A chegada de um bebê transforma a rotina da casa e também afeta os animais de estimação. Para os cães, principalmente os que já eram tratados como “filhos”, a nova dinâmica pode gerar confusão, ciúmes e até comportamentos regressivos.
Por isso, adaptar o pet à presença de um bebê recém-nascido requer planejamento, paciência e cuidado com a saúde e o bem-estar de todos.
Segundo a médica-veterinária Fernanda Fragata, diretora do Hospital Veterinário Sena Madureira, “os cães podem reagir de diversas formas à chegada de um bebê. Quanto mais cedo forem preparados para essa mudança, melhor será a adaptação”.
A recomendação, publicada em entrevista à Revista Crescer, é que os tutores comecem o processo ainda durante a gestação. Antes do nascimento, é indicado acostumar o cão com as novas regras que serão adotadas.
Se ele costumava subir no berço, entrar no quarto ou dormir na cama, por exemplo, esse acesso deve ser restringido com antecedência, para evitar associações negativas com o bebê.
A Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), entidade britânica de proteção animal, orienta que a chegada do bebê seja introduzida de forma gradual e positiva. Isso inclui:
- Deixar o cão cheirar objetos do bebê, como roupinhas ou mantas;
- Reforçar comandos básicos como “senta”, “fica” e “não”;
- Estabelecer rotinas previsíveis de alimentação, passeios e brincadeiras;
- Oferecer petiscos e elogios sempre que o animal se comportar bem perto do bebê;
- Supervisionar todo e qualquer contato entre os dois, mesmo com cães dóceis.
Além disso, a Fiocruz recomenda a vermifugação periódica e a vacinação em dia para todos os animais da casa, como medida preventiva de saúde coletiva.
A higienização correta das mãos após o contato com pets e brinquedos também é importante, principalmente com recém-nascidos.
Respeito aos limites
A aproximação entre bebê e pet deve ser sempre respeitosa e mediada por um adulto. “Mesmo o cão mais gentil pode se sentir ameaçado por um choro alto, movimentos bruscos ou puxões. A supervisão é imprescindível para evitar acidentes”, alerta o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo, em sua cartilha de boas práticas.
Durante os primeiros meses de vida do bebê, muitos cães demonstram curiosidade, o que não deve ser reprimido, mas sim conduzido com carinho e segurança.
À medida que a criança cresce, é importante ensiná-la a não puxar orelhas, invadir o espaço do pet enquanto ele come ou dorme, e nunca tratá-lo como brinquedo.
Estudos do National Institutes of Health (NIH) mostram que a convivência com animais pode trazer benefícios ao desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, estimulando empatia e senso de responsabilidade.
No entanto, esses ganhos só são possíveis em ambientes saudáveis, onde os vínculos são construídos com cuidado e limites bem definidos.
Relação saudável começa com acolhimento e empatia
O nascimento de um bebê não precisa ser sinônimo de afastamento entre tutores e cães. Com acolhimento e treinamento prévio, é possível construir uma convivência harmoniosa e segura.
“A transição exige paciência e dedicação, mas pode resultar em uma linda amizade”, conclui a veterinária Fernanda Fragata.
Caso o cão demonstre sinais persistentes de ansiedade ou agressividade após a chegada do bebê, é recomendado buscar o apoio de um adestrador ou comportamentalista, sempre com orientação veterinária.