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‘Denúncia salva vidas’, reforça Delegada de Mulheres em São João del-Rei

Conforme dados da Sejusp, entre janeiro e abril, foram 195 registros de casos de violência doméstica no município.

Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de São João del-Rei

Nesta semana, um rapaz de 27 anos foi preso ao tentar impedir que a namorada entrasse na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em São João del-Rei, no Campo das Vertentes. Ela queria denunciá-lo por ameaça. Os policiais civis intervieram, ele tentou fugir e foi preso. Após o flagrante ser ratificado, o autor foi para o sistema prisional.

Este não é um caso isolado. Como recorda a titular da Deam, delegada Bruna Carla Alves, em entrevista à Itatiaia, outros dois homens também acreditaram que poderiam ameaçar as ex-companheiras à porta da Polícia Civil, mas foram presos em flagrante em rápida resposta das autoridades.

“Infelizmente, têm sido recorrentes os casos em que agressores seguem as vítimas até a unidade policial. No mês de março, o ex-companheiro abordou a vítima no momento em que deixava a delegacia, após registrar ocorrência por ameaça e perseguição. Um caso também bastante emblemático ocorreu em 2023, quando a vítima se encontrava na delegacia solicitando medidas protetivas de urgência. Naquele momento, o ex-companheiro ligou para ela e, mesmo ciente de que ela estava na unidade policial, passou a ameaçá-la de morte. A equipe da Deam conseguiu ouvir as ameaças, pois o telefone estava no viva-voz. Imediatamente, realizamos diligências e conseguimos localizar o autor, sendo ele preso em flagrante. Esses episódios evidenciam não apenas a audácia dos agressores, mas também a importância da atuação rápida e eficiente da equipe policial”.

A delegada Bruna Carla Alves lembrou que este comportamento é evidência contundente do risco a que a vítima está exposta. Com a ação da Deam, os fatos podem se voltar contra o acusado.

“Esse comportamento dos agressores evidencia que eles estão dispostos a tudo para silenciar a vítima, além de deixar claro que a integridade física e psicológica das mulheres está de fato em risco, o que reforça a velocidade dos relatos de violência. A conduta dos autores nesses casos justifica de forma ainda mais contundente a necessidade de manutenção da prisão. Nos três casos citados, os investigados não foram liberados na audiência de custódia e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva. Essas ações também podem ser interpretadas como tentativa de coação no curso do processo, o que configura crime autônomo e pode agravar a pena”.

Ouça a matéria com Joubertt Telles

Imagem ilustrativa - Vítima de violência doméstica

Quebrar o ciclo da violência doméstica

Conforme o levantamento da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais, entre janeiro e abril de 2025 foram 195 registros de violência doméstica e familiar em São João del-Rei. Os casos englobam como agressão, ameaça, lesão corporal, coação, perseguição, perturbação do trabalho, furto, calúnia, descumprimentos de medidas protetivas, dano, difamação, violação de domicílio.

A delegada Bruna Carla Alves destaca que a violência doméstica tem muitas faces antes de chegar a um feminicídio tentado ou consumado. Por isso, acionar as autoridades faz toda a diferença para quebrar este ciclo e evitar tragédia.

“A violência doméstica costuma se manifestar de forma gradual, passando por diversas fases antes de chegar ao extremo. Muitas vezes começa com agressões verbais, controle excessivo, ciúmes, humilhações e ameaças. Quando essas violências não são interrompidas, a tendência é que evoluam para agressões físicas mais graves, podendo culminar em feminicídio. Por isso, pedir ajuda é o primeiro e mais importante passo para romper o ciclo da violência. Ela dá início a um processo de proteção e empoderamento, e é dever do Estado garantir à ela segurança, acolhimento e justiça. A denúncia salva vidas, e quanto mais cedo ela ocorrer, maiores são as chances de evitar o agravamento da situação”.

Como denunciar e pedir ajuda

Em muitos casos, a vítima teme fazer a denúncia, diante da situação que enfrenta e por medo do que pode acontecer com ela ou pessoas próximas. Por isso, a titular da Deam, delegada Bruna Carla Alves, reitera a importância da pessoa não desistir de acionar as autoridades.

“É fundamental que as vítimas se mantenham firmes e busquem ajuda, pois isso pode salvar suas vidas. Entre 2023 e 2025, nos casos de feminicídios tentados e consumados ocorridos em São João del-Rei, nenhuma das vítimas possuía medidas protetivas. Quando a mulher procura ajuda, ela aciona toda uma rede de proteção, que pode oferecer acolhimento, acompanhamento psicológico, medidas protetivas, afastamento do agressor, além da responsabilização criminal”

Em São João del-Rei, as vítimas podem denunciar:

  • Diretamente na Deam, na rua São Francisco, 78, Bairro Fábricas;
  • telefone da Deam: (32) 3379-1080, podem ser esclarecidas dúvidas e feitas denúncias anônimas.
  • Chame a Frida: é possível fazer agendamento prévio pelo (31) 98489-3468. O aplicativo também permite o envio de denúncias, inclusive de forma anônima, sendo garantido o sigilo sempre que solicitado.
  • Disque 180 da Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24h e pode orientar sobre como proceder em casos de violência.
“Sabemos que o medo, a vergonha e a dependência emocional financeira dificultam esse processo, mas é importante que a vítima saiba que não está sozinha. Há profissionais preparados para acolhê-la e apoiá-la desde o primeiro contato”, afirmou a delegada.

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Natural de Juiz de Fora, jornalista com graduação e mestrado pela Faculdade de Comunicação da UFJF. Experiência anterior em Rádio, TV e Internet. Gosta de esporte, filmes e livros. Editora Web em Juiz de Fora desde 2023.