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Como agir com responsabilidade ao encontrar um filhote de passarinho caído do ninho?

Intervenção responsável e que respeita o bem-estar animal e as leis ambientais pode salvar uma vida

Contato humano pode causar estresse, hipotermia e até mesmo morte se não for realizado adequadamente

Encontrar um filhote de passarinho caído do ninho é uma situação cada vez mais comum nas cidades, principalmente durante as épocas de reprodução das aves, como a primavera e o verão.

O imediato é resgatar e tentar alimentá-lo, mas por mais bem-intencionada que essa ação seja, pode colocar a vida da ave em risco se não for feita de forma adequada.

De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), muitas vezes os filhotes não estão abandonados, mas em um processo natural de aprendizagem.

“Ao ver um filhote no chão, a população deve, sempre que possível, aguardar e observar, pois os pais podem estar por perto, alimentando-o e estimulando-o a voar”, aponta o Ibama em manual.

Alimentar inadequadamente ou interferir sem necessidade pode causar danos graves à saúde das aves e até mesmo à biodiversidade local.

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Quando e como intervir de forma segura

Se o filhote estiver ferido, exposto a predadores ou em local de risco, como vias movimentadas, a intervenção pode ser necessária.

Nestes casos, o ideal é procurar um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) ou veterinário especializado.

“O contato humano pode causar estresse, hipotermia e até mesmo morte se não for realizado adequadamente”, alerta o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

Porém, em situações emergenciais, como quando não há possibilidade imediata de atendimento especializado, é possível prestar cuidados temporários.

O primeiro passo é garantir um local seguro e quentinho. Filhotes não conseguem regular a própria temperatura corporal e por isso devem ser mantidos em caixas de papelão forradas com papel toalha ou tecido limpo, em ambiente aquecido e sem correntes de ar.

A alimentação costuma ser a etapa mais complexa. Muitas pessoas oferecem alimentos inadequados, como pão, arroz ou leite. A recomendação do CFMV indica: “Nunca ofereça leite, carne crua ou alimentos industrializados para aves silvestres”.

O ideal é utilizar papinhas específicas para pássaros, facilmente encontradas em lojas de produtos veterinários ou pet shops.

Alimentação correta: o que fazer e o que evitar

Para garantir a saúde e o bem-estar do filhote até que ele seja entregue a profissionais especializados, o Manual de Reabilitação de Fauna Silvestre do Ibama, produzido em 2021, dá algumas orientações:

  • Alimente com seringa sem agulha ou conta-gotas, simulando a alimentação natural;
  • Mantenha a papinha morna, próxima à temperatura corporal da ave (cerca de 39°C);
  • Ofereça pequenas quantidades em intervalos curtos, normalmente a cada uma ou duas horas;
  • Nunca dê água diretamente na boca do filhote, pois há risco de aspiração e afogamento.

Além da alimentação, é fundamental manter o filhote limpo e seco. Por isso, resíduos de papinha devem ser removidos com cuidado para evitar infecções.

Busque sempre ajuda especializada

Mesmo com todos os cuidados, o manejo doméstico de aves silvestres deve ser apenas uma medida emergencial e temporária.

A Lei de Crimes Ambientais 9.605, de 1998, proíbe a posse e o transporte de animais silvestres sem autorização, e prevê sanções para quem mantiver esses animais de forma ilegal.

O Ibama reforça: “O destino adequado desses animais é a reabilitação em centros especializados, que avaliarão a possibilidade de devolução ao meio ambiente”.

No Brasil, há diversas unidades dos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) responsáveis pelo acolhimento, tratamento e reintegração de animais silvestres.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.