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Sobrinho de Dilma, filho de ex-prefeito e ‘nova’ Bim: parentes de políticos vão tentar chegar à Câmara de BH

Pré-candidatos a vereador na capital mineira herdam de familiares o gosto pela política e já começam a se movimentar em busca de um dos 41 assentos no Parlamento Municipal

Corrida pelos 41 assentos da Câmara de BH começa formalmente em agosto

Em meio à acirrada disputa pelas 41 vagas na Câmara Municipal de Belo Horizonte na legislatura que começa em 1° de janeiro do ano que vem, pré-candidatos já começam a lançar mão de trunfos para se sobressair na corrida eleitoral. Enquanto alguns apostam em estratégias como a proximidade a um bairro, categoria profissional ou bandeira social, há, também, os que têm o “espólio” familiar como uma de suas alavancas.

É o caso de pré-candidatos como Pedro Rousseff (PT) e Emanuelle Santos, a Manu Bim, do Avante. Os mais atentos à conjuntura política podem identificar, de primeira, os “DNAs” de ambos. Pedro é sobrinho-neto da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Manu, por sua vez, é filha do deputado estadual Bim da Ambulância (Avante), que concilia as atividades parlamentares à fama gerada por vídeos virais publicados na internet.

Além de Pedro e Manu, a eleição para a Câmara Municipal deve ter outros “herdeiros” políticos. O quadro de filiados ao Solidariedade, por exemplo, conta com Rodrigo Célio de Castro, filho do médico Célio de Castro (PSB), que foi prefeito de BH entre 1997 e 2001.

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Com 18 anos recém-completados, Manu Bim não esconde a intenção de trilhar os passos do pai. Além de confirmar a pré-candidatura ao Legislativo municipal, ela, assim como Bim da Ambulância, utiliza roupas que remetem aos socorristas de unidades móveis de saúde — chamadas por ela de “camburão de bênçãos”.

“A decisão (de entrar para a política) foi tomada quando me sensibilizei, na campanha do meu pai, aos meus 10 anos, e senti que era algo para mim. (Foi) uma conexão que não consigo descrever. Hoje, maior de idade, vejo que é por vocação”, diz, à Itatiaia, ao explicar a decisão de entrar para o mundo político.

‘Dilminha’ e ‘Pedrinho’

Acostumado a visitar o Palácio da Alvorada nos tempos em que a tia-avó era presidente da República, Pedro Rousseff também começou a nutrir apreço pela política nos tempos de escola. À época, Dilma enfrentava processo de impeachment que culminou em seu afastamento do governo federal.

Pedro, que chama a tia de “Dilminha” — e, em troca, recebe o diminutivo “Pedrinho — diz que a ex-presidente é sua “conselheira” política.

“Ela é quem, realmente, me dá o direcionamento quando eu preciso. É um carinho que também é muito duro, porque ela não tem muitos rodeios, fala a verdade nua e crua. É o amor pela dor muitas vezes, porque, às vezes, vou conversar com ela e não é muito aquilo que eu quero ouvir, mas ela fala a verdade e eu tenho de aguentar. Não tem jeito”, aponta.

Dilma é, desde o ano passado, a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês). A instituição, também chamada de Banco dos Brics, foi criada para apoiar ações de desenvolvimento dos países do bloco econômico, liderado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Por causa da atuação nos Brics, Dilma tem vivido em Xangai, na China, sede do banco.

Heranças do ‘Doutor BH’

Rodrigo Matta de Castro estava embarcado em uma plataforma de petróleo quando, em 2001, recebeu a notícia do Acidente Vascular Cerebral (AVC) do pai, então prefeito de Belo Horizonte. Filho de Célio de Castro, ele reconhece que carregar o nome do pai pode ser um diferencial na disputa eleitoral, mas garante que sua pré-candidatura pelo Solidariedade é fruto de anseios coletivos.

“Doutor Célio de Castro sempre foi uma pessoa respeitosa, que soube ouvir, falar e escutar. Ele escutava Belo Horizonte. O que ele trouxe para BH foi o que aprendeu com a medicina: escutar, ouvir as ansiedades, da mesma maneira que fazia com os pacientes. Em uma possível pré-candidatura, o nome, sim, pesa muito, mas os valores pesam muito mais”, analisa.

A experiência nos consultórios médicos fez com que Célio de Castro ganhasse o apelido de “Doutor BH”. Rodrigo diz que o pai tinha a ponderação e o diálogo como marca de sua atuação política e quer lançar mão da mesma ideia.

“Se a gente não souber respeitar as diferenças e opiniões, é melhor não mexer com política. É imprescindível que a gente tenha essa calma, tranquilidade e ponderação”.

Bandeiras próprias, apesar do parentesco

A participação de parentes de lideranças políticas nas instâncias legislativas do Brasil é vista, inclusive, no mais importante posto da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), é filho do ex-senador Benedito de Lira, do mesmo estado.

Um levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) apontou que, após a eleição de 2022, sem considerar eventuais mudanças relacionadas a posses de suplentes, o Congresso Nacional passaria a contar com 205 parlamentares com parentes na política. Os dados apontavam 184 deputados federais e 21 senadores integrando a “bancada da família”

Em que pese os laços de sangue com políticos já estabelecidos, Manu Bim, Pedro Rousseff e Rodrigo Célio de Castro levantam bandeiras próprias.

Além da saúde, carro-chefe do mandato do pai, Manu quer propor políticas públicas voltadas às juventudes, ao esporte e à cultura.

“O fato de ser filha do Bim da Ambulância aumenta ainda mais minha responsabilidade e a cobrança sobre minhas tomadas de decisões, posições e trabalho. A maior ajuda será eu dar um retorno para meu pai, mostrando que ele é uma inspiração”, considera.

Pedro, por sua vez, diz que representantes do PT nos cargos eletivos precisam lidar com o combate às desigualdades.

“Falta, em Belo Horizonte, falta, em Minas Gerais, quem cuida de quem mais precisa. Quem mais precisa, precisa de mais saúde. A mãe tem de ter condições de deixar o filho na escola com segurança e qualidade de ensino. A mãe tem de ter onde morar. Não existe cidade se as pessoas moram na rua ou não têm onde morar, penduradas com aluguel - que, em BH, está disparando”, opina.

Já Rodrigo Célio de Castro lista pautas que, segundo ele, estão associadas à promoção da saúde.

“A primeira bandeira é a saúde, tão bem avaliada no governo, que o Hospital do Barreiro leva o nome de Hospital Doutor Célio de Castro. Além disso, temos educação, alimentação e saneamento, diretamente ligadas à questão da saúde”, indica.


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Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.