Diversos tutores de cães já devem ter se questionado: será que posso dar sachê de gato para cachorro?
Muitos acreditam que uma eventual “beliscada” na ração felina não traz prejuízos, mas especialistas alertam que o consumo recorrente pode acarretar sérios problemas de saúde.
“Cada espécie tem necessidades nutricionais específicas, e isso precisa ser respeitado”, afirma a médica-veterinária Karina Mussolino, da Comissão de Nutrição Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), em material oficial.
Os gatos são carnívoros estritos. A dieta deles deve ser rica em proteínas de origem animal e aminoácidos como a taurina, indispensável à sua saúde dos bichanos.
Já os cães, também apreciam proteínas, mas são onívoros e necessitam de uma alimentação equilibrada que inclui carboidratos, fibras, vitaminas e minerais.
“Enquanto a ração para gatos é rica em proteínas e gorduras, a alimentação ideal para cães precisa de uma composição mais balanceada, para evitar sobrecargas metabólicas”, destaca a veterinária Talita Michelucci, da Cobasi, em publicação sobre o tema.
Além disso, a ração felina contém níveis elevados de vitamina A e ácido araquidônico, substâncias que, em excesso, podem provocar intoxicações e alterações hepáticas nos cães.
A longo prazo, o consumo inadequado pode desencadear doenças como pancreatite, obesidade e problemas renais.
O portal do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP) também adverte: “Oferecer alimentos não específicos pode comprometer o equilíbrio nutricional, levando a carências ou excessos prejudiciais ao organismo”.
Risco está no consumo frequente
O maior risco para cães que consomem frequentemente ração úmida para gatos, é a sobrecarga pancreática devido ao excesso de gordura.
“Esse quadro pode evoluir para uma pancreatite, inflamação séria e potencialmente fatal se não tratada rapidamente”, explica o CFMV.
Além disso, o excesso de proteínas sobrecarrega os rins e pode levar à insuficiência renal crônica, principalmente em cães idosos ou já predispostos.
Problemas gastrointestinais, como vômitos e diarreias, também são comuns após ingestão acidental ou em grandes quantidades.
A ração felina também é mais saborosa para o olfato e paladar animal, o que pode reforçar o interesse dos cães e dificultar o controle por parte dos tutores.
Para prevenir esse hábito, recomenda-se que o tutor, em primeiro lugar, separe os ambientes de alimentação. Os comedouros devem estar em locais diferentes da casa ou em alturas inacessíveis aos cães.
Supervisionar as refeições e não deixar ração à vontade, assim como manter as embalagens de ração sempre bem fechadas e fora do alcance são outros dos cuidados básicos.
Também é possível estimular o adestramento e usar o reforço positivo para ensinar o cão a evitar o comedouro do gato.
O que dizem os órgãos oficiais
De acordo com a American Veterinary Medical Association (AVMA), “dietas específicas são essenciais para garantir a saúde e a longevidade dos pets”.
O órgão reforça que dietas inadequadas, mesmo que ocasionalmente ingeridas, podem impactar negativamente o metabolismo animal.
Além disso, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) também reforça, em relatório sobre segurança alimentar de pets, que o fornecimento de alimentos não indicados para determinada espécie pode aumentar os riscos de doenças metabólicas e intoxicações.
No Brasil, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) regulamenta a produção e a comercialização de rações, exigindo que todas as embalagens tragam informações claras sobre a espécie indicada.