A força de trabalho da indústria brasileira está envelhecendo. É o que mostra um estudo recente do Observatório Nacional da Indústria. A pesquisa, conduzida por Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), revela que a idade média dos trabalhadores do setor subiu de 36,5 anos, em 2012, para 38,8 anos, em 2022. O envelhecimento atinge tanto homens quanto mulheres e traz novos desafios para as empresas e para a
Envelhecimento e produtividade
O estudo aponta que o envelhecimento da força de trabalho industrial é uma tendência clara e que continua a se acelerar. A proporção de trabalhadores com 45 anos ou mais, por exemplo, subiu de 26,8% em 2012 para 32,5% em 2022. Na indústria da construção, essa proporção é ainda maior.
Embora a idade avançada possa ser vista como um fator de risco, a experiência dos trabalhadores mais velhos é uma grande vantagem. Por outro lado, a partir dos 45 anos, a capacidade funcional, que é a habilidade de realizar tarefas diárias e de trabalho, tende a diminuir se não houver cuidados adequados. Pesquisas na Europa e na Finlândia indicam que essa capacidade pode reduzir em até 2% ao ano a partir dos 30 anos e de 1,5% ao ano depois dos 45.
Doenças e riscos no trabalho
O envelhecimento do trabalhador também muda o tipo de problema de saúde mais comum. Enquanto os mais jovens sofrem mais com acidentes, os mais velhos lidam com doenças crônicas. O estudo mostra que em 2019, 40% dos homens da indústria entre 40 e 49 anos declararam ter pelo menos uma doença crônica. Para as mulheres da mesma idade, esse número chegou a 58,7%.
As principais doenças relatadas são:
- Dores na coluna ou nas costas: as mais comuns entre homens e mulheres.
- Hipertensão arterial: a segunda doença mais comum, afetando mais os homens.
- Artrites e reumatismos: mais frequentes entre as mulheres.
- Depressão: também mais relatada por mulheres, mas com aumento expressivo entre os homens.
É importante notar que o aumento no número de casos de doenças crônicas pode ser um sinal de que os trabalhadores estão tendo mais
A Pandemia da Covid-19 e seus efeitos
A pandemia da Covid-19 trouxe um impacto significativo para os trabalhadores. Além do risco de infecção, a saúde mental foi bastante afetada. Segundo a pesquisa, a expectativa de vida ao nascer no Brasil diminuiu 4,5 anos entre 2019 e 2021, tanto para homens quanto para mulheres, devido ao excesso de mortes.
A mortalidade afetou mais a população de 60 a 69 anos do que a de 80 anos ou mais. O estudo também destaca que a perda de anos de vida ativa para os homens da indústria quase dobrou por causa da pandemia.
Acidentes de trabalho: um problema persistente
Mesmo com o envelhecimento da força de trabalho, os acidentes continuam sendo um desafio, especialmente na indústria. Em 2020, o setor industrial, que empregava 17,6% da população ativa, foi responsável por 38% dos acidentes de trabalho registrados no INSS. A maioria desses acidentes é de tipo “típico”, ou seja, ocorre no local e horário de trabalho, representando cerca de 83% do total entre 2012 e 2020.
O futuro da força de trabalho industrial
A escolaridade do trabalhador da indústria tem aumentado, o que é um ponto positivo. Entre 2012 e 2022, o tempo médio de estudo dos homens aumentou em 1,4 ano, e o das mulheres em 1,6 ano. Isso pode levar a uma maior produtividade e melhores condições de saúde, permitindo que os trabalhadores permaneçam mais tempo no mercado.
O estudo prevê que até 2035, a população de trabalhadores mais velhos na indústria continuará a crescer, passando de 31,3% para 36,4% entre os homens e de 28,9% para 36,7% entre as mulheres. Esse cenário exige que empresas e trabalhadores se preparem para as mudanças. É necessário que as empresas