Todas as pessoas, em algum momento, fazem isso, é quase natural: descrever cães ou gatos como “culpados” após aprontarem uma travessura ou dizer que o pet “ficou com ciúmes” quando o tutor recebeu visitas. Essa tendência se chama antropomorfização, e é posta em prática quando comportamentos animais são interpretados como se fossem humanos.
Por mais que haja boa intenção e seja uma demonstração de afeto por parte dos tutores, a prática pode distorcer a comunicação real dos bichos e prejudicar o bem-estar deles.
Segundo a American Veterinary Medical Association (AVMA), a atribuição de características humanas a animais “é um risco para a compreensão adequada de suas necessidades, já que culpa e rancor são conceitos humanos, não comportamentos naturais de cães e gatos”.
A antropomorfização muitas vezes abre caminho para a humanização, quando o tutor trata o animal como se fosse uma criança ou adulto. Isso pode se traduzir em oferecer alimentos inapropriados “porque ele pediu com os olhos”, levá-lo a ambientes barulhentos para “socializar” ou forçá-lo a se comportar de forma “fofa” para agradar as pessoas.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), práticas como essas ignoram as particularidades de cada espécie. “É preciso entender que cães e gatos têm formas próprias de demonstrar desconforto, prazer ou medo, e que humanizar pode levar a escolhas equivocadas que afetam diretamente a saúde e a qualidade de vida deles”.
A abordagem Fear Free, criada por veterinários norte-americanos, reforça essa preocupação. Para a entidade Fear Free Pets, “reconhecer sinais sutis de estresse, como bocejos fora de contexto, lamber o focinho repetidamente ou se afastar do contato, é fundamental para reduzir o sofrimento dos pets”.
Ao compreender os animais como eles são, e não como versões reduzidas de humanos, as pessoas estão demonstrando respeito aos animais, fortalecendo o vínculo e garantindo mais bem-estar e dignidade aos pets.
A Itatiaia preparou uma lista com dicas para tutores aprenderem a criar uma convivência mais saudável, com respeito aos limites e à linguagem dos animais:
- Educar-se com fontes confiáveis sobre comportamento animal;
- Observar que cada pet é único, e seus sinais precisam ser considerados individualmente;
- Respeitar quando o animal expressa desconforto, oferecendo espaço e segurança;
- Reforçar positivamente os comportamentos desejados, em vez de punições baseadas em interpretações humanas.