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Entenda os impactos de deixar um gato sozinho o dia todo

O bem-estar dos gatos não depende só da presença constante, mas do cuidado ativo com o ambiente e na forma de se relacionar com o pet

Monitorar comportamentos, enriquecer o espaço e manter uma rotina afetuosa e estável são passos básicos para garantir a saúde emocional dos felinos

Gatos domésticos são conhecidos por sua independência, mas isso não significa que possam ser deixados sozinhos por longos períodos sem nenhum impacto na saúde física e emocional deles.

Os felinos são mais autônomos que os cães, mas também precisam de interação, estímulo e rotina.

O dia a dia de tutores ausentes de casa pode levar a sinais de estresse, ansiedade e alterações comportamentais sutilmente perigosas. O comportamento dos gatos que passam o dia inteiro sozinhos pode mudar com o tempo e comprometer a qualidade de vida do animal.

Segundo a International Society of Feline Medicine (ISFM), o enriquecimento ambiental é um dos pilares fundamentais da saúde felina, e a solidão prolongada pode afetar o bem-estar mental dos bichanos.

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Como a ausência de tutores afeta o comportamento

Deixar um gato sozinho por muitas horas diárias pode levar a:

  • Apatia ou desinteresse por atividades antes prazerosas;
  • Comportamento destrutivo, como arranhar móveis de forma excessiva;
  • Lamidas repetitivas em pontos do corpo (alopecia psicogênica);
  • Vocalizações frequentes ou miados altos;
  • Mudanças nos hábitos alimentares ou de higiene.

De acordo com a veterinária Alice Pires, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “o gato pode internalizar o estresse causado pela rotina solitária, o que se reflete em sintomas como anorexia, agressividade ou comportamento compulsivo”.

A especialista explica ainda que muito tempo sozinho é um fator de risco para distúrbios como cistite idiopática felina, um problema urinário ligado ao estresse.

Como minimizar os impactos da solidão

A solução não está, necessariamente, em ficar o dia inteiro com o animal, mas em tornar o ambiente enriquecido, interativo e adaptado à rotina felina.

Entre as estratégias recomendadas estão oferecer brinquedos interativos em que seja possível esconder alimento; criar prateleiras, esconderijos e locais de escalada; deixar sons ambientes ou músicas calmas ligadas; adotar um segundo gato se houver compatibilidade.

De acordo com a American Association of Feline Practitioners (AAFP), o tutor deve criar uma rotina de brincadeiras antes de sair de casa e ao retornar.

Apesar de alguns gatos lidarem melhor com a solidão, o ideal é que o tutor observe sinais sutis de desconforto, como falta de apetite, miados insistentes ou urina fora da caixa. Nesses casos, o acompanhamento veterinário pode ser necessário.

A ONG britânica Cats Protection alerta que “os gatos são animais territoriais que precisam de estímulos diários para evitar frustração e sinais tênues de sofrimento emocional”.

A entidade também lembra que gatos idosos, filhotes ou com histórico de abandono podem ser ainda mais afetados.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.