — tarefa que foi designada a Flávia Borja. O texto dela não pedia punições a Valadão. A vereadora chegou a protocolar sua versão do dossiê, mas recuou e pediu que o texto não fosse votado na sessão dessa quarta.

A situação gerou um impasse. Como o prazo de funcionamento da CPI se encerraria às 12h dessa quarta, não houve tempo hábil para que um terceiro vereador fosse designado para escrever mais um relatório. Gabriel Azevedo foi um dos parlamentares a protestar contra a forma como a comissão encerrou os trabalhos.

Discussão em grupo de ‘zap’

Antes do discurso em plenário, Flávia Borja já havia mostrado descontentamento com o tratamento recebido. Nessa quarta-feira, em um grupo de WhatsApp que reúne os vereadores, ela disse ser vítima de violência política.

“Isso não pode ficar assim! Não adianta pedir desculpas sem se retratar publicamente. Só tinha visto até então o restante da reunião da CPI, quando regimentalmente você perdeu. Isso é um absurdo! Está mesmo questionando a minha fé, meu caráter e minha conduta?? Está questionando os meus atos, sendo que agimos regimentalmente? Que todos aqui possam ver o que você fez!”, digitou a parlamentar. A veracidade da mensagem foi confirmada pela Itatiaia.

Juliano Lopes também enviou ao grupo um texto repudiando a postura de Gabriel.

“Como você (Gabriel) disse, todos nós erramos, mas (tenha) consideração às pessoas que te colocaram na presidência. Faça isso. Te peço encarecidamente”, escreveu.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.