Uber vai solicitar selfies de passageiros que quiserem pagar em dinheiro Uber expande opção “Prioridade” em busca de passageiros que pagam mais
De modo geral, a companhia se aproximava de primeiros-ministros, presidentes, bilionários, oligarcas e empresários de comunicação. Na França, por exemplo, obteve de Emmanuel Macron, então ministro da Economia do país, a promessa de alterar leis para beneficiar a empresa em junho de 2015. Meses depois, ele assinou legislação para regulamentar o cadastro de motoristas na empresa.
Já Neelie Kroes, que era comissária da União Europeia, negociava sua entrada no conselho consultivo da Uber enquanto ainda estava no posto. Depois, passou a fazer lobby para a empresa informalmente antes de se juntar à equipe. Esse comportamento teria contribuído para influenciar várias nações europeias a mudarem suas leis para aceitar o transporte por aplicativo.
Da economia criativa à violência
Quando foi lançada, a Uber se apresentava como uma empresa de economia criativa: em sua plataforma, pessoas comuns poderiam dar caronas umas para outras. Quando o negócio começou a crescer, foi preciso profissionalizar o serviço — que, a essa altura, passou a incomodar diferentes categorias do setor de transportes, como os taxistas.
As técnicas de crescimento incluíam o desligamento total dos sistemas de computadores da empresa em um escritório de Amsterdã durante uma inspeção “para impedir que as autoridades investigassem as práticas da companhia”, ataques violentos a motoristas e um manual que informava para nunca deixar os reguladores em paz — uma forma de influenciar os técnicos a favorecerem a companhia.
Bélgica, Holanda, Espanha e Itália são alguns dos países em que os motoristas parceiros eram incentivados a denunciar violência sofrida à polícia. E as represálias na Europa eram constantes, uma vez que os taxistas os viam como ameaça. Segundo a investigação, “em alguns casos, a Uber reagia rapidamente para capitalizar sobre os ataques aos motoristas” em busca de apoio regulatório e público. Os executivos da empresa sabiam que infringiam as leis: um deles chegou a comparar a Uber a piratas.
Nairi Hourdajian, head global de comunicações, disse a um colega em 2014: “Às vezes temos problemas porque, bem, somos completamente ilegais”. Em 2016, Travis Kalanick, cofundador da empresa e seu ex-CEO, teria dado ordens a funcionários na França para incentivarem motoristas parceiros franceses a participarem de manifestações de taxistas. A ideia era manter a controvérsia para pressionar o governo francês a adotar políticas em favor do aplicativo. “A violência garante o sucesso”, teria dito ele em 2016.
O que diz a Uber
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Segundo a corporação, isso levou a ações judiciais, investigações governamentais e dispensa de executivos. “Quando dizemos que a Uber é uma empresa diferente hoje, queremos dizer literalmente: 90% dos atuais funcionários entraram depois que Khosrowshahi se tornou CEO”, informa o comunicado. As descobertas se comparam às do Arquivo Facebook (Facebook Papers), sobre estratégias questionáveis da Meta em relação a resultados de pesquisas, propagandas e outras atividades.
Já Kalanick nega as acusações. Devon Spurgeon, sua porta-voz, diz que ele “nunca sugeriu que a Uber se aproveitasse da violência às custas da segurança de seus motoristas”. Segundo ela, Kalanick “nunca autorizou ação ou programa que obstruísse a justiça em nenhum país”.